Restaurado e ampliado, Museu do Ipiranga reabre em 8 de setembro

Fechado para visitação desde 2013, espaço foi modernizado e abrirá ao público com novas exposições e o dobro da área construída; conheça detalhes de todas as exposições

Museu do Ipiranga reabre as portas ao público depois de nove anos; entrada será gratuita por dois meses
Museu do Ipiranga reabre as portas ao público depois de nove anos; entrada será gratuita por dois meses Wikimedia Commons

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Após nove anos fechado, o Museu do Ipiranga da USP reabrirá as portas ao público no dia 8 de setembro. Totalmente restaurado, o espaço, localizado no Parque da Independência, em São Paulo, promete ser um dos museus mais completos e modernos da América Latina.

Serão 11 novas exposição de longa duração e 1 temporária, que contarão com um número recorde de itens de acervo restaurado.

No total, serão expostos 3.058 itens pertencentes ao acervo do Museu, 509 itens de outras coleções e 76 reproduções e fac-símiles. A maior parte dos objetos data dos séculos 19 e 20, mas há itens mais antigos, que remontam ao Brasil colonial.

As mostras contemplam pinturas, esculturas, objetos, móveis, moedas, documentos textuais, fotografias, objetos em tecido e madeira que trazem discussões sobre a sociedade brasileira, desde a esfera íntima da casa até a vida social, e sobre o próprio museu, suas atribuições e funcionamento.

Programação de abertura

No dia 6 de setembro, o local abrirá as portas primeiro para autoridades e patrocinadores. No dia 7, data em que é celebrada a Independência do Brasil, haverá uma inauguração simbólica para 200 estudantes de escolas públicas de São Paulo.

Já na quinta-feira, a partir das 11h, o espaço começará a receber o público, que poderá entrar gratuitamente até dia 6 de novembro. Os interessados deverão realizar um agendamento no site do Museu, que estará disponível a partir do dia 6 de setembro.

A expectativa é que a instituição passe a receber entre 900 a 1 milhão de visitantes por ano.

Projeção do Museu do Ipiranga, que ficou fechado desde 2013 e reabrirá as portas na próxima semana / Divulgação

O período de reforma e novidades

Estimada em R$ 235 milhões, a reforma deu uma cara nova ao museu e contou com recursos captados entre a iniciativa privada e pela Lei Federal de Incentivo à Cultura.

Agora, o público encontrará um espaço moderno e acessível, com elevadores e escadas rolantes por todas as partes. As obras dobraram o tamanho do Museu e triplicaram a área expositiva, passando de 12 para 49 salas.

O novo espaço expositivo abrange todas as áreas do Edifício-Monumento, incluindo locais antes sem acesso ao público, e outros que não existiam.

O circuito conta com 70 peças multimídia, salas imersivas, espaços interativos e acessibilidade, com cerca de 390 recursos multissensoriais disponíveis para todos os públicos, como telas táteis, maquetes e réplicas ampliadas de diversos itens do acervo.

“De 2013 a 2022, o Museu do Ipiranga enfrentou diversas tarefas difíceis, mas sempre com uma equipe multidisciplinar de especialistas”, conta a professora Rosaria Ono, diretora da Instituição.

Até 2017, foram realizadas a avaliação e prognóstico do edifício, a retirada de todo o acervo e realocação das obras em reservas técnicas, e a abertura de edital público para escolha do projeto arquitetônico. Em seguida, foi feita a captação recursos. As obras iniciaram em outubro de 2019.

“Desde então, foram menos de três anos, passando por uma pandemia, em que realizamos as obras de restauro, a ampliação e a modernização, incluindo tecnologias de ponta para combate anti-incêndio e medidas de sustentabilidade”, comenta.

Mais de 3 mil objetos que estarão expostos na reabertura foram restaurados. Dentre eles, 122 pinturas e duas maquetes de grande porte.

