Faz escuro mas eu canto: 34ª Bienal de São Paulo estreia com mais de mil obras

Após adiamento de um ano, maior mostra de artes visuais da América Latina inaugura em 4 de setembro com mais de mil trabalhos de 91 artistas. Entrada é mediante comprovante de vacinação contra Covid-19

Bienal começa neste sábado com o tema Faz escuro mas eu canto (Foto: © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo)

Aos poucos e com muita emoção a vida dá leves sinais de voltar, lentamente, ao que era antes da pandemia da Covid-19. Pelo menos no quesito exposições e vida cultural podemos dizer que voltou, com alguns protocolos extras, é claro, e com o nosso olhar mais ansioso do que nunca.

A tão aguardada 34ª edição da Bienal de São Paulo, que era para ter acontecido em 2020, começa no dia 4 de setembro com o título “Faz escuro mas eu canto“, verso do poeta Thiago de Mello, que coube impecavelmente para a situação atual.

Por conta do coronavírus, o projeto teve que se desdobrar no espaço e no tempo com programação tanto física quanto online, e agora culmina na mostra coletiva no Pavilhão Ciccillo Matarazzo, no Parque do Ibirapuera, simultaneamente à realização de dezenas de exposições individuais em instituições parceiras na cidade de São Paulo.

Esta será a edição da Bienal com maior representatividade de artistas indígenas (Foto: © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo)

Serão mais de 1.100 obras expostas no Pavilhão e, entre os mais de 90 artistas desta edição, há representantes de todos os continentes. A distribuição entre mulheres e homens é equilibrada, e cerca de 4% dos artistas identificam-se como não-binários. Esta será, ainda, a Bienal com a maior representatividade de artistas indígenas de todas as edições, com 9 participantes de povos originários de diferentes partes do globo (aproximadamente 10% do total).

José Olympio da Veiga Pereira, presidente da Fundação Bienal de São Paulo, diz: ” Como uma das referências conceituais da 34ª Bienal, a curadoria trouxe a ideia de ‘relação’, que, a grosso modo, alude a como podemos nos relacionar com o outro sem compreendê-lo completamente. Na verdade, a riqueza reside justamente na diferença e na diversidade. A maneira como mais de 20 instituições culturais de São Paulo se alinharam para a realização desta edição da Bienal, encontrando um modo de criarem uma programação que é coesa mas não homogênea, ou seja, que mantém a identidade de cada uma e, ainda assim, compartilha elementos em comuns, gera uma imagem simbólica muito importante para nós”.

Para além do Pavilhão

Com a intenção de ampliar os diálogos estabelecidos entre as obras e seus contextos e os possíveis pontos de contato com o público, a 34ª Bienal apresenta intervenções temporárias fora do Pavilhão da Bienal, no Parque Ibirapuera, dos artistas Clara Ianni, Eleonora Fabião, Grace Passô, Jaider Esbell, Paulo Nazareth e Oscar Tuazon.

Esculturas de Oscar Tuazón foram instaladas na área externa do Parque (Foto: © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo)

As esculturas da série Growth Rings, do estadunidense Oscar Tuazon (1975, Seattle, Washington, EUA), foram as primeiras das obras externas a ser instaladas, no início de agosto, ainda durante o período de montagem da exposição principal. Quatro anéis de madeira foram distribuídos em diferentes pontos do parque: um deles perto da rampa lateral do prédio da Bienal, onde permanecerá até 5 de dezembro, e os demais próximos ao lago e ao lado do Museu Afro Brasil, uma das instituições parceiras desta edição da Bienal. No dia 30 de agosto, as três esculturas que estiveram perto do lago foram movidas para dentro do Pavilhão Ciccilo Matarazzo, onde ficarão expostas até o encerramento da edição.

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A obra Outdoors, composta por uma série de nove esculturas de grandes proporções do artista mineiro Paulo Nazareth (muitas datas, Watu Nak, Vale do Rio Doce, MG), leva ao parque a representação, em grandes dimensões, de personagens históricos que se tornaram exemplos de resistência e luta contra opressões diversas que marcam este país: Aqualtune, Dinalva, João Cândido, José Campos Barreto e Carlos Lamarca, Juruna, Maria Beatriz Nascimento, Marighella, Marielle Franco e Teresa de Benguela. As esculturas foram produzidas em madeira revestida com chapas de alumínio, e são fixadas a estruturas metálicas sobre bases de concreto. As peças estão posicionadas em pontos diferentes do Parque Ibirapuera, próximas às vias de circulação, com medidas variadas, podendo chegar a onze metros de altura.

