Vale do Douro: 10 vinícolas que nos levam a uma verdadeira viagem sensorial

Entre os 40 mil hectares de vinha, a mais antiga região vitícola demarcada do mundo nos apresenta produtores que merecem a visita e, claro, a degustação

Daniela Filomeno degusta diferentes rótulos na beira da piscina da Quinta do Crasto
Daniela Filomeno degusta diferentes rótulos na beira da piscina da Quinta do Crasto CNN Viagem & Gastronomia

Daniela Filomenodo Viagem & Gastronomia

Douro, Portugal

Não basta ser um dos destinos mais estonteantes de Portugal ou ter sua “paisagem cultural evolutiva e viva” considerada Patrimônio Mundial pela UNESCO.

O Vale do Douro, mais antiga região vitícola regulamentada do mundo, decretada pelo Marquês de Pombal em 1756, vai além e acumula uma série de outros predicados.

Muito mais do que nos inspirar pela beleza de seus vinhedos, o Douro ainda nos reserva, em seus terrenos incrustados nas montanhas que margeiam o rio, verdadeiras preciosidades.

Falo de suas uvas, as quais resultam em excelentes vinhos apreciados e degustados em mais de 100 países – quantidade de territórios para onde rótulos são exportados todos os anos.

Região de superlativos

Enquanto gravávamos os primeiro episódios da quarta temporada do CNN Viagem & Gastronomia, que já começa com uma verdadeira jornada pelos cantos mais especiais de Portugal, pude entender que o Douro é uma região cheia de superlativos.

A começar pelo grande território de 250 mil hectares, o extenso rio de quase 900 km e os aproximadamente 20 mil viticultores que trabalham nas vinhas da região, segundo dados do Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto.

Toda essa plenitude natural é um prato farto – e uma taça cheia! – de possibilidades para os amantes de vinho. Por aqui estão situadas algumas das vinícolas mais surpreendentes não somente de Portugal, mas de todo o mundo.

É justamente por conta das sutis diferenças entre as microrregiões que compõem o Douro (Cima Corgo, Baixo Corgo e Douro Superior) que saem vinhos muito distintos.

Logo, encontramos desde os vinhos mais simples e acessíveis até os mais robustos, complexos e emblemáticos – é o caso, por exemplo, do icônico Barca Velha, produzido nas terras da Quinta da Leda, sob a marca da Casa Ferreirinha, um dos vinhos portugueses mais celebrados mundo afora.

Detalhes das paisagens do Vale do Douro com detalhe do rio ao fundo / Daniela Filomeno

Passeio pelas quintas

Após conhecer um pouco mais sobre a região, é hora da melhor parte: cair numa verdadeira viagem sensorial pelas vinícolas do Douro e, claro, degustar alguns dos melhores rótulos do mundo. Uma vez neste pedaço do norte de Portugal, é quase que obrigatório visitar as quintas, vastas propriedades rurais onde são plantadas as uvas.

Além de degustações, algumas também nos oferecem experiências completas de enoturismo, como piqueniques, passeios de barco e trilhas.

Com tantos caminhos para percorrer pelas terras durienses, surgem os questionamentos: qual vinícola visitar? Como fazer escolhas com tantas boas opções à disposição?

A dica para montar o roteiro é estudar a parte logística, pois o deslocamento pelo Douro pode ser bastante complicado. Algumas vinícolas, como a Quinta do Crasto, por exemplo, ficam próximas de estações de trem, o que facilita bastante o trajeto.

Em outros casos, o acesso é apenas por estradas sinuosas. Porém, o passeio vale muito, pois o caminho vira parte importante da viagem. Planejando bem e fazendo tudo com calma, é possível curtir o que há de mais imperdível no Vale do Douro.

A seguir, confira vinícolas que devem estar no roteiro em uma visita a estas encantadoras terras do norte de Portugal.

Quinta do Crasto

Comandada pelos irmãos Miguel e Tomás Roquette, a Quinta do Crasto está entre as maiores referências do Vale do Douro. A vinícola, inclusive, guarda com orgulho, em um pedaço do terreno, o “Marco Pombalino”, que indica que ela fez parte da primeira demarcação feita por Marquês de Pombal, em 1756.

