Vale do Douro: uma saborosa e deslumbrante viagem ao norte de Portugal

Carregada de história e lindas paisagens, a região do Douro contempla tudo que Portugal tem de melhor: enoturismo, hotéis surpreendentes, gastronomia apetitosa e uma dose de charme que encanta qualquer um

Daniela Filomenodo Viagem & Gastronomia

Douro, Portugal

Viajar para Portugal é sinônimo de aguçar os sentidos. Digo que Portugal em si já é uma viagem sensorial das mais incríveis, uma vez que o país europeu oferece descobertas que nos deixam encantados.

Estar aqui é um convite para nos deleitarmos com uma gastronomia ímpar, com os serviços caprichados de uma hotelaria luxuosa, com paisagens de arrepiar e, claro, com uma história bem preservada que atravessa séculos.

Quer mais? Adicione pitadas de romantismo, sossego, muito vinho e, voilà, temos a região do Douro à nossa frente.

Muito famoso por seus vinhedos que se espalham pelas encostas margeadas pelo rio, o Vale do Douro é um ótimo chamado para conhecermos o norte de Portugal, uma porção do país menos agitada e bastante autêntica.

 

É daqui que saem as uvas para esplêndidos vinhos portugueses, incluindo o famoso Vinho do Porto, e onde suspiramos com paisagens magníficas rodeadas por belezas naturais. Não é de se surpreender então que o Alto Douro Vinhateiro, parte significativa de todo Douro, seja considerado Patrimônio da Humanidade pela UNESCO.

Assim, a quarta temporada do CNN Viagem & Gastronomia desembarca em Portugal e percorre seus cantos mais espetaculares. E uma das descobertas mais especiais é justamente a região do Douro, a mais antiga região vitícola regulamentada do mundo, decretada pelo Marquês de Pombal nos idos de 1756.

Como tudo que é bom na vida, a região vale ser apreciada e degustada com calma, para curtir seu estilo de vida peculiar.

A região do Douro

Encostas acidentadas repletas de vinhedos às margens do Douro formam a paisagem típica da região / Daniela Filomeno

Localizado ao norte de Portugal, o Douro é cortado pelo rio de mesmo nome, o terceiro maior de toda a península ibérica. Suas águas caudalosas nascem em terras espanholas a mais de 2.100m de altitude, atravessam a fronteira até Portugal e andam por cerca de 200 km até o encontro com o mar.

Sua foz reside justamente na cidade do Porto, um bom local para quem quer iniciar a viagem à região do Douro. A partir daqui são cerca de 120 km de carro até a cidade Peso da Régua, uma das principais do território do Douro.

Aqui vale uma ressalva: o ideal é fazer essa viagem de carro, já que as cidadezinhas que formam o Douro são próximas umas das outras e o transporte público é mais escasso do que nas grandes cidades.

Para curtir a região, é válido separar em média três dias para realizar tudo sem pressa – falo mais abaixo dos hotéis incríveis que podem ser encontrados nessa parte charmosa do país.

Porém, é também possível fazer vários passeios bate-volta: grandes embarcações saem do Porto em direção ao Douro pelas águas do rio e também há trens ligando Porto às principais cidades do Vale do Douro.

Falando em cidades, toda a sub-região do Douro compreende cerca de 19 municípios, sendo as principais Vila Real, Peso da Régua e Lamego. Como em toda Portugal, várias são as freguesias também muito famosas destas cidades, as quais são lar de quintas, hotéis e restaurantes.

O Douro pode e deve ser visitado o ano inteiro, mas se gosta de dias quentes o verão é de junho a setembro, quando os dias são mais longos, já se quer ver a vindima, ou seja, a colheita das uvas, vá entre setembro e outubro, que ainda não é tão frio e o céu costuma estar bem azulado. Lindo!

O que fazer: quintas e passeio no rio

Resumir o Douro em poucas palavras é injusto, mas algumas delas dão conta de transmitir a sensação de estar aqui. O Douro é vinho, é comida, é paisagem, é romantismo e também sossego e autenticidade.

O rastro de beleza de suas encostas é apenas um dos detalhes mais formidáveis da região. Profundos vales e montanhas escarpadas, de terrenos íngremes e acidentados, compõem o horizonte, de onde emergem emblemáticos vinhedos que dão origem ao Vinho do Porto, uma das bebidas mais famosas do mundo.

