A praia no Caribe onde aviões passam a poucos metros das cabeças dos banhistas

Colada ao aeroporto de St. Maarten, praia Maho é atração mundialmente famosa onde rajadas de ventos dos motores a jato empurram turistas na areia; bares e hotéis luxuosos se beneficiam dos visuais instagramáveis

Avião aterrissa no Aeroporto Internacional Princesa Juliana; pista fica à beira da praia de Maho, em St Maarten
Avião aterrissa no Aeroporto Internacional Princesa Juliana; pista fica à beira da praia de Maho, em St Maarten Saulo Tafarelo

Saulo Tafarelodo Viagem & Gastronomia

St. Maarten, ilha de São Martinho, Caribe

A areia é branca e a água tem um tom azul turquesa que parece ter saído diretamente de um filtro do Instagram. Junte isso a um irresistível céu azul e a altas temperaturas e você terá uma praia paradisíaca no Caribe.

Só há um porém: enormes aviões de companhias aéreas internacionais aterrissam a pouquíssimos metros das cabeças dos banhistas com direito ao som estrondoso dos motores e rajadas fortíssimas de ventos.

Assim é Maho Beach, uma das praias mais famosas do mundo que fica colada à pista do Aeroporto Internacional Princesa Juliana, em St. Maarten, lado holandês da ilha de São Martinho, no Caribe.

Principal porta de entrada para a ilha – que também possui território francês, chamado de St. Martin – e para outras pequenas ilhas ao redor, como Saba, St. Eustatius, St. Barths, Anguilla, Dominica e Nevis, o Princesa Juliana figura ano após ano nas listas dos aeroportos mais extremos e peculiares do mundo.

A praia também aparece entre as mais conhecidas do mundo com a ajuda de milhões de fotos e vídeos on-line, os quais levam fama à região por conta dos turistas que se “aventuram” com os intensos ventos das aeronaves.

A proximidade da pista com as areias, aliada ao cenário arrebatador do entorno, faz com que a praia seja não somente propícia para banhos, mas também uma das atrações turísticas mais visitadas da região, com direito a bares disputados e até resort luxuoso que se beneficia das vistas para a baía.

Atração popular

“É divertido estar aqui! Nos finais de semana nos juntamos quando os grandes aviões da Air France e da KLM aterrissam e tomamos cuidado com o vento na estrada” diz Steve Small, turista de Toronto que frequenta a ilha há pelo menos 20 anos e já esteve em Maho Beach diversas vezes.

Ele é um dos inúmeros visitantes que se aninham todos os dias nas areias da praia e, com o celular em mãos, esperam aterrissagens e decolagens com base no mapa interativo do site FlightRadar24, ferramenta que ajuda a rastrear voos que chegam e saem do aeroporto.

Assim é possível determinar vários detalhes para que as fotos – e toda a experiência – fiquem mais completas, como companhia aérea, modelo e local de partida ou destino da aeronave.

Maho Beach em 2018, meses após a passagem do Furacão Irma em setembro de 2017 / Corey Seeman

De acordo com informações da administração, 34 são os destinos atendidos diretamente do aeroporto, com serviços de companhias aéreas dos EUA, Canadá, Europa, América Latina e Caribe.

Os voos diretos mais famosos são os de Paris operados pela Air France e de Amsterdam pela KLM, ambos a bordo de Airbus A330-200. O modelo possui 58,82 metros de comprimento e capacidade para até 260 passageiros.

Até 2016, o grande protagonista dos ares aguardado pelos turistas era o característico Boeing 747 azul da KLM.

A enorme aeronave fez sua última viagem ao Aeroporto Internacional Princesa Juliana em 28 de outubro daquele ano, fato que foi considerado como o “fim de uma era” uma vez que o avião era o campeão nas milhares de fotos e vídeos do aeroporto que existem aos montes na internet.

O último pouso do “rei dos céus” lotou a praia de Maho de turistas e entusiastas da aviação e, antes da decolagem de volta, o avião chegou a ser batizado com o tradicional arco d’água.

“Jet Blast”, a onda do vento

Entre a areia da praia e a pista do aeroporto há apenas uma rua estreita onde os carros passam rentes à uma mureta e a cerca da pista.

Esta última é local onde alguns mais “corajosos” ficam para esperar e “surfar” no famoso jet blast, fortíssimas rajadas de vento provocadas pelos motores a jato das aeronaves, principalmente antes e durante a decolagem.

A prática é desencorajada pelas autoridades locais e placas dispostas na cerca deixam um recado claro: “o jet blast de decolagens e aterrissagens pode causar danos físicos graves e resultar danos corporais extremos e/ou morte”.

Placas próximas à pista alertam turistas sobre os perigos dos fortes ventos causados pelas aeronaves / Saulo Tafarelo

A mensagem faz um alerta, mas não afasta os turistas. Mesmo sem estarem pendurados na cerca, eles se reúnem na areia na direção das turbinas e esperam pelos intensos ventos que vêm acompanhados pelo forte barulho dos motores – para se ter uma ideia, as rajadas produzidas por uma aeronave podem chegar a 190 km/h.

O desafio então é tentar se equilibrar enquanto os ventos levantam a areia e fazem com que a visão fique deturpada – alguns turistas chegam até a ser arrastados a alguns passos próximos d’água.

“É um pouco arenoso, mas uma experiência adorável”, diz aos risos Russ, turista da Inglaterra que se aventurou nas areias com os ventos causados pela decolagem de um Airbus A321 da companhia norte-americana JetBlue.

