Motivos não faltam para Alentejo, Comporta e Sintra estarem no seu roteiro por Portugal

História, castelos, gastronomia regional saborosa e lindas praias garantem descobertas valiosas nestas três cidades, localizadas perto de Lisboa e que são ideais para serem visitadas de carro

Daniela Filomenodo Viagem & Gastronomia

Portugal

Mesmo muito pequeno, Portugal carrega uma diversidade imensurável em sua essência. São grandes e minúsculas cidades, vilarejos, comidas e doces típicos, vinhos, azeites, hotéis, paisagens e tradições que fazem do país um local único no mundo.

Assim, digo que, em cada canto, Portugal é como uma caixinha de surpresas pronta para ser aberta. Aqui, não importa para onde vamos: sempre acabamos fazendo uma viagem pela gastronomia e pelo passado regional, onde invariavelmente haverá uma boa história para conhecermos.

Durante as filmagens da quarta temporada do CNN Viagem & Gastronomia, rodamos as estradas de carro e, para mim, fica a lição: é muito bacana e propício percorrer as rodovias, ruas e avenidas do país por este meio de transporte, já que não é apenas o destino que importa – o caminho também nos garante paradinhas dignas de serem colocadas no roteiro.

Por falar em pontos de parada, após apreciar as maravilhas do Dão, na região central de Portugal, e ainda vivenciar os encantos de Évora, no coração do Alentejo, nossa viagem segue nesta que é a mais extensa região do país.

O Alentejo se alonga por mais de 31 mil km² e ocupa cerca de 34% de todo o território português. Para além do Alentejo Central, onde reside Évora, o Baixo Alentejo e o Alentejo Litoral também nos reservam experiências que marcam para sempre nossas lembranças.

Seja na pitoresca propriedade da Herdade da Malhadinha Nova, em meio à elegância da Praia da Comporta ou já nos limites da histórica Sintra, bem próxima da capital Lisboa, Portugal nos deixa com um sabor aprazível na boca e nos nossos corações: o de querer repetir a dose.

Vivência de fazenda, passeio de balão, hotéis que misturam o clássico com o moderno, gastronomia apetitosa e construções históricas são apenas algumas das experiências que podemos viver nestes cantos notáveis do país.

Herdade da Malhadinha Nova, no Baixo Alentejo

Que tal desacelerar em meio a uma paisagem bucólica onde tanto o nascer quanto o pôr do sol nos garantem doses de paz em meio aos sons serenos do ambiente ao redor?

É esse o convite da Herdade da Malhadinha Nova, grande propriedade na cidade de Beja que nos apresenta um novo conceito de hospedagem. Aqui ficamos hospedados em uma casa (são seis no total, todas diferentes entre si), que nos dão a chance de sentir o ritmo do tempo de uma maneira diferente.

Cada casa é dividida em vários quartos e cômodos, ideais para grupos. Com aspectos modernos e requintados, as casas possibilitam uma experiência real de fazenda, com uma equipe que proporciona uma série de atividades que nos mantém ocupados ao mesmo tempo que nos faz descansar.

A propriedade foi adquirida pela família de Rita Soares, em 1998, em que o objetivo central era ter uma casa e uma produção de vinhos. Hoje, o local conta com vinhas, oliveiras, produção de mel, hortas, pomares e rebanhos de porco preto e vacas alentejanas, todos certificados.

Assim, a maior parte de tudo que é consumido na Malhadinha vem dos 450 hectares da própria propriedade.

Além de ser convidada para vivenciar a calmaria da região ao lado de delicinhas que saem diretamente daqui, pude ainda fazer um roteiro dentro da propriedade que me surpreendeu. Fiz degustações dos vinhos da casa ao lado do enólogo Nuno Gonzalez, apreciei um churrasco refinado debaixo de uma frondosa árvore ao lado das vinhas e subi 600 metros acima do chão a bordo de um balão.

É simplesmente deslumbrante enxergar as planícies a perder de vista lá de cima e contemplar este cantinho recôndito de Portugal. Tanto o passeio de balão quantas as outras experiências fazem parte dos variados pacotes oferecidos pela Malhadinha, que envolvem diferentes quantidades de dias e são desenhados para diversos tipos de gostos e bolsos.

