Paraty incrível: história, cultura e dicas para sua viagem

Patrimônio Cultural e Natural da Humanidade, cidade histórica encanta por seu charme, tranquilidade e diversidade de atividades

Daniela Filomeno na histórica Paraty, no litoral fluminense (Foto: acervo pessoal)

No segundo episódio do CNN Viagem & Gastronomia* desembarquei na histórica Paraty, na Costa Verde, litoral do Rio de Janeiro, onde andei pelas ruas de pedras da cidade do Brasil colônia ainda preservadas, mergulhei em águas transparentes em ilhas praticamente intocadas graças ao tombamento histórico do local e conheci histórias de quem nasceu ou quem adotou a cidade e ajuda a transformá-la em um dos destinos mais requisitados por turistas no Brasil.

Além disso, ainda descobri como a família real foi essencial para construir e preservar Paraty, em uma entrevista exclusiva com dom Joãozinho, um representante da monarquia que faz questão de manter intocada a história da família e do Brasil; conheci pousadas que oferecem conforto e luxo na medida certa; visitei restaurantes que misturam a comida servida na época mais rica no ciclo do ouro com a comida contemporânea; e ouvi histórias de pescadores que já são a terceira geração em Paraty e que não trocariam o que fazem por nada neste mundo.

Prepare-se para desvendar a Paraty secreta, onde o tempo passa devagar e a mistura de mar e montanhas nos mostra uma beleza diferente a cada nova viagem. Vamos nessa?

Cidade requisitada

Um dos lugares mais desejados do Brasil para o turismo, Paraty é perfeita para seus dias de lazer. Seja por um fim de semana, seja por dez dias ou um mês, a cidade reserva um mundo de oportunidades para ser desbravado. De acordo com a publicação Demanda Turística Internacional no Brasil, do Ministério do Turismo, a cidade faz parte da lista dos dez destinos mais procurados por turistas estrangeiros que estiveram no país a passeio em 2019, ano que antecedeu a pandemia. Sol e praia, cultura, natureza, ecoturismo e aventura foram as principais motivações para essa escolha, segundo o levantamento.

As charmosas ruas históricas do centro de Paraty (foto: divulgação CNN Viagem&Gastronomia)

Mas outras inúmeras razões poderiam ser citadas para Paraty atrair tantos olhares e interesses. É uma cidade que reúne tudo o que há de melhor: passear, comer bem e, de quebra, poder conhecer e ver parte importante da história e da economia do desenvolvimento do Brasil diante dos próprios olhos. Andar por suas ruelas de pedra é como uma aula. Não à toa, ganhou o título de Patrimônio Cultural e Natural da Humanidade pela Unesco em 2019.

Seu conjunto arquitetônico de estilo colonial, com suas casinhas brancas de janelas coloridas e casarões tão próprios, carregam inúmeras referências e simbologias – muitas vezes até misteriosas, desvendadas pelos guias turísticos da região em passeios disponíveis pela cidade.

Localizada no litoral fluminense, Paraty tem grande parte do município dentro do Parque Nacional da Serra da Bocaina. Ela, aliás, é o único lugar onde o parque chega ao mar, em Trindade, como explica o guia Renan de Jesus Pinto da Silva, que exerce a profissão em sua cidade natal desde os anos 1980.

“Essa proximidade congrega o histórico com o natural, e é possível fazer trilhas pela mata e ter acesso a belas cachoeiras. Ainda no entorno, há a possibilidade de visita aos alambiques de produção da aguardente de Paraty, tão famosa em nossa história tupiniquim”, ressalta.

História. O guia explica ainda que há divergências entre os historiadores sobre a data de fundação da cidade. Segundo suas pesquisas, ela teria começado como um vilarejo, no alto do Morro da Vila Velha, em 1531. Mais tarde, com o crescimento, foi descendo para a região em que hoje está seu centro, que se desenvolveu ao redor de uma igreja dedicada à Nossa Senhora dos Remédios, em um terreno doado por uma senhora chamada Maria Jácome de Mello, por volta de 1640.

