Novo atlas dos países extintos explora lugares que saíram do mapa

Livro explora destinos de 48 estados que desapareceram

Barry Neild, da CNN

Novo livro 'Atlas de Países Extintos' explora países que saíram do mapa
Novo livro ‘Atlas de Países Extintos’ explora países que saíram do mapa
Foto: Barry Neild/CNN

Apesar do nome exótico, há um bom motivo para você nunca reservar férias nas Ilhas do Refresco. O mesmo vale para o Quilombo do Palmares, a Lega di Fiume e o Moresnet Neutro.

Eles não existem mais.

Embora o mapa do mundo possa parecer imutável, na verdade ele é fluido, com fronteiras em constante mudança devido às forças da geologia, política, conflito ou dinheiro.

Ao longo do caminho, várias novas nações surgiram, apenas para ser extintas em alguns anos, ou mesmo dias mais tarde, quando as circunstâncias mudarem novamente.

E, como fica muito claro em um novo livro, “The Atlas of Extinct Countries” (“O Atlas dos Países Extintos”, sem tradução no Brasil), do escritor Gideon Defoe, a razão para a sua morte nem sempre é o resultado da diplomacia internacional, ousadia ou um tratado de paz.

Frequentemente, é apenas “idiotice”.

Defoe reuniu os destinos de 48 locais extintos, em um livro divertido, detalhando nitidamente as origens e os resultados de cada um em parágrafos vigorosos que capturam a aventura, os planos e a incompetência envolvidos.

Cada registro é definido por uma causa da morte que varia de banal (vendida aos britânicos) à cavalheiresca (cara ou coroa) e até mesmo bizarra (telefones).

O livro, meticulosamente pesquisado, mas escrito para dar boas risadas, foi inspirado por contos que Defoe – “um nerd de mapas assumido” – vem coletando ao longo dos anos.

Isso incluiu algumas das bases para sua série de romances engraçados sobre piratas infelizes do século 19, adaptados para “Piradas Pirados”, uma animação lançada em 2012, mas provavelmente não as histórias contadas no seu livro de 2005 sobre como os animais fazem sexo.

“Eu me lembro de, quando criança, descobrir que as formas no mapa nem sempre eram as mesmas fazia minha cabeça pirar”, contou Defoe à CNN. “Logo pensava em situações tipo o reino perdido da Atlântida, mas não é assim, as histórias são muito mais estúpidas”.

Apostas e maluquices

Tomemos a República de Sonora, uma grande região costeira do México moderno, que foi brevemente tossida em uma espécie de existência assimétrica em 1853 nas mãos de William Walker, um oportunista de má reputação que reuniu um exército de 50 homens para apoiar sua reivindicação.

Os planos naufragaram depois que o exército de Walker, reduzido a 30 por “doenças, deserção e bandidos”, marchou com seu presidente sob custódia de volta aos Estados Unidos. Causa da morte do país: “Ninguém o levou a sério”.

Defoe divide os países em várias categorias, dependendo de suas circunstâncias – existem “fantoches e bolas de futebol políticas”, “mentiras e reinos perdidos” e “erros e micronações”.

Sonora está arquivado na categoria “apostas e maluquices”. Parece até que existe um tipo específico quando se trata dos criadores de nações de vida curta.

“Esses caras têm um mesmo perfil psicológico estranho”, contou. “Eles costumam ser escritores criados apenas pela mãe, com o pai geralmente morto. Compartilho isso com eles, mas ainda não comecei meu próprio país, porque não sou louco”.

No livro, Defoe amplia esse perfil com “injustiças em série, passagens pelo exército ou marinha … e desconfiança em relação ao dinheiro, algo fantasista”.

Quem se encaixou perfeitamente nesse molde foi o poeta italiano Gabriele D’Annunzio, (“um conhecido promotor de si próprio, que dizia falar com os mortos, dentes terríveis”) que – quando não estava obrigando os filhos a chamá-lo de maestro ou dormindo com uma águia – criou a Lega di Fiume.

Como foi o caso de muitos desses países, a região de língua italiana de Fiume foi redesenhada por um traço de lápis durante um passeio a cavalo sobre as fronteiras no final da Primeira Guerra Mundial. De repente, o pedaço se viu como parte da recém-formada Iugoslávia.