Importante ressaltar que tal paisagem é Patrimônio da Humanidade pela UNESCO justamente pela harmonia do homem com a natureza. A agência das Nações Unidas considera que o Alto Douro Vinhateiro, porção da Região Demarcada do Douro onde está concentrada a maior parte da produção vinífera, é uma região representativa da paisagem local que combina a natureza monumental do vale do Douro com a ação ancestral do homem, que adaptou este espaço às suas necessidades agrícolas.

O resultado? Esta relação íntima criou um ecossistema de valor único. Assim, além da gastronomia, das descobertas arquitetônicas nas freguesias, do peculiar estilo de vida de seus moradores e dos hotéis que equilibram o legado da região com serviços caprichados, não há como sair do Douro sem visitar suas mais famosas quintas – que oferecem um enoturismo completo – ou passear de barco pelas águas do rio.

É em meio às águas do Douro que temos um outra perspectiva da região, onde observamos as encostas íngremes de baixo para cima e contemplamos detalhes que não são vistos de outros ângulos.

Em determinados trechos é possível até avistar o trem em uma das margens. É lindo estar pelas águas e poder apreciar as belezas deste lugar.

Os passeios são feitos geralmente no típico barco rabelo, embarcação que é a cara do Douro! Antigamente era o meio de transporte que levava as pipas de Vinho do Porto do Alto Douro até a cidade de Porto e Vila Nova de Gaia.

Há passeios diários e com vários horários que saem dos cais da cidade de Peso da Régua e também da pequena vila de Pinhão, que pertence ao município de Alijó.

Para visitantes de primeira viagem por aqui, o Museu do Douro, em Peso da Régua, pode ser uma boa maneira para entender um pouco mais a região. Por 6 € é possível entrar em contato com o espaço coletivo de memória e identidade da região vinhateira, já que o museu tem por missão representar o patrimônio natural e cultural da Região Demarcada do Douro.

Falando de vinho, visitar as quintas, grandes propriedades rurais onde são plantadas as uvas que dão origem aos melhores vinhos de Portugal, é quase que obrigatório.

Além de degustações, algumas também nos oferecem experiências mais longas, como piqueniques, passeios de barco e até algumas trilhas. A seguir, destaco as quintas que visitei e que valem a pena estar no roteiro.

Quinta do Crasto

Enquadrada na margem direita do Douro, a Quinta do Crasto fica na freguesia de Gouvinhas, no município de Sabrosas. A quinta pertence à família de Leonor e Jorge Roquette há mais de um século e produz vinhos do Porto, do Douro e também azeites.

Segundo a propriedade, cerca de 1,5 milhão de garrafas de vinho do Porto e do Douro são produzidas aqui anualmente – 40% para o mercado nacional e 60% destinado ao mercado internacional. O Brasil, inclusive, é o segundo maior consumidor dos vinhos da quinta, e a maioria dos visitantes da propriedade também são do nosso país.

E não são só os números que surpreendem: fiquei apaixonada pela beleza do Vale do Douro visto daqui. Os terraços com as videiras, as curvas, as cores da região, o rio e, claro, o vinho, são encantadores. Não à toa, a Quinta do Crasto foi eleita a 16ª melhor vinícola do mundo em 2021 pela World ‘s Best Vineyards.

Os primeiros registros que se referem à quinta datam de 1615 e hoje, aqui, podemos conhecer um pouco mais dessa história que se prolonga pelos séculos. A propriedade nos recebe com uma casa centenária, adegas, lagares, caves de barricas, capela do século 17 e até uma piscina – esta de borda infinita que cria uma ilusão que mescla com o rio Douro. É definitivamente um ponto privilegiado para lindas fotos.

O enoturismo contempla visitas à propriedade junto com provas de vinhos que variam de 29 € a 55 € por pessoa. Há também almoços harmonizados que vão de 70 € a 95 € por pessoa e passeios de barco que podem ser tratados com a equipe.

As atividades terminam com uma visita à lojinha da quinta, onde podemos comprar os produtos da propriedade. É necessário agendamento prévio com a administração do local para realizar as atividades.