“Ela fez essa doação com a condição que fosse construída essa igreja pela devoção de sua família à Nossa Senhora dos Remédios. Além disso, exigiu que os índios da região tivessem livre acesso entre a montanha e o mar. Essa área em que hoje está o centro histórico de Paraty vai das margens do Rio Perequê-Açu ao Paratitiba até a subida da serra. Segundo documentos, Paraty passou a ser uma vila emancipada por meio de uma carta régia de 1667. Seu primeiro nome foi Vila Nossa Senhora dos Remédios de Paraty”, conta Renan.

“A igreja, apesar de estar no mesmo lugar e trazer a mesma simbologia, já não é mais a original (menor, feita de taipa e sapê). A atual construção é a terceira matriz no local, terminada em 1863”, esclarece.

A importância econômica do município se iniciou no período colonial, com o ciclo do ouro e sua passagem obrigatória por Paraty. Seus engenhos – com a produção de aguardente e açúcar – e também a trilha do café – que saía obrigatoriamente do porto, após sua produção, no Vale do Paraíba – foram essenciais para a movimentação e a vida econômica da cidade. Após um período de crise, o encerramento dessas atividades e a falência de Paraty, o “ciclo do turismo” chegou para ficar nos anos 1970, após a construção da BR 101, hoje chamada Estrada Rio-Santos.

Leia mais:
CNN Viagem&Gastronomia: assista a todos os programas comandados por Daniela Filomeno
Aprenda a fazer o Polvo com purê de batata doce roxa com a chef Ana Bueno, do restaurante Banana da Terra
Onde comer, passear e fazer boas compras em Paraty

Kids: a histórica Paraty e suas belezas naturais
Bons ‘happy hours’ em Paraty, por Tetê Etrusco

Além do centro histórico. Com frutos do mar fresquíssimos diretamente para a mesa, drinques gostosos para serem apreciados vendo o pôr do sol e diversas opções de passeios disponíveis, Paraty vai além de seu centro histórico. Ela oferece grandes prazeres, como pegar um barco e sair para mergulhar em uma das enseadas de sua enorme e exuberante baía, tomar um banho em uma de suas inúmeras e cristalinas cachoeiras em um dia de calor, caminhar no fim da tarde pela beira-rio, remar de stand-up na Praia do Jabaquara, caminhar até a Praia do Sono por uma trilha pela mata atlântica, alugar uma bicicleta e pedalar sem rumo.

Quer programar sua viagem para lá? Então anote as dicas.

Como chegar?
Paraty está localizada no litoral fluminense. Se você esteja no eixo Rio-São Paulo, sua chegada fica mais fácil. Caso você more fora desses estados, a dica é pegar um avião até uma dessas cidades. São cerca de 270 quilômetros da capital paulista e 240 quilômetros da Cidade Maravilhosa: basta um carro ou um ônibus e aproveitar a estrada. O que muita gente não sabe é que Paraty fica muito próxima de Ubatuba, no litoral norte de São Paulo. Se você estiver por lá, vale a pena fazer um bate-volta, porque são apenas 70 quilômetros de distância.

Paraty também tem um aeroporto para aviões de pequeno porte. No fim de janeiro, a companhia aérea Azul começou a disponibilizar voos diretos partindo de São Paulo e do Rio de Janeiro. Para mais informações, como horários e valores, acesse o site oficial da empresa.

Onde se hospedar?
Por ser uma cidade turística, opções de hospedagem não faltam. Há para todos os bolsos; mas, se você não dispensa conforto e sofisticação, separamos ótimas sugestões que farão sua estadia ser incrível.

