Relato de viagem: a experiência de voar durante a pandemia

Aos poucos os voos voltam a operar, os hotéis reabrem ao público e o turismo, lentamente, volta a acontecer no Brasil. A jornalista Catharina Castro conta como foi a experiência de pegar o primeiro voo depois de meses em reclusão em casa. Confira! 

Por Catharina Castro* 

 

Como é viajar de avião durante a pandemia? (Foto: Adobe Stock)
Como é viajar de avião durante a pandemia? (Foto: Adobe Stock)

Acordei ansiosa. Na verdade, acordei algumas vezes durante aquela noite. Fazia tempo que não sentia essa sensação. Eu sempre perco o sono antes de viajar, mas dessa vez era ainda mais diferente. Era a minha primeira viagem depois de 126 dias de isolamento social. E por mais que eu já tivesse passado mais de 120 dias sem viajar, eu nunca tinha passado mais de 120 dias isolada em alguns poucos metros quadrados, sozinha, com algumas raras saídas para supermercado e farmácia. Na noite anterior à viagem, pouco antes dormir, enquanto checava os últimos detalhes para o dia seguinte, eu me deparei com uma joaninha. Sim, uma joaninha em pleno 14º andar, de um prédio em São Paulo, às 10h da noite. Peço desculpas antecipadamente para quem não tem fé ou não acredita em nada, mas eu tenho muita fé, acredito em boas energias e tenho um apego por joaninhas. Sabia que ela não estava ali por acaso. Ela tinha vindo me acalmar e dizer que daria tudo certo (coloquem no Google: “joaninha significado” e leiam o que significa a presença de joaninhas em casa).

No dia seguinte, levantei antes do despertador. Tomei banho, tomei café, rechequei tudo novamente e chamei um Uber pela primeira vez depois de mais de quatro meses de isolamento. Viagem tranquila, Marginal vazia e espantosos 30 minutos de Perdizes até Guarulhos. Na chegada, primeiro espanto: aeroporto lotado. Fiz uma série de vídeos e fotos para eternizar aquele momento, não apenas mentalmente. A cada passo que dava até o local de embarque, eu ficava mais atônita. Para a minha surpresa, as coisas já estavam voltando ao normal, mesmo que eu não achasse aquilo nada normal. Muitas lojas e quiosques já abertos. Pessoas de máscaras por todos os lados. Muita gente. Eu ainda estava um pouco assustada com aquele “novo normal” e por via das dúvidas me mantive bem distante enquanto pude de todas as pessoas. Até chegar a hora de embarcar. E para minha surpresa, as pessoas seguem fazendo filas antes do momento exato de embarque. E seguem se aproximando mais do que o necessário… Esperei até o último momento para me dirigir até a aeronave. E diferente do que temos visto nos noticiários, não tinha medição de temperatura e não tinha distanciamento no voo. Todos os assentos estavam ocupados. Pedi licença para ir até a janela. Foi basicamente o único momento que me dirigi para a pessoa que sentou ao meu lado. Lembrei-me da joaninha que pousou em meu braço na noite anterior. Ia dar tudo certo. Na decolagem, sensação de liberdade. Eu não tinha esquecido em nenhum momento daquela sensação, mas confesso que senti-la de perto era ainda mais prazerosa. Respirei fundo, por trás da máscara. Ela não saiu de mim e nem eu dela em nenhum momento. Decidi não comer. Decidi não ir ao banheiro. Tudo para diminuir qualquer chance de contato. Seguia olhando pela janela e me encantando. Eu estava literalmente nas nuvens. Na chegada, uma boa surpresa: o desembarque sendo feito fileira, por fileira. Desejei que ao menos esse “novo normal” ficasse pra sempre. Ao tocar em terra firme, a confirmação de que o que importa é o que levamos dentro de si.

 Conheça as medidas que passam a ser obrigatórias para empresas aéreas e aeroportos segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac):

  • Utilização de EPI (Equipamentos de Proteção Individual) por trabalhadores e servidores públicos, conforme a situação;
  • Divulgação de avisos sonoros nos voos, áreas de embarque e desembarque nacionais e internacionais;
  • Distanciamento de 2 metros entre pessoas nos aeroportos;
  • Desestímulo a aglomerações nas praças de alimentação de aeroportos e em espaços de check-in de embarque e, especialmente, desembarque dentro das aeronaves;
  • Uso de máscara por passageiros e funcionários em geral;
  • Desinfecção de toda a área de movimentação de passageiros, pontes de embarque, aeronaves, ônibus e demais espaç​os de uso comum;
  • Organização criteriosa do procedimento de embarque de passageiros e especialmente desembarque da aeronave até o solo, orientando para que os passageiros permaneçam sentados na aeronave no pouso e informados que o desembarque será realizado por filas, iniciando pelos assentos situados mais à frente da aeronave;
  • Recomendada a suspensão do serviço de bordo nos voos nacionais. No caso de manutenção desse serviço, priorizar alimentos e bebidas em embalagens individuais, higienizadas antes do serviço. Nos voos internacionais, deve ser priorizado alimentos e bebidas em embalagens individuais, higienizadas antes do serviço.

 

*Catharina Castro é jornalista, mora em São Paulo e estava há poucos mais de seis meses sem ver a família que mora em Maceió. Quando escreveu o texto, ainda estava em isolamento, aguardando para fazer o exame que detecta a Covid-19, por precaução antes de encontrar com a mãe, que faz parte do grupo de risco. Catharina segue acreditando que o fato de uma joaninha pousar em uma pessoa significa que desfrutará de felicidade e fortuna.