É mais seguro voar ou dirigir durante a pandemia?

Segundo infectologista americano, riscos de viagens dependem mais dos turistas que do meio de transporte escolhido

Marnie Hunter,

da CNN

viagem de carro
Dirigir oferece aos viajantes mais controle de suas interações com os outros
Foto: Reprodução/Pixabay

As pessoas estão se movendo mais com a proximidade das férias de verão do hemisfério norte e o cansaço da recomendação de ficar em casa. Muitos viajantes estão tentando fazer só passeios nos arredores de onde vivem, mas o fato é que as viagens aéreas estão em ascensão nos EUA.

Mais de 500 mil pessoas atravessaram os postos de controle da Transportation Security Administration (TSA) nos aeroportos dos EUA em 11 de junho. Foi a primeira vez em que os números superaram essa marca desde que a pandemia de coronavírus causou uma paralisação total das viagens em março.

Quem pensa em viajar deve estar se perguntando: é mais seguro viajar de avião ou de carro durante a pandemia?

Como na maioria das coisas relacionadas ao coronavírus, não existe uma resposta perfeita. Depende da viagem, do seu comportamento e da sua tolerância ao risco.

“Os riscos das viagens geralmente são mais dependentes das escolhas pessoais do viajante do que dos meios de transporte”, comentou o médico Daniel Griffin, especialista em doenças infecciosas do Columbia University Medical Center.

Paradas para comer, beber, usar o banheiro e dormir em longas viagens de carro adicionam risco. Já as viagens aéreas apresentam seus próprios desafios.

“Embora o ar nos aviões seja filtrado, o uso e a higiene das máscaras de seus companheiros de viagem podem ser inferiores ao ideal”, disse Griffin.

Os benefícios da estrada

O médico William Schaffner, especialista em doenças infecciosas da Faculdade de Medicina da Universidade Vanderbilt, acredita que viajar de carro tem uma vantagem de segurança.

“Ao dirigir você tem um controle muito maior do seu próprio ambiente e das pessoas ao seu redor. Acho essa opção mais segura no momento”, opinou Schaffner.

Mesmo com paradas para banheiros e comida, “você pode controlar seu ambiente em relação à interação com outras pessoas muito mais do que em um avião. E é claro que, independentemente do tempo que pode durar um voo, você está em um ambiente muito fechado com outras pessoas, que às vezes nem estão usando máscaras”.

Apesar disso, Schaffner revelou que, caso precisasse viajar pelo país, iria de avião – como também pensa James Armstrong, um leitor da CNN Travel.

Avião ou carro: um estudo de caso

Pai solteiro em San Diego, Califórnia, James Armstrong recentemente enfrentou a dúvida de voar ou dirigir para uma viagem em que iria tirar os pertences de sua filha do alojamento da West Virginia University.

“É mais seguro fazer quatro voos com duração de sete horas em cada sentido com até 200 outros passageiros ou ficar em pelo menos três hotéis diferentes em três estados diferentes, além de todas as paradas em restaurantes e lanchonetes ao longo do caminho?”, perguntou Armstrong.

Por fim, ele, sua filha e dois de seus filhos mais novos voaram pelo país.

Tirar duas semanas de folga do trabalho para cruzar o país de carro não era viável para Armstrong, que trabalha por conta própria. Ele também não estava convencido de que todas as interações necessárias para hospedar e alimentar sua família na viagem seriam mais seguras do que voar.

“Nós olhamos para o caso, pesamos, olhamos para o tempo, olhamos para os compromissos escolares das crianças e concluímos: ‘Vamos arriscar. A gente vai usar máscaras, levar cotonetes para limpar tudo, se precisar… E vai esperar 14 dias esperando que nada tenha acontecido’”.

A família voltou há pouco mais de duas semanas e está livre de sintomas, disse Armstrong, que viu poucas exigências de uso de máscaras em aeroportos ou mesmo durante as viagens de avião.

Um voo ignorou o serviço de bordo por questões de segurança, mas o voo de volta oferecia esse serviço. Outro voo estava menos cheio, mas com passageiros concentrados perto da saída frontal, contou Armstrong. Em resumo: o distanciamento social e as regras em aviões e aeroportos não seguem um padrão.

Precauções na estrada ou no ar

Seja qual for a sua escolha, usar máscara quando estiver perto de outras pessoas ajuda a reduzir o risco.

Isso inclui cobrir seu rosto quando passar por um drive-thru em uma viagem e manter sua máscara durante o voo.

Comer e beber em um avião traz seus desafios particulares quando os passageiros não conseguem se sentar a um metro e meio dos outros fora de sua bolha.

“Quanto mais você estiver perto de pessoas sem máscara, mais arriscado será. Então, talvez seja melhor usar sua máscara e recusar bebida ou comida durante o voo. O duro é que ninguém quer ficar desidratado”, comentou Schaffner.

O médico Griffin concorda que comer ou beber em voo acarreta riscos. “Quando as pessoas comem no avião, tendem a tocar suas máscaras, descobrem o nariz e a boca e potencialmente se expõem aos outros”, disse.

Mantenha as interações com outras pessoas no mínimo. O uso de aplicativos de check-in eletrônico e a embalagem de sua própria comida ajudam a reduzir o contato pessoal.

Lave ou desinfete as mãos com frequência e higienize superfícies que outras pessoas possam ter tocado. Mas talvez o mais importante seja verificar se você está de acordo com o nível de risco que está assumindo.

Para a família Armstrong, as viagens aéreas valem o risco. “É como andar de montanha-russa pela primeira vez. Você tem muito medo, mas, sinceramente, depois acha que foi tudo bem”, comentou James Armstrong.

Bem o suficiente para outro voo? Sim. A filha de Armstrong voou de novo nesta semana. O voo dela pela Southwest Airlines estava lotado demais para distanciamento social e a companhia aérea ligou várias vezes para ver se ela o mudaria.

Ela não mudou. Mas este é outro sinal de que não há garantia de distanciamento social nos aviões. “Não dá para prever exatamente o que vai acontecer”, disse Schaffner. “Portanto, é mais uma questão da sua tolerância a riscos.”

(Texto traduzido. Clique aqui par ler o original em inglês)