Casa Turquesa

Casa Turquesa
Um dos locais mais tradicionais para se hospedar, a Casa Turquesa fica no Centro Histórico de Paraty (Foto: reprodução Instagram)

Em um casarão secular, o hotel-butique está a poucos passos do centro histórico. As amplas janelas e os balcões dão charme ao espaço, assim como os tradicionais telhados típicos das residências coloniais. Ao redor da casa estão as montanhas, a Igreja de Santa Rita, construída em 1722, a baía de Paraty e suas ilhas. A isso somam-se os confortos da hotelaria contemporânea, como os lençóis de algodão egípcio, as cores quentes, que enfeitam todo o hotel, e os materiais naturais, como madeira e pedra, para dar vida aos móveis e ares de praia chique à casa. Confira a matéria completa aqui.

Rua Doutor Pereira, 50 / Tel.: (24) 3371-1037

Pousada Literária

Situada no coração do centro histórico, a Pousada Literária é tombada pelo Patrimônio Histórico e um convite ao descanso cercado por sofisticação. Exuberância natural também é outro ponto alto do destino, que é oficial da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) desde 2012. A literatura, aliás, dá o tom da casa. Não à toa, há uma grande biblioteca por lá e o restaurante chama-se Quintal das Letras, super-requisitado e aberto ao público.

Rua do Comércio, 362 / Tel.: (24) 3371-1568

Casa Mar

A caminhada até a praia dura cinco minutos. Um pouco mais adiante está o centro histórico. A ótima localização é apenas um dos diferenciais desta pousada, que está dentro de uma charmosa vila de pescadores. A piscina, por exemplo, tem vista livre para o mar e de lá vislumbra-se o pôr do sol. A decoração minimalista confirma a sofisticação e o conforto de todo o espaço garante dias de relax absoluto.

Rodovia BR 101, 565

Casa Mar tem piscina com vista para o mar e muito conforto (Foto: reprodução Instagram)

Casa Colonial

Também nas construções históricas de Paraty, este hotel-butique está na badalada Rua Geralda, tem um jardim encantador e é dividido em dois: a Casa Simon, com cinco confortáveis suítes, e a Casa Colonial 12, com três grandes quartos, ambas igualmente luxuosas e decoradas com esmero e aconchego máximo.

Rua Dona Geralda, 200 / Tel.: (24) 97401-8036

Pousada do Sandi

A pousada fica num casarão histórico com arquitetura do século XVIII que estava abandonado até o início dos anos 1980. Porém, após seis anos de reforma, nasceu o Sandi, uma das primeiras pousadas de luxo do pedaço. Ali o contemporâneo e o colonial se misturam com maestria, em que a decoração tropical é recheada de obras de artistas locais. São 27 acomodações de tamanhos e categorias diferentes ligadas pelo conforto. Em comemoração aos 30 anos, a pousada passou por melhorias: a paleta de cores para lá de colorida, mas sem exageros, é uma ode às maravilhas de Paraty, assim como os pisos originais de madeiras nobres foram restaurados. Ainda há uma memorabilia de cinema, incluindo um projetor 35 mm, cartas originais de Rita Hayworth para Jack Warner e recordações de Alfred Hitchcock, refletindo o ramo em que a família proprietária atua.

Largo do Rozário, 1 – centro histórico 

Marquesa

Em frente à Igreja Matriz, no centro histórico, um imponente conjunto de construções dos séculos 18 e 19 forma a pousada, que funciona ali desde 1989. Como tudo em Paraty tem história, a hospedagem orgulha-se de conservar características de tempos passados, a exemplo de retratos a óleo de antigos proprietários pendurados nas paredes que complementam o ambiente, junto de móveis coloniais. No total, há 20 apartamentos amplos e uma suíte, que contém dois ambientes, todos decorados individualmente e com peças autênticas do acervo familiar. A piscina quadrada é charmosa, rodeada de espreguiçadeiras e sombreada por árvores centenárias.

Rua Dona Geralda, 292, centro histórico

Casa Colonial 12 tem três grandes quartos aconchegantes para sua estadia. Há outras opções de acomodações no hotel (Foto: reprodução Instagram)

O que fazer?

Paraty é gastronomia, é história, mas também é passeio!