O artista, escritor e produtor cultural indígena da etnia Makuxi Jaider Esbell (1979, Normandia, RR) apresenta, perto das fontes do lago, uma instalação de grandes dimensões composta por dois objetos infláveis em formato de serpente, estampados em cores vibrantes e com iluminação interna, medindo aproximadamente 10 metros cada. No xamanismo indígena, a cobra é considerada um “animal de poder” e está presente como força de cura, regeneração e transformação.

A intervenção Derrubada, de Clara Ianni (1987, São Paulo, SP), consiste em uma instalação criada a partir dos mastros da Praça das Bandeiras, adjacente ao Pavilhão Ciccillo Matarazzo, onde eram hasteadas as bandeiras dos países participantes da mostra na época em que a Bienal era composta por representações nacionais (modelo extinto desde a 27ª edição, em 2006). Para a mostra, a artista propôs a criação de uma situação temporária e altamente simbólica, através da derrubada dos mastros e do rearranjo desses objetos deitados no chão, em posição perpendicular ao Pavilhão da Bienal. A restauração e reinstalação dos mastros, ao final da mostra, encerrará o movimento proposto para o trabalho.

Já o projeto de Eleonora Fabião (1968, Rio de Janeiro, RJ), intitulado nós aqui, entre o céu e a terra, parte de uma colaboração com 26 instituições públicas da cidade, localizadas em um raio de 5 km de distância do Ibirapuera. Entre os dias 8 e 16 de setembro, será realizada uma performance na qual cadeiras dessas instituições (dos setores de saúde, educação e cultura) serão levadas pelas ruas da cidade, suspensas por varas de bambu, até o Pavilhão da Bienal, onde permanecerão expostas até o encerramento da mostra. Os bambus utilizados na performance permanecerão enterrados durante os meses de duração da Bienal no Parque, em pontos determinados por uma intervenção gráfica realizada pela artista sobre uma fotografia aérea do Ibirapuera. Ao final da mostra, as cadeiras serão devolvidas, mas trocadas: nenhuma instituição vai receber sua cadeira original.

Por fim, Grace Passô (1980, Belo Horizonte, MG), estreante na Bienal de São Paulo, propõe a instalação de uma rádio de poste nas imediações do Pavilhão Ciccillo Matarazzo. Prática difundida em pequenas cidades, sobretudo do Nordeste do país, as rádios de poste são mecanismos alternativos para a circulação de informações de interesse público. A programação da rádio será concebida pela artista e poderá ser escutada tanto dentro quanto fora da mostra.

Programação pública

Foto: © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo

Para dialogar com as obras que integram o evento, foi concebida uma programação pública que inclui apresentações musicais, performances, encontros com artistas e conversas. Uma das principais frentes é a ativação da obra Deposição, de Daniel de Paula, Marissa Lee Benedict e David Rueter: uma antiga roda de negociações da bolsa de valores de Chicago foi reconstruída no vão central do pavilhão e é ressignificada pelos artistas e pelos seus usos na Bienal.

A obra poderá ser livremente ocupada pelo público e conta com uma programação de ativação com 3 eixos: conversações propostas pelas artistas Vânia Medeiros e Beatriz Cruz; apresentações de música experimental coproduzidas pela Bienal e pelo Teatro Cultura Artística, com curadoria do Festival Novas Frequências; e conversas abertas da série “As Vozes dos Artistas”.

Por fim, a 34ª Bienal propõe ainda a realização de Círculos de Arte: Inspirados nos princípios de autonomia, horizontalidade e dialogicidade propostos por Paulo Freire, os Círculos de Arte são momentos de conversa com o público que têm por objetivo a construção compartilhada de sentidos sobre as obras expostas e as possíveis relações entre elas. Serão realizados treze círculos de arte, um por semana, sobre os enunciados que organizam a exposição.

Croqueta de jamon do Tetto y Aragon (Foto: divulgação)

Os visitantes poderão conhecer o novo espaço gastronômico organizado na área externa do pavilhão. Desenvolvido em parceria entre a Urbia e a Bienal, o espaço conta com food trucks, que vão oferecer pastéis, sanduíches e sorvetes, e funcionarão de terça a quinta, das 10h às 19h, além de sextas a domingos e feriados, das 10h às 21h, e também traz o restaurante Tetto Y Aragon, especializado na culinária hispânica, que funcionará de terça a quinta, das 12h às 19h, e de sexta a domingo e feriados, das 12h às 21h.

 

34ª Bienal de São Paulo – Faz escuro mas eu canto
De 4 de setembro a 5 de dezembro de 2021
Terça, quarta, sexta-feira, domingo e feriados: 10h – 19h (entrada até 18h30)
Quinta-feira e sábado: 10h – 21h (entrada até 20h30)
Fechado às segundas
Entrada gratuita
Acesso mediante apresentação de comprovante de vacinação contra Covid-19, impresso ou on-line Pavilhão Ciccillo Matarazzo, Parque Ibirapuera