Brasileiro que visitou todos os países em tempo recorde parte para nova aventura pelo mundo

Anderson Dias passou por todos os Estados do mundo reconhecidos pela ONU em 543 dias e agora, durante a pandemia, segue com nova viagem

Um dos cliques de Anderson na Nicarágua, país na América Central
Um dos cliques de Anderson na Nicarágua, país na América Central Acervo pessoal

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“Viajar não é coisa de rico. É coisa de quem tem coragem”. As falas de Anderson Dias, primeiro brasileiro a conhecer todos os 196 países do mundo reconhecidos pela ONU em tempo recorde, soam como um incentivo para ele mesmo e aos viajantes determinados a desbravarem os mais longínquos cantos da Terra.

Em 2018, aos 25 anos, Anderson saiu de Recife (PE) e visitou todos os Estados soberanos do mundo em 543 dias, ou, mais precisamente, em um ano e 178 dias, sendo o humano mais rápido a realizar o feito. Ele superou o recorde da norte-americana Taylor Demonbreun, que completou a mesma viagem em 554 dias no mesmo ano.

Durante esta primeira viagem, ele dormiu nas ruas de Barcelona, curtiu uma festa com Neymar e outros jogadores famosos em Paris, atravessou a pé e sozinho a fronteira do Afeganistão – um país em guerra -, quase foi preso na Líbia e ainda foi deportado da República do Congo.

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Tantos perrengues, aventuras e lugares incríveis puderam ser acompanhados em tempo real por seus seguidores no perfil do Instagram @196sonhos. Agora, um ano e cinco meses depois que foi ovacionado por familiares e fãs na porta do desembarque do aeroporto do Recife com o recorde quebrado, Anderson partiu para uma segunda aventura ao redor do mundo.

Desta vez, a proposta é diferente. A viagem começou no fim de maio na Costa Rica, cujas fronteiras estão abertas para brasileiros, e de lá foi para Nova York tomar a vacina contra a Covid-19. “Será uma viagem sem pressa, sem muitos planos. A gente espera que em até cinco anos termine todos os países”, afirma Anderson, que viaja acompanhado do colega Lucas Costa, que também já deu uma volta ao mundo.

A primeira volta na Terra

Nascido em Salvador (BA), mas radicado em Caruaru (PE), o pernambucano de coração tem origem humilde e chegou a vender capinhas nos ônibus de Recife para juntar dinheiro. A empreitada deu certo, fez um intercâmbio para a Europa por seis meses e voltou para o Brasil, onde fundou sua própria empresa.

Sua vontade de ser uma espécie de desbravador, dando a cara a tapa, como ele mesmo gosta de explicar, veio desde muito cedo. “Quando comecei a assistir a novela América [TV Globo], aquilo me fez sentir que eu não pertencia a um só lugar. Naquele momento senti um incômodo muito grande para poder viajar o mundo, só que eu não sabia o que era, era muito novo”, recorda. Em 2018, já não estava mais satisfeito com a mesmice e decidiu se arriscar.

Com a mala pronta, dinheiro e celular nas mãos, ele saiu do Brasil em maio daquele ano para dar início a aventura que mudaria sua vida. Primeiramente, Anderson foi de país em país pela América do Sul, passando por todos os continentes até chegar na África. Antes de pisar novamente em terras brasileiras, em 24 de novembro de 2019, seu último destino foi Cabo Verde, arquipélago vulcânico no noroeste africano.

Anderson Dias em Cabo Verde
Anderson Dias no aeroporto de Cabo Verde após quebrar o recorde mundial (Foto: reprodução/Instagram)

Ele saiu e voltou ao Brasil carregando uma mochila de costas, que deixou o país com cerca de 12 kg e retornou com 8 kg. “Voltou mais leve porque fui deixando coisas no caminho. Quando você faz uma viagem dessas não pode se apegar e não pode trazer presentinho, tem que pensar nas suas costas”, brinca.