Algumas obras, por suas dimensões, não saíram do prédio histórico e foram restauradas in loco – é o caso do emblemático quadro Independência ou Morte, de Pedro Américo, da maquete São Paulo em 1841, do holandês Henrique Bakkenist, e das estátuas de mármore e bronze.

Emblemático quadro Independência ou Morte, de Pedro Américo. no Salão nobre do Museu do Ipiranga / Divulgação

Conheça as 12 exposições do Novo Museu do Ipiranga

No Novo Museu do Ipiranga, o público vai se deparar com 12 exposições – 11 de longa duração e uma mostra temporária. As de longa duração são divididas em dois eixos temáticos: “Para entender a sociedade” e “Para entender o Museu”.

Para Entender a Sociedade
Esse eixo apresenta para o público as pesquisas desenvolvidas pelo corpo docente do Museu e dizem respeito a processos sociais ligados aos imaginários que alimentam histórias do Brasil, ao universo do trabalho, e à constituição dos espaços domésticos como lugares de formação de identidades.

1. Uma História do Brasil: a exposição compreende o hall, a escadaria principal e o Salão Nobre e tem como acervo principal as obras de arte que estão integradas à arquitetura, como a tela Independência ou Morte, de Pedro Américo.

O conjunto de obras constitui uma versão da história do Brasil produzida para as comemorações do centenário da Independência em 1922.

A exposição coloca em questão a noção de realidade dessa narrativa, a escolha dos personagens e o modo como esta versão da história do Brasil se subordina à história paulista. Propõe uma discussão contextualizada sobre esses documentos tridimensionais que mostram uma visão histórica difundida na década de 1920.

2. Passados Imaginados: exibe telas de grandes dimensões, além da maquete de gesso representando a cidade de São Paulo em 1841, que ganhou novos recursos tecnológicos.

O foco é demonstrar que os acontecimentos representados nessas obras não são uma janela para o passado que está ali representado, e sim o processo de criação de artistas em determinadas épocas.

Acostumado a entender estas representações como cenas verídicas, por conta do modo como foram apresentadas nos livros didáticos, o público encontra nessa exposição a recontextualização das obras de arte para serem compreendidas dentro do sistema que as produziu.

3. Territórios em Disputa: aqui estão expostos os objetos mais antigos do Museu ligados à colonização e que remontam aos séculos 16 e 17.

São objetos em pedra, cartas de sesmaria, mapas e outros documentos que contam como os europeus implantaram nas terras coloniais noções de território que se materializaram não apenas por meio de legislação ou da força bruta, mas pelo uso de objetos inéditos para os povos indígenas.

4. Mundos do Trabalho: a exposição trata do universo do trabalho num amplo espectro de atividades desde o período colonial até os dias atuais.

Pretende lançar luzes sobre o trabalho anônimo de indígenas, negros escravizados, forros, homens livres, migrantes, imigrantes e, com isso, trazer questões centrais para a compreensão do trabalho nos dias de hoje.

Uma delas será demonstrar que o trabalho manual ou seriado não pode ser desconectado do trabalho intelectual, divisão muito comum e que desvaloriza o trabalho feito com o corpo, especialmente com as mãos. A exposição inclui ferramentas de marcenaria e mecânica de Santos Dumont.

5. Casas e Coisas: expõe o processo de transformação de especialização dos espaços da casa que levou a compartimentações como áreas sociais, íntimas e de serviço.

A casa era um lugar multifuncional – o lugar onde se cultivava alimentos, se praticava o comércio, se produziam coisas, onde as crianças recebiam educação, se realizavam encontros culturais.

Ao longo do tempo, essas atribuições foram sendo transferidas para instituições específicas fora da casa. Ao perder essas funções tradicionais, a casa se volta para uma experiência inédita: fazer parte da formação da identidade.

É no século 19 que a palavra “interior” passa a conectar artefatos e espaços da casa ao interior psíquico de seus moradores. Essa mostra não trata de decoração, mas de como a decoração se torna a expressão do caráter e da personalidade de seus moradores.