A quinta fica situada na freguesia de Gouvinhas, no município de Sabrosas. Segundo a propriedade, cerca de 1,5 milhão de garrafas de vinho do Porto e do Douro são produzidas aqui anualmente – 40% para o mercado nacional e 60% destinado ao mercado internacional.

Entre os muitos rótulos produzidos, o destaque vai para o vinho do Porto, que deu início à história de viticultura na região, o Reserva Vinhas Velhas, vinificado a partir de uma parcela com mais de 30 tipos diferentes de cepas.

Destaque também o Roquette & Cazes, fruto de parceria feita com a família Cazes, do Château Lynch Bages, de Bordeaux, na França.

Além de oferecer opções de alto nível para os apaixonados por vinho, a Quinta do Crasto também produz azeite e amêndoas em uma localização privilegiada com vista espetacular para todo o vale.

A propriedade nos recebe com uma casa centenária, adegas, lagares, caves de barricas, capela do século 17 e até uma piscina – esta de borda infinita que cria uma ilusão que mescla com o rio Douro. É definitivamente um ponto privilegiado para lindas fotos.

O enoturismo, feito mediante agendamento, contempla visitas à propriedade junto com provas de vinhos que variam de 29 € a 55 € por pessoa. Há também almoços harmonizados que vão de 70 € a 95 € por pessoa – passeios de barco que podem ser tratados com a equipe.

Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo

Ao lado da Quinta do Crasto fica a Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo, que assim como a vizinha também é referenciada desde a primeira demarcação feita no século 18 pelo Marquês de Pombal.

Por aqui, a história é encontrada em cada parcela do terreno e nas construções da propriedade: a adega original é de 1764 e a casa senhorial, que guarda uma capela de Nossa Senhora do Carmo, é de 1765.

Assim, a bela quinta abre suas portas para visitas guiadas nos seus 85 hectares de vinha, onde passamos pela adega centenária e pela sala de barris. O passeio, que sai por 16 € por pessoa e deve ser feito mediante reservas, ainda contempla entrada no Wine Museum Centre, que possui um acervo que representa o ciclo produtivo do vinho do Porto por meio de objetos dos séculos 19 e 20.

Como na maioria dos passeios, a visita desemboca na lojinha garrafeira. Degustações também ocorrem por aqui: é num terraço exterior no meio das vinhas que podemos apreciar diferentes rótulos por diferentes preços, que variam de 24 € a 116 €.

Caminhadas, passeios de barco, passeios até o Dão e um dia de enólogo são outras experiências fornecidas pela quinta.

Um restaurante, o Terraçu’s, dá conta da gastronomia e, para quem deseja pernoitar na região, a grande casa senhorial possui 11 quartos que acomodam hóspedes, que seguem decoração rústica que alude aos vinhedos da região. Riqueza gastronômica, histórica e visual incrível? Vale a visita neste lugar icônico.

Niepoort – Quinta de Nápoles

Vista da propriedade para as encostas típicas do Douro / Reprodução/Instagram

Para escrever sobre “Niepoort” é preciso falar sobre terroir. O motivo é simples. Muito além das condições do solo e do microclima particular, que ajudam a definir a história da produção de vinho, o terroir tem um elemento ímpar na sua composição: as pessoas.

E Dirk Niepoort, que faz parte da quinta geração à frente das vinícolas da família, é desse tipo de pessoa especial. Quando estávamos aprofundando as pesquisas para gravar o CNN Viagem & Gastronomia em Portugal, ele foi apontado como um dos gênios da região duriense.

Ele toca a “Quinta de Nápoles”, uma das propriedades da família, onde produz excelentes vinhos. Situada na margem esquerda do rio Tedo, que serpenteia alguns quilômetros antes de desaguar no Douro, a vinícola com 15 hectares de vinhas fica próxima de Folgosa.