Planejamento

O dinheiro para viajar pelo mundo veio da venda de sua empresa e de seu carro, mas, ao percorrer tantos países em pouco tempo, o financeiro foi apertando. Foi aí que ele passou a monetizar seu perfil no Instagram e a se sustentar como um influenciador digital novato.

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Anderson Dias na Muralha da China
Anderson na Muralha da China, uma das sete maravilhas do mundo moderno (Foto: acervo pessoal)

Através de stories e posts, os seguidores foram aumentando – hoje já acumula mais de 1,1 milhão deles – e todos puderam acompanhar os deslocamentos do nordestino, uma das provas que usa para legitimar sua façanha.

O objetivo da viagem era conhecer o maior número de países no menor tempo possível, o que, aparentemente, necessita de um bom planejamento. Mas não no caso de Anderson: o planejamento para a viagem de 543 dias não durou mais do que três semanas. A vontade de sair pelo mundo era tanta que a execução era o fator mais importante.

Países traçados e hotéis reservados? Nada disso. Ele conta que decidia qual o próximo país no guichê das empresas e que, na maioria das localizações, ficou hospedado em hostels ou Airbnb – mais em conta e que possibilitam trocas de experiências com outros indivíduos.

“A maioria das pessoas tem sonhos, desejos e planos, mas a grande maioria não os põem em prática. Muitas vezes tem aquele sonho que está na gaveta esperando a hora certa. A hora certa não chega nunca! Nunca o dia vai ser perfeito ou a pista vai estar sem trânsito, sempre vai ter uma variável. É aí que vou na vida, isso pra mim é o que me faz sentir vivo”, categoriza.

Burocracia

Segundo o Itamaraty, portadores do passaporte brasileiro estão isentos de visto para viajar a turismo a mais de 150 países do mundo. Para aqueles que necessitam de visto, Anderson utilizava algumas artimanhas. “Sempre existia uma saída para tirar o visto”, revela.

“O mundo é menos burocrático do que a gente imagina que ele seja”. 

Ele conta que, enquanto visitava um país, já comparecia à embaixada do próximo território que pretendia visitar para tirar o visto. Quando necessário, explicava sua condição, o que os fazia abrir exceções. “As embaixadas estão ali para dar um suporte para pessoas que estão querendo entrar naquele país. O papel delas não é dificultar sua entrada no país, se você demonstrar que tem boas intenções”.

Para (tentar) não passar apertos de um país para outro, o nordestino sempre carregava consigo mil dólares mais 600 de emergência. Mas como ele se virava com as moedas locais? A salvação era recorrer às casas de câmbio. “Todo lugar que eu chegava tinha uma casa de câmbio. Inclusive, o Brasil é um país onde elas não são tão acessíveis, você tem que procurar bem para achar uma”, alega. Chips de internet e wi-fi nos aeroportos também o ajudavam na comunicação e a manter seus seguidores informados de suas andanças.

“Eu tinha uma impressão que o mundo era muito mais arcaico do que ele é. Viajando descobri que ele está muito globalizado e que há muitos problemas realmente humanos, e não mais por tecnologia”, arremata o viajante.

Acolhimento e perrengues

Para além de lugares paradisíacos e posts de dar inveja nas redes, jogar-se em uma aventura como essa desperta medo e a adrenalina do desconhecido. Porém, certos países receberam o viajante muito bem, justamente pelo fato dele ser brasileiro.

Um deles foi Irã. “As pessoas tem uma ideia de que é um país terrorista, que está em guerra, mas na verdade foi um país muito acolhedor”, relembra Anderson, que emenda que a Síria também o acolheu de forma bem hospitaleira. “O Brasil tinha e tem ainda uma fama muito boa. O fato de eu ser brasileiro me abriu muitas portas”, conta.

Anderson Dias na Tunísia
Anderson em frente ao Anfiteatro de El Jem, na Tunísia, em 2019 (Foto: acervo pessoal)

Como toda grande viagem, obstáculos estiveram presentes em sua trajetória – e eles não são nada básicos. Alguns exemplos narrados por Anderson são:

– Entrar armado no Iêmen com uma AK47;
– Cruzar a fronteira militarizada do Afeganistão sozinho e a pé;
– Quase ser preso na Líbia por entrar com dinheiro da Tunísia (a importação de moeda tunisiana é proibida);
– Ser deportado da República do Congo. “Me bateram, levaram meu passaporte, embaixador me ajudou no aeroporto”;
– Dormir na rua em Barcelona.