6. A Cidade Vista de Cima: a última exposição do eixo Para entender a Sociedade apresenta imagens que mostram os diferentes momentos da história da cidade de São Paulo e prepara o visitante para apreciar a paisagem urbana no mirante.

Para Entender o Museu
As exposições deste eixo trarão informações sobre a história do edifício, da instituição e seu ciclo curatorial (aquisição, conservação, catalogação, exposição).

Como analisar processos históricos nunca é um trabalho neutro, é fundamental tornar transparente o modo de produção desses conhecimentos, buscando distinguir memória, uma categoria social, da História, uma categoria cognitiva que permite compreender o fenômeno social da memória.

Além de uma exposição introdutória sobre esses temas, o eixo conta com mais quatro exposições, que exibirão as maiores coleções do Museu – medalhas, moedas, imagens fotográficas e pinturas e objetos do cotidiano como brinquedos e louças nacionais e estrangeiras.

Elas serão utilizadas para demonstrar o funcionamento do ciclo curatorial, discutidos a partir de quatro atividades chamadas de 4Cs – Coletar, Catalogar, Conservar e Comunicar.

7. Para Entender o Museu: exposição introdutória sobre o eixo. Conta a história do edifício e da instituição, explicando como é o trabalho na área de História e Cultura Material, como surgiu o Museu e porque ele foi instalado em um edifício projetado para ser um monumento à memória da Independência.

A mostra conta com a Maquete do Museu produzida pelo arquiteto Tommaso Gaudenzio Bezzi em 1880 e detalha a arquitetura do prédio e sua construção.

8. Coletar: imagens e objetos: amostras de nossas coleções são utilizadas para explicar as mudanças nas políticas de coleta de documentos, que levaram tanto a uma ampliação da representatividade social e cultural presente em nossas coleções quanto a uma variedade de materiais e técnicas dos objetos e imagens coletados.

Destaque para a coleção de 33 retratos em óleo do belga Adrien Henri Vital van Emelen retratando pessoas negras e indígenas.

9. Catalogar: moedas e medalhas: a prática da catalogação será explorada a partir da tradicional coleção de moedas e medalhas, que tem formas muito estabelecidas de identificação e descrição de seus materiais e suas simbologias.

10. Conservar: brinquedos: objetos de brincar de casinha figuram ao lado de carrinhos, espaçonaves e foguetes. Será possível mostrar o trabalho de conservação, desde a avaliação no momento da entrada do item na coleção, as atividades de higienização e restauração, os modos de embalar até a guarda nas reservas técnicas.

11. Comunicar: louças. Será possível mostrar como se produz uma exposição a partir de resultados de pesquisa e de como a pesquisa pode mudar o perfil das coleções. A exposição em um museu universitário de História é bem diferente da prática de simplesmente expor os objetos.

Ela está relacionada à seleção, criação e interpretação, portanto, a um processo de conhecimento que está longe de ser neutro ou de atestar uma verdade.

Exposição temporária
12. Memórias da Independência: A exposição vai inaugurar a área nova de expansão do Museu sob a Esplanada. Aqui, serão tratadas as diferentes práticas memoriais e comemorativas relacionadas ao processo de Independência, que resultaram em sucessivas celebrações ao longo dos séculos 19, 20 e 21.

Por ela, o público poderá compreender como o processo de ruptura com Portugal foi também disputado por projetos e festividades que ocorreram em São Paulo, no Rio de Janeiro (a antiga capital) e em Salvador (onde o processo de Independência só foi concluído em 1823).

A exposição abre no dia 1º de novembro e fica quatro meses em cartaz.

Museu do Ipiranga – Rua dos Patriotas, nº 100/Horário de funcionamento: de terça a domingo; de 8 a 11 de setembro das 11h às 16h; a partir de 13 de setembro das 11h às 17h/ Ingressos gratuitos até 6 de novembro mediante a agendamento pelo site.