Coronavírus: o que as empresas aéreas estão fazendo para limpar os aviões

As linhas aéreas estão implementando novas medidas de higiene conforme o coronavírus se espalha —e os viajantes também deveriam, lavando as mãos frequentemente.

Francesca Street

da CNN

A indústria do turismo está sentindo o impacto do crescimento dos casos do novo coronavírus — turistas e pessoas que viajam a trabalho estão debatendo se devem cancelar ou adiar voos. Alguns países, incluindo os Estados Unidos, já implementaram restrições de viagem.

Mas os aviões ainda estão voando e viajantes ainda estão viajando, mesmo que com frascos de álcool em gel maiores e lenços desinfetantes na bagagem de mão.

Ainda assim, ao entrar na aeronave e sentar-se em seu assento, você pode se encontrar questionando a higiene a bordo —e se perguntando quão cuidadosamente foi feita a limpeza antes do seu embarque.

A CNN Travel falou com linhas aéreas, companhias de aviação e médicos especialistas para descobrir o que tem sido feito para garantir que você está voando em um ambiente tão higiênico quanto possível, e o que os passageiros podem fazer para se assegurarem ainda mais. 

Procedimento de limpeza normal

Christian Rooney é o gerente da JetWash Aero, uma empresa britânica de limpeza especializada em aviões que é responsável por fazer uma faxina na aeronave entre um voo e outro. 

Rooney diz à CNN Travel que o processo varia dependendo do cronograma planejado para cada avião.

Quando os intervalos são limitados, há o que Rooney chama de “limpeza bastante objetiva”, que consiste em remover jornais velhos e lixo deixado pelos passageiros, que é feita pela equipe de bordo ao fim do voo anterior.

“Uma limpeza básica, porém mais cuidadosa é normalmente feita a noite —ou quando há um intervalo mais longo — e inclui a limpeza dos banheiros e da cozinha, a desinfeccção de bandejas, maleiros superiores, assentos, etc. Isso pode levar uma hora ou mais”, explica Rooney.

“A linha aérea também sempre agenda uma “limpeza interior profunda”, feita mensalmente ou a cada seis semanas. Essa limpeza demora várias horas e é extremamente meticulosa”.

Produtos de limpeza e desinfetantes são aprovados pelos fabricantes de aeronaves, diz Rooney. 

“Alguns dos desinfetantes que usamos são eftivos contra uma variedade ampla de patógenos e são conhecidas por eliminar vírus complexos, com propriedades similares ao SARS, E. coli, gripe aviária, MRSA (tipo de Staphylococcus resistente à meticilina), etc.”, ele adiciona.

Esses químicos oferecem proteção antimicrobiana que dura até 10 dias, diz.

Stephanie Biron, uma comissária de bordo recém-aposentada da American Airlines, diz à CNN Travel que, em sua experiência, os padrões de limpeza do avião variam. 

“Muitas das vezes você embarca e [a limpeza] não é muito satisfatória, mas você tem que confiar que os responsáveis estão fazendo seus trabalhos, que é o que eles foram pagos para fazer”, diz. 

“Às vezes, você entra [na aeronave] e tem que procurar o zelador e dizer, ‘olha, esse avião está terrível. Nós precisamos que alguém venha aqui e refaça’. Varia o tempo todo. Às vezes você embarca de manhã e eles limparam tudo profundamente, ou ao menos te dizem que o fizeram”. 

Higiene pessoal dos passageiros 

Devido ao clima atual, algumas linhas aéreas pediram medidas adicionais, diz Rooney, da JetWash Aero. 

“Observamos um ligeiro aumento nos requerimentos e níveis de desinfecção, pulverização e fumigação da cabine, conforme as linhas aéreas buscam endereçar as preocupações sobre o coronavírus”, explica.

Mas William Schaffner, professor de medicina na divisão de doenças infecciosas da Vanderbilt University, diz que não há muito mais que as companhias aéreas possam fazer para prevenir a transmissão do coronavírus. 

Como o contágio normalmente ocorre de pessoa a pessoa, o ambiente do avião não é realmente o problema, disse Schaffner.

Ainda é boa ideia, ele diz, passar um lenço nos objetos—mas a medida preventiva mais importante é lavar as mãos.

“Ainda que haja vírus em superfícies inanimadas, não vai pular do assento e morder a sua canela. Você tem que tocá-lo e depois tocar seu nariz ou sua boca”, explica Schaffner.

“Então as mãos são o intermediário –e onde eu colocaria a ênfase. Use esse lenço em suas mãos. Essa é a coisa mais importante”.

O médico Paulo Alves, que está na conferência de Saúde em Aviação da IATA (Associação Internacional de Transportes Aéreos) em Cingapura —que está trabalhando para endereçar o impacto total do COVID-19— concorda com Schaffner.

“A ação mais simples e efetiva que turistas devem implementar é lavar as mãos frequentemente com água e sabão. Se água e sabão não estiverem disponíveis, álcool em gel pode ser usado”, diz Alves.

“Parece razoável passar um lenço sobre as bandejas do avião, lugar em que é mais provável que haja gotículas depois que alguém tosse ou espirra. Viajantes devem manter boa higiente pessoal ao embarcar, antes e depois dos voos e evitar tocar o rosto”. 

O especialista em medicina de viagem Richard Dawood concorda, e diz que esse conselho se aplica a navegar aeroportos também. “Esteja consciente de onde suas mãos passaram”, diz. 