Vendo uma oportunidade, D’Annuzio, apoiado por uma gangue violenta de “legionários”, tomou o território e presidiu a confusão e a anarquia por pouco mais de um ano até que, após invocar a ira da Itália, encerrou a disputa no cara ou coroa.

‘Graus de desagrado’

Capa do livro de Gideon Defoe, 'Atlas de Países Extintos' (em tradução livre)
Capa do livro de Gideon Defoe, ‘Atlas de Países Extintos’ (em tradução livre)
Foto: Divulgação

O Moresnet Neutro é outra pequena nação criada a lápis por países maiores, dividindo territórios em disputa, desta vez no final das guerras napoleônicas. Criado em 1816, continha pouco mais do que uma mina de zinco localizada entre a Bélgica e a Prússia.

“Tenho uma certa simpatia por Moresnet”, confessou Defoe. “Apesar de nome parecer um nome de cor de tinta sem graça, o Moresnet é um lugar onde alguns rapazes já grandinhos não concordavam sobre quem devia ser o proprietário de uma faixa de terra, então acabaram decidindo que ela não pertencia a ninguém. Ninguém nunca pergunta às pessoas que vivem lá o que elas pensam”.

O território triangular na verdade sobreviveu pouco mais de um século, até que foi absorvido pela Bélgica no final da Primeira Guerra Mundial. Por um tempo, ele foi capaz de se sustentar por causa da mina de zinco. Quando a fonte secou, o local tentou diversificar, com sucesso limitado.

“É encantador como este país tentou se estabelecer”, diz Defoe. “Eles montaram uma destilaria de gim e produziam seus próprios selos, porque acham que vão agradar aos colecionadores. Eles até consideraram se tornar o único estado de língua esperanto do mundo – o próprio esperanto representa uma visão otimista do futuro”.

“É muito fofo! O Moresnet Neutro é aquele pelo qual estou torcendo e estou muito triste que, após a Primeira Guerra Mundial, ele tenha sido esquecido novamente e entregue sem cerimônia à Bélgica”.

Outros destaques encantadores incluem o repentino estado “extraterritorial” concedido à maternidade do Hospital Cívico de Ottawa em 1943 para que a princesa Juliana da Holanda pudesse dar à luz um herdeiro em potencial em algum lugar não classificado como solo estrangeiro.

Também há histórias muito mais sombrias, envolvendo o que Defoe chama de “graus de desagrado”.

“Muito disso tem a ver com caras brancos vitorianos fazendo aquela coisa de cara branco vitoriano, com muito pouco respeito pela população que estava lá”, diz ele.

‘Muita maldade para a Europa’

Poucas histórias são mais infelizes do que a do Estado Livre do Congo, formado em 1885 na África Central por meio de alguns negócios obscuros do rei Leopoldo II da Bélgica.

Driblando seu próprio governo democrático, Leopoldo II usou uma empresa privada para adquirir vastas extensões de terra e a transformou em uma gigantesca plantação de borracha na qual os habitantes foram forçados a trabalhar, criando efetivamente um estado escravista.

Surpreendentemente, em um momento em que a expansão e exploração dos impérios estava no auge, as atrocidades cometidas em nome de Leopoldo II ultrajaram os vizinhos europeus da Bélgica, forçando seu próprio governo constrangido a tirar o Estado Livre do Congo de suas mãos.

Causa da morte: “Muita maldade até mesmo para a Europa da virada do século aceitar.”

Defoe diz que, embora esteja acostumado a invocar enredos surreais e às vezes tolos para seus romances, os contos coletados em “O Atlas dos Países Extintos” costumam ser bem mais bizarros.

“Muitas dessas coisas são tão ridículas que você não inventaria”, contou. “É melhor e mais improvável do que qualquer coisa que minha imaginação pudesse criar.”

E, diz ele, em um mundo onde as fronteiras ainda são contestadas e as pessoas desejam poder, há mais histórias a serem escritas.

“Acho que nunca haverá um conjunto estático de fronteiras”, acrescentou Defoe. “Então, espero conseguir escrever uma sequência do livro daqui 30 anos.”

(Texto traduzido, leia o original em inglês)