Estar na Malhadinha é ver de perto o respeito pela terra, pela produção sustentável e o interesse em preservar um local que antes estava relegado. Hospedar-se e passar um tempo aqui é uma boa maneira de vivenciar, ainda que por poucos dias, a região do Baixo Alentejo.

Praia da Comporta, no Alentejo Litoral

Daniela Filomeno na Praia da Comporta, no Alentejo Litoral / CNN Viagem & Gastronomia

Ao seguir viagem, nos deparamos com a sub-região menos habitada de todo Alentejo, que corresponde a sua porção litorânea, o chamado Alentejo Litoral.

Por aqui fica uma das joias portuguesas que têm entrado no radar mundial: a Praia da Comporta, no distrito de Setúbal. Balneário em ascensão, é um destino muito procurado pelos portugueses, principalmente quando os termômetros aquecem na Europa, e também por celebridades mundiais.

Chegar aqui é se esbarrar em uma das regiões mais charmosas de Portugal. Um público jovem e descolado começou a frequentar a praia, mas não é um destino de badalação como o Algarve, por exemplo.

Aqui o requinte, a discrição e a elegância vêm juntos no pacote, e o clima descontraído também se abre para a boa mesa e a hospitalidade.

Espaço natural preservado, o atraente destino à beira do Atlântico tem 40 km de faixa de areia e fica a pouco mais de uma hora de Lisboa. Também pipocam restaurantes de alta gastronomia e beach clubs, os quais nos oferecem serviços caprichados com visuais cativos.

Visitei Comporta no frio e, mesmo que seja uma praia mais badalada no calor, vivemos experiências diferentes nesta época de baixas temperaturas. Às vezes, o frio não é o ideal ao se viajar fora de época, mas com muito planejamento a viagem acaba sendo surpreendente – o custo-benefício pode ser melhor e nos deparamos com bons momentos inesperados.

Cais Palafítico da Carrasqueira

A começar, uma das paradinhas essenciais para se entender a região – e de quebra fazer alguns belos cliques – é o Cais Palafítico da Carrasqueira.

O local é uma espécie de píer de madeira restaurado da década de 1960 usado por pescadores para chegar até as embarcações.

Um dos pontos mais fotografados da região, principalmente no pôr do sol, a construção curiosa se complementa à paisagem dos campos de arroz e do rio do entorno. Uma vez aqui, podemos ver também o vai e vem dos próprios pescadores, com suas embarcações e estilo de vida típicos.

Restaurante Sal

A extensão da praia é recheada de clubes e restaurantes com toques requintados que merecem a parada. Uma de nossas escolhas foi o Restaurante Sal, que fica na Praia do Pêgo, na freguesia de Carvalhal, em Grândola.

Badalado, ele é todo decorado com penduricalhos que lembram o tema marítimo e tem um ar rústico chique. Comemos olhando para o oceano e, como de praxe, frutos do mar e peixes são destaque entre as pedidas.

As escolhas se resumiram em ostras com molho ponzu (entre 18 e 36 €) , depois as tradicionais amêijoas (22,50 €) e o camarão no alho (22,50 €).

Vale também experimentar a sopa de peixe, que é um dos pratos típicos de Portugal. Para mim, a receita é sinônimo de aconchego e afetividade, e me faz retomar bons momentos da vida.

Hotel Sublime Comporta

Também em Grândola fica um dos hotéis mais especiais da Europa. Se está pela região e procura uma experiência única, diferenciada e acolhedora, ainda que por pouco tempo, o Sublime Comporta é o local certo.

Além de toda decoração que nos transmite conforto e elegância, as cabanas da propriedade de 17 hectares são as verdadeiras protagonistas. São 23 quartos e 22 vilas, estas em formato de cabanas de diferentes tamanhos e categorias. Porém, as que verdadeiramente chamam a atenção são as “bio pool suites“.