Quinta da Pacheca

Situada perto da margem do Douro em Lamego, uma das principais cidades da região e bem próxima à Peso da Régua, a Quinta da Pacheca é uma das propriedades mais interessantes e completas de se visitar por aqui. Produtora de vinhos desde 1738, foi uma das primeiras a engarrafar vinhos sob marca própria.

Digo que ela nos deixa maravilhados desde os primeiros instantes. Suas paisagens, construções e passeios guiados são um combo muito bem-vindo para conhecer um pouco melhor a região do Douro em grande estilo.

Com cerca de 75 hectares de vinhedos próprios, a propriedade abriu suas portas em 1995 para que visitantes pudessem contemplar este pedacinho do Douro. Por aqui, visitas guiadas com degustação, experiências gastronômicas (como piqueniques em certas datas), passeios de barco com provas de vinho da quinta (210 €), spa e até acomodações dentro de grandes barricas (falo mais abaixo sobre o hotel) são alguns atrativos.

As visitas guiadas pela propriedade junto com a degustação custam a partir de 15 € (a combinação com queijos sai por 22 €). Em datas específicas, experiências gastronômicas são feitas pelos arredores dos vinhedos, como um piquenique com a harmonização de dois vinhos do Douro e um vinho do Porto.

Há também um restaurante que funciona mediante reservas para almoço e jantar e experiências durante o temporada da vindima. E vale lembrar: não se esqueça de agendar antecipadamente.

Quinta de Nápoles

A Quinta de Nápoles é uma vinícola pertencente à família Niepoort, empresa familiar que tem relação com a produção de vinhos de longa data, desde 1842. Situada na margem esquerda do rio Tedo, que serpenteia alguns quilômetros antes de desaguar no Douro, a vinícola fica próxima de Folgosa.

A propriedade, que foi adquirida pela família em 1987, possui cerca de 15 hectares de vinha, de onde sai o Vinho do Porto que é envelhecido nas caves em Vila Nova de Gaia, logo em frente à cidade do Porto, local onde a bebida é armazenada e rotulada.

No Douro, também há a produção de vinhos brancos e rosés. Por aqui, é fácil nos encantarmos com um terraço com vistas privilegiadas para o rio e visão para os parreirais. Há ainda uma adega subterrânea e sala cheia de barris.

Vale ficar de olho no site e nas redes sociais para checar quando acontecem as experiências na propriedade, que abrangem almoço informal com provas dos melhores vinhos da empresa.

Hotéis surpreendentes

Six Senses Douro Valley

É definitivamente uma das melhores descobertas do Douro. Com a chancela de qualidade da Six Senses (que possui uma unidade brasileira em Campos do Jordão), o hotel de luxo ocupa a centenária Quinta do Vale de Abraão, que foi remodelada e reinaugurada como o hotel na freguesia de Samodães, em Lamego. Além do serviço impecável, o hotel possui vistas para as montanhas repletas de vinhas e para o rio que corre lá embaixo aos seus pés.

Ao todo são 71 acomodações luxuosas que incluem vista panorâmica para o rio, assim como suítes com janelas do chão ao teto. Todos os espaços misturam a elegância da propriedade do século 19 com o toque de modernidade da Six Senses. Entre os jardins há também uma vila com um ou dois quartos, cada um com piscina privativa. Ao lado, onde era o armazém, agora há novos quartos e suítes.

E experiências aqui não faltam. Além de oferecer passeios guiados por vinícola, de barco e deliciosas degustações, o hotel também é tem dos melhores spas do país, com tratamentos de inspiração local, à base de uvas.

No âmbito gastronômico, um restaurante sofisticado com menus da estação e um bar que é local ideal para encontros com amigos e familiares nos deixam com os sabores locais. Há também uma Wine Library, que nos proporciona experiências ao lado do vinho – e até uma máquina dosadora de vinhos em taça, uma perdição para quem é amante da bebida!

Piscina, horta orgânica e uma gama de experiências dentro e fora da propriedade, todas na região magnífica do Douro, também nos contemplam. Uma delas, inclusive, é um piquenique que pode ser feito em um dos gazebos da propriedade. Acompanhados de queijinhos, pães e embutidos – não me esqueci da taça de vinho! -, somos presenteados com um visual apaixonante no fim da tarde.