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Segunda aventura

Provando que é possível dar a volta ao mundo duas vezes em uma mesma vida, a nova viagem de Anderson terá outro propósito: o objetivo é conhecer mais a fundo a cultura local e mergulhar naquilo que cada país tem a oferecer.

O nordestino deu o pontapé inicial no fim de maio na Costa Rica. Por lá, ele e o colega Lucas Costa já passaram cinco horas caminhando para chegar na boca do vulcão ativo Rincón de la Vieja, enfrentaram chuva ácida e caminharam lado a lado das nuvens. “Um dos dias mais exaustivos da minha vida”, escreveu na legenda de uma publicação com um largo sorriso no rosto.

Anderson Dias na Costa Rica
Anderson no topo do vulcão Rincón de la Vieja, na Costa Rica, em 2021 (Foto: acervo pessoal)

Após a quarentena na capital San Jose, eles seguiram para Nova York, onde, além de visitar novos locais, Anderson tomou a vacina contra a Covid-19, tudo relatado em suas redes sociais e no canal do YouTube Bold Souls. “Sempre penso que a minha viagem é um negócio, é um trabalho. Meu canal também é uma fonte de informação, deixando isso claro para as pessoas para não ser julgado”, explica.

Com a pandemia, a meta de viajar para todos os países do mundo ficou ainda mais complicada. Para se ter uma ideia, os brasileiros podem viajar sem restrições apenas para três países: México, Costa Rica e Macedônia do Norte. O restante aplica medidas restritivas moderadas e mais severas, que incluem quarentena, testes negativos PCR ou até a própria proibição da entrada.

Mas Anderson teve de se adaptar. “Viajar com pandemia é mais difícil? É, mas não é impossível. Dá ainda para visitar vários países se você se atentar às regras e ao o que você tem que fazer”, relata.

Após Nova York, o plano é voltar para o Brasil e então partir para a Ucrânia. Com tantos lugares para serem visitados e os aprendizados da primeira viagem, a nova aventura tem como lema a adaptabilidade. “Sempre falo que a maior habilidade do ser humano é a adaptabilidade. Eu já era uma pessoa adaptável, mas depois dessa viagem eu me tornei um camaleão”, aponta.

Dicas

Com tamanha experiência, Anderson compartilha algumas dicas para quem deseja repetir esse tipo de viagem, que engloba conhecer muitos países de uma só vez – muitos deles longínquos e até aparentemente inóspitos.

A primeira delas é: aceite as diferenças. “Se você é uma pessoa que gosta das diferenças, que gosta de vivenciar o diferente de forma intensa, vale a pena conhecer vários países de forma rápida”. A segunda dica é mais lógica e resume-se em escolher países próximos, para que o custos sejam mais baratos, em que o viajante pode fazê-los inclusive por terra. “A Europa, por exemplo, é ótima para ser feita de ônibus. Você chega a gastar 3, 4 euros de passagem caso pegue uma promoção. E também há passagens de avião low cost. Se você está com uma mochila de costas você consegue pagar 10 euros por uma passagem”, aconselha o influenciador.

A saúde em dia é outra questão importante a ser levada em consideração. “É uma correria muito grande, então se alimentar bem e praticar exercício faz parte dessa rotina puxada de conhecer vários lugares”.

Uma das artimanhas de Anderson para driblar as barreiras linguísticas nas viagens baseia-se num gesto universalmente conhecido: o sorriso. “Quando você sorri, quando você faz mímica, quando você quer se conectar com as pessoas, você se conecta. Aprendi a falar inglês, francês, espanhol e russo quando estava viajando. Sai sem falar nada de nada e voltei assim”, relembra. Se depender de Anderson, veremos ainda muitos sorrisos pelas suas andanças ao redor do mundo.