Como o nome diz, elas ficam à beira de biopiscinas, as quais têm um processo de limpeza à base de algas, sem tratamentos artificiais. As acomodações, inclusive, foram inspiradas nas próprias cabanas de Comporta, antigas residências e armazéns de pescadores.

Acordar bem cedinho aqui é sinônimo de apreciar o som dos pássaros e caminhar pela horta, que possui mais de 300 tipos de legumes e vegetais, todos utilizados na cozinha do hotel do pedaço.

São três restaurantes que compõem o hotel, dentre eles o Food Circle, que preza pelo princípio “da fazenda à mesa”, onde o preparo é todo ao redor do fogo com ingredientes diretos do jardim biológico.

Aqui, o chef Tiago Maio cozinha em nossa frente e apresenta pratos dinâmicos, frescos e saborosos em um espaço íntimo e circular de apenas 12 lugares. Para arrematar a experiência, degustar o vinho da casa é saborear um líquido com toques da maresia de Comporta. Quando cai a noite, é uma delícia ficar na área das fogueiras bebendo gim tônica, cujo destilado é produzido localmente.

Delícias de Azeitão

Torta de azeitão, prenda de azeitão e outros docinhos típicos da freguesia / Daniela Filomeno

Agora faço um adendo: a não muitos quilômetros da região da Praia da Comporta fica Azeitão, freguesia do município de Setúbal que é um ponto de parada delicioso, diga-se de passagem, para o caminho até Sintra.

Terra de vinho, de queijo (um dos melhores da vida!) e também de doces típicos, passear por aqui é se deparar com um centrinho charmoso e um estilo de vida português peculiar. Há algumas vinícolas pela região e o moscatel é um dos vinhos mais célebres desta parte do país – é como um convite para que brindemos com uma taça.

O lugar certo para isso é a Praça da República, local com esplanadas e estabelecimentos. Vale ir na Pedaços de Azeitão, lojinha de doces em que diminuímos o ritmo e comemos em mesinhas externas.

A dica é experimentar um pouquinho de cada: há a típica torta de azeitão, que é feita com pão de ló, canela e ovo; os esses de azeitão, que tem aspecto de biscoitos; a prenda de azeitão e o queijo de azeitão, que é supercremoso e tem denominação de origem protegida (DOP).

Sintra, história e proximidade de Lisboa

Após as bem-vindas descobertas pelo Alentejo, chegamos em Sintra, esta que é uma cidade histórica que, assim como outros tantos cantos portugueses, carrega uma simpatia incomparável em seus hotéis e atrações.

E a proximidade de Lisboa faz dela um bom caminho para seguir viagem até a capital ou vice-versa: são cerca de 30 minutos de carro ou ainda 45 minutos de trem.

Um dos ícones da cidade também é um hotel: o Tivoli Palácio de Seteais fica dentro do palácio de mesmo nome e foi erguido no século 18 – é um dos achados mais agradáveis daqui.

Fora do hotel, a programação é se “perder” pelas ruas próximas da Praça da República, tomar um vinho no Bar do Binho e ainda conferir castelos, fortificações e até um poço misterioso, os quais narram um pouco do passado português.

Hotel Tivoli Palácio de Seteais

Já confessei em minha viagem a Portugal que amo dormir na história. E o Tivoli Palácio de Seteais cumpre esse papel de maneira sublime, com uma camada extra de luxo. Construído para o cônsul holandês em Portugal em 1787, estar aqui é vivenciar um pouco da realeza.

Os grandes quartos são decorados com mobiliário precioso, rico em detalhes, assim como os salões, que são compostos por tapeçarias e frescos. Cada uma das 30 acomodações, inclusive, possui um personagem: o meu quarto era inspirado na célebre autora britânica Agatha Christie.

Vistas apaixonantes são parte dos atributos do hotel, de onde, em alguns pontos, é possível olhar o mar na linha do horizonte.

O hotel ainda é circunscrito por amplos jardins que são dignos de caminhadas – destaco o Jardim dos Namorados, local que, como sugere o nome, tem pitadas de romance.

O restaurante do hotel se abre para vistas lindas para os jardins e a serra de Sintra, e as sopas de peixe, coxa de pato confitado, o típico doce travesseiro de Sintra (uma massinha com doce de ovos e amêndoas) e e queijadinha completam a experiência visual e gastronômica.