A ex-comissária Biron também expressa preocupação não só pelos passageiros, mas pela equipe aérea. É tão provável que eles fiquem doentes quanto qualquer um, ela aponta, ou que se sintam pressionados para voar mesmo que se sintam doentes.

Airlines for America, o grupo de aviação que representa as empresas norte-americanas, diz que as linhas aéreas estão trabalhando em proximidade a autoridades federais — e diz à CNN Travel que a segurança dos passageiros e funcionários “é —e sempre será— a maior prioridade das linhas aéreas dos Estados Unidos”. 

“Eu realmente não acho que [as empresas aéreas] podem fazer muito. Talvez disponibilizem mais lencinhos desinfetantes”, diz Schaffner.

A resposta das linhas aéreas

Aeronave da Delta Airlines
Aeronave da Delta Airlines sendo limpa em intervalo entre voos (03.mar.2020)
Photo: Spencer Platt/Gerry Images

Então, o que as empresas estão fazendo de diferente agora? 

Brian Parrish, porta-voz da americana Southwest Airlines, disse à CNN Travel que as aeronaves da Southwest passam por “limpezas regulares entre os voos e uma limpeza meticulosa quando o avião fica estacionado durante a noite”.

“Nosso programa de limpeza inclui a desinfecção de todas as superfícies rígidas dentro da cabine, assim como os assentos e os carpetes”, diz. “A Southwest continuará monitorando e seguindo todas as orientações do Centro de Controle de Doenças e da OMS (Organização Mundial da Saúde) a respeito do coronavírus e faremos qualquer ajuste a nossos procedimentos conforme for necessário”. 

Curtis Blessing, porta-voz da American Airlines, diz o mesmo. “Nossas aeronaves, incluindo os toaletes, são limpos regularmente, e a profundidade da limpeza varia dependendo dos turnos e tipo de voo”, diz. “Limpamos os toaletes e pontos do chão, e o lixo visível é removido dos bolsos dos assentos em todos os voos”. 

Voos transcontinentais, internacionais e ao Havaí têm nível mais profundo de limpeza, adiciona Blessing. 

Um porta-voz da Qantas disse à CNN Travel que a empresa adota o “mais alto padrão de limpeza e desinfecção em nossas cabines, assentos, cozinhas e toaletes”. 

O porta-voz também destaca os filtros HEPA (High Efficiency Particulate Arrestance, ou Bloqueio de Partículas de Alta Eficiência, em tradução livre) que são parte do sistema de ar-condicionado. “Esses filtros são usados em hospitais, e o ar da cabine é substituído em intervalos de três a cinco minutos. Isso fornece um ar muito mais limpo do que em outros espaços públicos, como trens, restaurantes, shoppings e escritórios”.

É o mesmo que diz o conselho oficial do Centro de Prevenção e Controle de Doenças americano, que diz que, devido à maneira em que o ar circula e é filtrado nos aviões, “a maior parte dos vírus e outros germes não é transmitida facilmente”. Ainda é recomendado que os viajantes “evitem contato com passageiros doentes e lavem suas mãos frequentemente com água e sabão por pelo menos vinte segundos ou usem álcool em gel que contenha de 60 a 95% de álcool”.

A Delta diz em seu site que que está usando uma “técnica de neblina” desde fevereiro, utilizando um “desinfetante altamente efetivo”. 

A neblina está sendo usada em todos os voos trans-Pacíficos da Delta que chegam aos Estados Unidos, com planos de expandir o procedimento para mais voos internacionais, focando naqueles vindos de lugares com alertas de casos de coronavírus. 

A linha aérea Cathay Pacific, de Hong Kong, disse à CNN Travel que a limpeza na cabine de suas aeronaves é sempre conduzida de acordo com “altos padrões”, mas que implementou algumas precauções extra. 

“De um excesso de cuidado, a aeronave é tirada de serviço para uma limpeza profunda adicional e desinfecção suplementar quando um caso confirmado de coronavírus é identificado”, disse um porta-voz da empresa. 

Ainda assim, o médico Schaffner diz que passageiros não devem temer usar cobertores e travesseiros se forem fornecidos durante o voo. Não há literatura disponível que apoie a ideia que eles possam ser vetor de transmissão, ele diz. 

“É um pensamento que vem à cabeça logicamente, mas é difícil convencer as pessoas de que [esses objetos] oferecem um risco realmente pequeno. Eu sempre retorno ao intermediário imediato, que são as suas mãos. Tenha uma boa higiene manual”. 

O dr. Alves concorda, apontando que os vírus são eliminados quando cobertores e travesseiros são lavados. No entanto, ele esclarece que ainda existem “lacunas de conhecimento” sobre o COVID-19 e que a pesquisa continua, então recomendações podem mudar. 

Mantendo-se vigilante

Então se você está embarcando em um voo em breve, estocar álcool em gel é o melhor curso de ação. Há algo mais a fazer?

Schaffner aponta que, do ponto de vista de um passageiro, a maneira mais efetiva de evitar infecções na aeronave é ficar em casa.

“É possível que entremos em um período —em alguns lugares, isso já está acontecendo —em que seremos forçados a nos distanciar socialmente”, ele diz. “As pessoas estão reconsiderando se querem voar nesse momento”. 

Richard Dawood reforça a importância de que as linhas aéreas sigam as orientações do Centro de Controle de Doenças, mas que os viajantes são livres para tomar as próprias decisões sobre se devem ou não voar. 

“Talvez o ponto mais importante para se considerar é que nem um único caso de COVID-19 foi atribuído à transmissão em um avião”, ele diz.