Esta foi a segunda vez do turista na praia à época da visita da reportagem do CNN Viagem & Gastronomia em Maho Beach. Por que então o retorno? Ele cita a experiência como “emocionante” e ressalta a “bela paisagem”.

A praia: bares e hotéis sofisticados

Maho Beach é cercada de bares e hotéis de ambos os lados com vistas voltadas para a praia.

A pouquíssimos passos da pista do aeroporto fica um dos points mais conhecidos de toda St. Maarten, o Sunset Bar and Grill.

O local é queridinho dos plane spotters, os entusiastas na observação e fotografia de aeronaves, e possui deque aberto com mesas que dão diretamente para a praia.

Hambúrgueres e pizzas fazem parte do cardápio, estas últimas batizadas com nomes de companhias aéreas que operam no aeroporto e expressões que remetem à aviação. O local tem até piscina, assim como uma televisão com todos os voos que chegam e saem do aeroporto ajuda os clientes a se programarem para o clique perfeito.

Já quem chega de avião e está sentado na fileira “A” da aeronave consegue, bem próximo da aterrissagem, avistar da janela uma construção luxuosa com alguns indivíduos numa piscina.

É o Sonesta Ocean Point Resort, hotel de 130 suítes voltado apenas para adultos construído em cima de um penhasco ao lado do Sonesta Maho Beach Resort, Casino & Spa, este com 420 quartos e voltado para famílias.

Vista da janela da fileira A das aeronaves que pousam em St. Maarten dão para os hotéis do grupo Sonesta / Divulgação

A área da piscina hexagonal e do bar, que leva o nome da pista do aeroporto, é onde os hóspedes podem saborear coquetéis com vistas privilegiadas da Baía de Maho e fazer cliques para lá de fotogênicos da chegada dos aviões.

Segundo o hotel, a localização da construção foi escolhida pela praia e pela vista para o mar.

“Como o tráfego do aeroporto cresceu no final dos anos 70 e nos anos 80, a vista para os aviões se tornou uma nova atração para os hóspedes”, escreveu a assessoria de imprensa do hotel ao CNN Viagem & Gastronomia.

O Sonesta Ocean Point foi reconstruído e reaberto em 2014 como é conhecido hoje, mas o local dava lugar antes ao Concord Hotel, inaugurado no começo da década de 1970.

À época, o aeroporto ainda era pequeno e pouco movimentado, mas o Concord chegou a mudar de nome em 1981 depois que a emblemática aeronave supersônica Concorde fez seu pouso inaugural na ilha – a letra “e” foi então adicionada ao nome do hotel.

Além das curiosidades, é de se esperar que as suítes que ficam de frente para a baía de Maho sejam as mais disputadas. Ao todo, com os dois hotéis combinados, mais de 300 quartos são voltados para o mar.

“Os quartos voltados para Maho Bay, Maho Beach e o caminho de acesso à Runway 10 [pista do aeroporto] são definitivamente os mais procurados pelos nossos hóspedes”, confirma a assessoria.

Um dos quartos populares no Sonesta Maho Beach Resort é a Sky Loft Suite, no 9º e 10º andar, acomodação em estilo estilo loft com sala de estar e uma varanda com vista para as aterrissagens

Já no resort irmão a cobertura é a que possui as paisagens mais privilegiadas para a praia, em que um amplo terraço privativo tem vistas deslumbrantes para o entorno.

Quem quiser comer olhando os aviões pousarem em meio às águas azuis do Caribe também tem lugar certo: o Azul Restaurant, dentro do Sonesta Ocean Point, que é aberto também a não hóspedes.

O aeroporto

A história do aeroporto remonta a 1944, quando a então Princesa Juliana dos Países Baixos visitou a região e o abriu oficialmente para civis após ter sido usado por algum tempo como base aérea.

À época, o aeroporto estava situado em outro local da ilha e tinha uma pista de cerca de 650 metros, segundo informações oficiais.

Em março de 1964 veio a mudança: o então primeiro-ministro holandês Barend Biesheuvel inaugurou a nova facilidade no local onde é situada hoje, nas redondezas de Simpson Bay, e foi apenas em 2006 que Beatriz, então Rainha dos Países Baixos, inaugurou o atual terminal de passageiros, que possui 13 portões de embarque.

Apelidado de SXM, que remete ao código da Associação Internacional de Transportes Aéreos (IATA), o aeroporto tem uma única pista para pousos e decolagens com 2,3 km de extensão e 45 metros de largura.

E uma curiosidade: o aeroporto não funciona durante à noite, com raras exceções de pousos e decolagens quando a luz do sol cai.

Além disso, são poucas as vezes que as aeronaves decolam com o nariz voltado para a praia de Maho – o contrário, que serve como a atração turística com o jet blast nos turistas, é o mais comum.

De acordo com dados da administração, o número médio anual de passageiros no aeroporto é de 1,8 milhão; os dados também apontam que a facilidade chega a ser responsável por 60% do produto interno bruto de St. Maarten.

Hoje, quem chega e sai de SXM nota que o terminal do aeroporto tem passado por grandes reformas, as quais já duram cerca de cinco anos devido às destruições causadas pela passagem do Furacão Irma em 2017, que deixou um rastro de estragos por todo o Caribe.

Telhados foram arrancados, aeronaves foram danificadas e uma grande quantidade de areia e inundação de água atingiu a pista.

O terminal tem funcionado desde então apenas com cerca de ⅓ da capacidade e espera-se que as obras terminem no fim de 2023. Por enquanto, o slogan aponta para frente: “Desculpe a inconveniência enquanto estamos construindo o aeroporto do futuro”.