The Wine House Hotel – Quinta da Pacheca

Além de uma território surpreendente, que abrange uma grandiosidade de vinhas e passeios personalizados em torno do mundo do vinho e do Douro, a Quinta da Pacheca ainda oferece acomodações para lá de interessantes e rebuscadas em sua propriedade.

São duas opções de hospedagem na The Wine House Hotel, um casarão antigo com modernas acomodações e os famosos barris de vinho. Já pensou em dormir dentro deles? Aqui é possível! E garanto que a experiência é incrível, além de bela, já que cada um dos 10 quartos ficam no meio do vinhedo – as vistas são igualmente espetaculares.

Chamados de Wine Barrels, estas arrojadas suítes em forma de barris fazem parte da fama do pedaço e do Douro.

Os alojamentos são equipados com tudo que um quarto luxuoso possui e há até um deque com cadeiras para sentarmos e contemplarmos a beleza e o ar da região. É uma experiência muito válida caso queira mergulhar de cabeça na vida vinífera desta parte charmosa de Portugal.

Gastronomia apetitosa: restaurantes imperdíveis

DOC Restaurante – Chef Rui Paula

A experiência de se estar no Douro fica ainda mais completa e saborosa ao degustarmos as maravilhas gastronômicas que o chef Rui Paula faz no DOC. Restaurante sofisticado situado em Folgosa, freguesia da cidade de Armamar, ele fica na estrada entre Peso da Régua e Pinhão e se debruça sobre o rio.

A casa se estende por um deque de madeira sobre as águas, criando uma atmosfera romântica e estarrecedora logo à primeira vista. Do salão envidraçado ou do espaço externo, a vista contempla vinhas, aldeias ribeirinhas, vale e barcos de grande porte.

E não é somente nossa visão que é abraçada: os pratos modernos e focados nos ingredientes locais mudam a cada estação e são um deleite para o paladar. Há grande variedade de peixes e frutos do mar, risotos, carnes, açordas (sopas típicas do Alentejo) e legumes. Os menus-degustação variam de 95 € a 110 € que podem ser harmonizados, claro, com vinho.

Além das garrafas da região e de Portugal, azeites selecionados, pão, e queijos completam as deliciosas refeições. Reservas são recomendadas e podem ser feitas pelo site. Vale lembrar que o premiado Rui Paula também está por trás do DOP, restaurante de excelência do Porto – uma das dicas gastronômicas imperdíveis da cidade.

Restaurante Castas e Pratos

Não muito longe do Museu do Douro, em Peso da Régua, está o Castas e Pratos, restaurante bem próximo da margem do rio. A casa ocupa um antigo armazém de uma estação ferroviária e possui vista para os trilhos, bar de vinhos – onde podemos degustar bons rótulos e deixar o tempo passar – e salão de jantar com um pé direito alto.

O visual do local segue este ritmo: rústico, recheado de madeira, que alude a tempos passados da região sem perder sua essência. A proposta do Castas e Pratos é unir sabores locais a uma gastronomia moderna e criativa. Peixes, carnes, massas, arrozes e açordas dominam o cardápio.

Tome como exemplo o prato de presunto ibérico com raspas de trufa negra (17,90 €) como entrada, o robalo com cremoso de brócolos, amêijoas, legumes e molho de alho negro (33,10 €); as bochechas de vitela, tupinambo fumado, feijão verde e trufa negra (24,40 €) e o arroz malandrinho de peixe e gambas (56,80 €, serve duas pessoas).

Casa típica Papas Zaide

Que tal provar refeições típicas deste pedaço de Portugal em uma casa que honra as raízes locais? Assim é a Casa Típica Papas Zaide, onde as cozinhas mediterrânea e portuguesa se misturam e de onde saem apetitosos pratos transmontanos.

Situada na freguesia de Provesende, na cidade de Sabrosa, a casa é bem simples e fica num charmosinha pracinha – bem pequena – que parece ter saído de um filme. Aqui há pratos com pato, pernil de porco, saladas e frutos do mar, além de queijadas e doces.

Prepare a câmera para cliques encantadores e o estômago para pratos apetitosos – e, obviamente, não se esqueça de brindar a ocasião com vinho, seja ele do Douro ou do Porto.