Bar do Binho

Daniela Filomeno no Bar do Binho, que fica em frente à Praça da República, em Sintra / CNN Viagem & Gastronomia

Na Praça da República, o Bar do Binho é tradicional em degustações de vinho do Porto. Aliás, o centrinho daqui é assim: recheado de estabelecimentos com produtinhos prontos para serem experimentados.

Nesta casa peculiar há inclusive uma coleção riquíssima de antigos vinhos do Porto: a mais antiga garrafa data de 1815!

A parada no Binho é também boa oportunidade para beber uma dose da ginjinha, licor feito com uma espécie de cereja, que aqui é servido num copinho de chocolate comestível.

E outra dica: quer comer um bom travesseiro de Sintra e uma queijadinha típica da região? Vá à Casa Piriquita, próxima ao Binho, padaria com mais de 160 anos de tradição que também possui uma loja em Lisboa.

Quinta da Regaleira

É um dos pontos turísticos históricos mais interessantes e diferentes de Portugal. Construído no século 19, o edifício central foi erguido na encosta da serra e possui uma imponência que dá para ver de longe, reflexo dos interesses filosóficos do proprietário António Augusto Carvalho Monteiro.

Confesso que é difícil decifrar o local logo de cara, mas vamos entendendo os aspectos místicos e elementos escondidos enquanto exploramos a propriedade. São quatro hectares que compreendem um palácio, um bosque e até um profundo poço.

Chamado de Poço de Iniciação, acredita-se que era usado em rituais de iniciação à maçonaria. O local é incrível, com vários patamares de escadas e túneis que o circundam lá embaixo, fazendo uma alusão ao caminho da vida.

A quinta é um daqueles lugares que olhamos na internet e queremos conhecer. O ponto é interessante pois visitamos um local histórico mas acabamos por ficar envolvidos por todo o misticismo da arquitetura, da decoração e das mensagens que interpretamos.

visitas livres e guiadas, e a entrada para adultos sai por 10 €.

Palácio da Pena

Daniela Filomeno no Pátio dos Arcos do Palácio da Pena / CNN Viagem & Gastronomia

Um dos lugares mais visitados de Portugal, o Palácio Nacional da Pena é uma mistura de cores que nos causa um impacto desde quando o avistamos de longe. É como a joia da coroa nas serras de Sintra.

O cenário como conhecemos hoje é fruto do romantismo arquitetônico do século 19 pelas reformas de D. Fernando II. O exterior, principalmente o Pátio dos Arcos, nos garante vistas primorosas para a cidade e a parte externa, colorida, ajuda a deixar as fotos ainda mais bonitas.

Internamente, vemos diversos aposentos, salões, terraços e claustro, que nos contam como era a vida de quem vivia por ali, entre membros da realeza e da história do país. Capelas e monumentos ainda fazem parte da propriedade.

A entrada é feita mediante reserva de data e de bilhete, o qual custa cerca de 13.30 € para adultos.

Castelo dos Mouros

Por fim, adoro visitar castelos. Fico imaginando a história que ocorreu nestes lugares. E o Castelo dos Mouros é um desses locais especiais que nos ajudam a narrar a história de Portugal.

Fundado no século 10, era uma pequena fortificação, porém, sua importância era significativa. Servia para controlar o Atlântico e sua posição estratégica, isolado no alto de um dos cumes da serra de Sintra, possibilitava o alerta para a cidade principal no caso de alguma ameaça.

Ocupado de forma alternada por muçulmanos e cristãos ao longo da história, foi em 1147 que a edificação passou a ser definitivamente controlada pelos cristãos. De fato, a vista que temos é arrebatadora: podemos ver todo o vale e nosso olhar segue até o mar.

Antigos silos para o armazenamento de cereais, túmulos, cisternas e até uma porta da traição, ou seja, que permitia o acesso discreto ao exterior em caso de conflito e fuga, podem ser vistos por aqui.

Atualmente, o preço para visitar o castelo fica em torno de 7.60 € para adultos.