City tour

Andar sem pressa pelo centro de Paraty, apreciar o artesanato, tomar um sorvete e conversar com os locais são coisas quase obrigatórias.

Passeio de barco

Passear de barco em Paraty também é um programa tradicional. A vista para a mata atlântica durante toda a extensão da baía é incrível. Há diversas opções de embarcações, que podem ser contratadas de forma particular no porto de Paraty – e essa é a melhor alternativa, assim consegue-se parar em cantinhos vazios para mergulhar tranquilamente. São 65 ilhas na região, ou seja, muitos lugares para desvendar de barco. Entre as praias mais vazias, recomendo:
Ilha dos Cocos
Ilha do Pico
Ilha Comprida do Norte
Ilha do Malvão
Praia do Engenho
Praia de Santa Rita
Ilha da Rapada (não tem praia, e sim um paredão verde maravilhoso).

Degustação de cachaças

Daniela Filomeno em degustação das famosas cachaças Maria Izabel (Foto: acervo pessoal)

cachaça Maria Izabel é produzida de maneira artesanal desde 1996, no Sítio Santo Antônio, à beira da baía de Paraty, com a cana plantada ali mesmo. Sua qualidade – que a faz figurar entre as melhores do país – é garantida pela atenção e o cuidado em cada etapa da produção, desde o plantio da cana até a cachaça chegar à garrafa.

A proprietária, Maria Izabel, envolve-se diretamente em cada uma das etapas, inclusive encarregando-se do preparo do fermento – sua cachaça é a única em Paraty ainda feita de fermento artesanal, a partir de uma receita tradicional da região. Outro detalhe importante – tornando-a a cachaça com o menor índice de acidez entre as de Paraty – é o uso exclusivo da cana colhida no próprio sítio ou em plantações próximas: assim que cortada, a cana começa a fermentar, e moê-la o quanto antes, no mesmo dia, faz diferença significativa. Por conta da pandemia, o sítio está fechado para visitação, porém em breve deve voltar a receber os turistas.

Mergulho

Se você é um adepto do mergulho ou morre de vontade de experimentar, as águas da baía de Paraty são perfeitas! Com pouca sorte você poderá ver inúmeros peixes, estrelas-do-mar, tartarugas e raias.

Caminhada

Se você gosta de caminhar e não tem medo de subida, uma excursão pelo Saco do Mamanguá por terra e mar é muito legal. Escalar o pico, para ter aquela vista espetacular, ou navegar em canoas canadenses pelo manguezal são dois programas sensacionais! Faça em diferentes dias.

Praias imperdíveis

Visitar a Praia do Sono, Antigos e Antiguinhos será um passeio bem legal para quem gosta de caminhar e curte praias lindas e selvagens.

Cachoeira

Mais aventura? Descubra uma das lindas cachoeiras por aqui com vista para o mar, como a Cachoeira do Saco Bravo. A chegada é muito difícil, é necessário ter um bom preparo físico, mas é deslumbrante! Aconselhamos a ir com um guia e só se você for mesmo bem aventureira e esportista.

Outros passeios

E tem mais: passeios a cavalo, jipe tour, aulas de cerâmica, visita às comunidades caiçaras ou ao quilombo, observação de aves, caminhada com um biólogo para conhecer as maravilhas que nossa floresta oferece, como a diversidade de cogumelos. Passar o dia em Cunha visitando os ateliês de cerâmica também pode ser muito gostoso.
Rodovia Rio-Santos, km 565,5 – Praia Grande – Paraty (RJ)/Tel.: (24) 99822-3737

Confira ao episódio completo do CNN Viagem&Gastronomia em Paraty no nosso canal do YouTube:

*O programa CNN Viagem & Gastronomia vai ao ar todo sábado, às 21h, na CNN Brasil. A CNN está no canal 577 nas operadoras Claro/Net, Sky e Vivo. Para outras operadoras, veja aqui como assistir. Reprise: domingo, às 04h00, 13h10 e 20h40; Segunda-feira, às 02h00