Entre as produções, uma se destaca: o trabalho conjunto entre Niepoort e um dos chefs mais renomados do país, o estrelado José Avillez. Juntos, criaram um rótulo especial em que celebram o encontro entre o vinho e a alta gastronomia.

Além do rótulo, há também produção de vinhos brancos e rosés. Por aqui, é fácil nos encantarmos com o terraço com vistas privilegiadas para o rio e visão para os parreirais – há ainda uma adega subterrânea e sala de barris.

Vale ficar de olho no site e nas redes sociais para checar quando acontecem as experiências na propriedade, que abrangem almoço informal com provas de vinhos.

Quinta da Leda

O nome desta vinícola do Douro Superior já é automaticamente associado ao ícone Barca Velha, um dos grandes vinhos portugueses e um dos rótulos mais desejados do consumidor brasileiro, produzido a partir das cepas Touriga Franca, Touriga Nacional, Tinto Cão e Tinta Roriz.

Se você não fez essa associação diretamente é porque, provavelmente, está acostumado com a Casa Ferreirinha nos rótulos do célebre vinho.

E esse é um dos motivos que torna a Quinta da Leda um lugar tão especial: vinhos bem conhecidos – e muito mais acessíveis, diga-se de passagem, como Papa Figos e Esteva, também são vinificados sob o olhar do enólogo Luís Sottomayor.

Fora o fato de ser uma casa de grandes rótulos, a Quinta da Leda também tem o bônus da paisagem deslumbrante desta sub-região do Douro, onde está situada na freguesia de Almendra no município de Vila Nova de Foz Côa. Com isso, há também muita história para contar, já que os vinhedos estão aqui há longas décadas.

CARM – Casa Agrícola Roboredo Madeira

Também na sub-região do Douro Superior encontra-se uma outra propriedade especial – e não muito conhecida, com vinhas e olivais misturados pelo terreno.

A Carm – Casa Agrícola Roboredo Madeira – segue sob o comando da mesma família desde o século 17. Junto do vinho, a produção de azeitonas, uvas, amêndoas e tantos outros produtos gourmet os coloca em uma posição de destaque.

São cerca de 60 hectares de amendoais, 220 hectares de olivais e 200 hectares de vinhas ao redor da aldeia de Almendra, englobada na Reserva Arqueológica do Vale do Côa. A Carm engloba ao menos cinco quintas no Douro e, além de rótulo próprio, também tem rótulos com os nomes das outras quintas.

É um passeio quase que obrigatório para os apaixonados por gastronomia e, claro, vinhos.

Quinta da Pacheca

Situada perto da margem do Douro em Lamego, a Quinta da Pacheca tem um elemento único dentre todos os destaques aqui citados: uma hospedagem especial com quartos em forma de grandes barris.

Se deseja ir ao Douro, fazer boas degustações e, ainda por cima, “envelhecer” por uma ou duas noites como um vinho em sua fase de maturação em barricas, esse é o lugar. Porém, além dos “barris-dormitório” há opções mais tradicionais, em quartos que ficam no casarão antigo da propriedade.

A Pacheca ainda tem um restaurante em sua propriedade que ajuda a enriquecer a experiência. Produtora de vinhos desde 1738, foi uma das primeiras a engarrafar vinhos sob marca própria.

Com cerca de 75 hectares de vinhedos próprios, a propriedade abriu suas portas em 1995 e, hoje, oferece visitas guiadas com degustação, experiências gastronômicas (como piqueniques em certas datas), passeios de barco com provas de vinho (210 €) e spa.

As visitas guiadas junto de degustação custam a partir de 15 € (a combinação com queijos sai por 22 €). Em datas específicas, experiências gastronômicas são feitas pelos arredores dos vinhedos, como um piquenique com a harmonização de dois vinhos do Douro e um vinho do Porto. Vale lembrar: não se esqueça de agendar antecipadamente.

Menin Douro Estates

Território da Menin às margens do Douro / Reprodução/Instagram

Como tudo que gira em torno da produção de vinhos no Douro, a paisagem é das mais deslumbrantes. E foi exatamente aqui, em um recorte de 72 hectares onde a Quinta da Costa de Cima e a Quinta do Sol se encontravam, que nasceu a Menin Douro Estates.

Apesar de nova, a marca, sediada em Gouvinhas, na cidade de Sabrosas, traz consigo a história de um rico terroir localizado na sub-região do Cima Corgo, com destaque para o rótulo Douro’s New Legacy, que trouxe uma edição exclusiva e limitada de 3.625 garrafas, criteriosamente selecionadas pelos enólogos da companhia.

Além do bom vinho e da paisagem tipicamente duriense, a Menin Douro Estates também produz ótimos azeites que ajudam a colocar a vinícola entre as imperdíveis da região.

Horta Osório

Do Cima Corgo para o Baixo Corgo! A Horta Osório passou por um rebranding depois da aquisição feita pela Menin Wine Company e agora se chama apenas H.O, em que repete os passos dados pela primeira vinícola do grupo na região. Assim, ela dá continuidade à história de um bom terroir para a produção de grandes vinhos no Douro.

Para chegarmos na Quinta do Pontão, onde ficam os 55 hectares de vinhas da H.O na freguesia de Cumieira, em Santa Marta de Penaguião, é preciso dirigir por estreitas e sinuosas estradas que cortam o Vale.

E apesar de longa e um pouco mais lenta por conta das curvas que margeiam dezenas de propriedades, a jornada tem uma recompensa visual que faz valer a pena. Do alto da montanha é possível ver toda a região. Uma dica? Aproveite o pôr do sol por ali com uma taça de vinho. Inesquecível!

Quinta do Vallado

Uma coisa é certa quando decidimos ir ao Douro: o encontro com a história. A cada quilômetro rodado entre as deslumbrantes paisagens, revivemos um pouco o que aconteceu ao longo dos séculos de vitivinicultura.

A Quinta do Vallado é um desses lugares que faz esse convite. Construída em 1716, é uma das mais antigas do Vale do Douro e apresenta, por meio das próprias plantações, uma viagem pelo tempo, com vinhas velhas plantadas entre as décadas de 1920 e 1950.

A adega da quinta, localizada em Peso da Régua, fica aberta para degustações mediante marcação prévia. Há também workshops, almoços e jantares vínicos na propriedade.

E para quem gosta de dormir na história, a Quinta do Vallado ainda oferece hospedagem. Há cinco quartos na Casa Tradicional, do século 18, e outros oito quartos num segundo edifício mais moderno, construído em 2012. As construções seguem a autenticidade da região e surpreendem com seus traços e linhas.

Vale destacar ainda que há uma outra propriedade da marca em Foz Côa, no Douro Superior, chamada de Casa do Rio. É também uma hospedagem supercharmosa de oito quartos que fica entre a vinha e o rio, sobre um laranjal, e com uma deslumbrante vista para o entorno.

Quinta das Carvalhas

Vista para o Douro a partir da Quinta das Carvalhas / Reprodução/Instagram

Por falar em história, remontamos ao século 18 em uma das maiores e mais antigas propriedades vinícolas do Vale do Douro, a Quinta das Carvalhas.

Fundada em 1756 pelo Rei de Portugal à época, D. José I, a quinta reúne riqueza histórica, bons vinhos e uma vista deslumbrante.

Por mais que esta união seja recorrente e quase redundante no Douro, é preciso trazê-la à tona novamente quando falamos da Quinta das Carvalhas, que faz parte da Real Companhia Velha – mais antiga empresa de vinhos de Portugal, que tem ainda outras quatro quintas no Alto Douro Vinhateiro.

A quinta situa-se na margem esquerda do Douro em frente à vila do Pinhão, na freguesia de Ervedosa do Douro, localizada na sub-região de Cima Corgo.

São várias as atividades enoturísticas que podem ser realizadas por aqui: degustações, visitas guiadas, passeios a bordo de pequenos veículos pela propriedade, caminhadas, experiências na época da vindima e compras na lojinha. Os preços e atividades podem ser consultados aqui.