Buenos Aires acessível para cadeirantes: Ketly Vieira entrega o que fazer na cidade

Colunista da CNN Viagem & Gastronomia joga luz ao tema de acessibilidade em viagens. Desta vez, o destino é uma das capitais mais visitadas por brasileiros no exterior

Buenos Aires, capital da Argentina, é destino com boa acessibilidade, mas pode melhorar
Buenos Aires, capital da Argentina, é destino com boa acessibilidade, mas pode melhorar Photo by Benjamin Rascoe on Unsplash

Ketly Vieira do Viagem & Gastronomia

Para quem deseja fazer uma viagem internacional e necessita de acessibilidade, a Argentina é uma ótima escolha. É pertinho do Brasil, os argentinos falam castelhano mas entendem bem o português, não é necessário visto nem passaporte e basta o RG brasileiro para entrar no país.

E Buenos Aires te convida a qualquer época do ano. Tem boa gastronomia e programas diversos, que atendem a todos os gostos. Em minha última visita, fiquei cinco dias e consegui fazer vários passeios, passando pelos principais pontos turísticos dessa cidade, que é considerada a segunda maior região metropolitana da América do Sul, atrás apenas de São Paulo.

Ainda no Brasil, escolhi o transfer que me levaria do aeroporto ao hotel, com a empresa Imperio Portenho. Chegamos de madrugada e eles estavam pontualmente nos aguardando, com um carro grande, mas que precisava fazer a transferência da cadeira para o assento do automóvel.

De lá parti para o Hotel Ibis Obelisco, que tem ótima localização, bem próximo ao centro. O quarto adaptado me atendeu muito bem, era espaçoso e com banquinho de banho.

Buenos Aires, assim como a maioria das grandes capitais, ainda tem pontos a melhorar no quesito acessibilidade, mas me senti acolhida e recomendo o destino.

Não usei o transporte público e é praticamente impossível encontrar táxi adaptado por lá, mas o aplicativo Uber atendeu bem os trechos que precisei fazer de carro. Agora vamos ao meu roteiro!

Primeiro dia

Dedicados aos pontos turísticos próximos ao nosso hotel e que não dependiam de transporte

Palácio da Justiça: um edifício imponente, linda arquitetura. Em frente, uma agradável praça onde acontecem vários protestos políticos. Na rua lateral há uma rampa, que não atende as normas de acessibilidade, mas conseguimos subir. O prédio dispõe também de elevador e banheiro adaptado.

Teatro Colón: a visita guiada é um passeio que você não pode deixar de fazer – se possível assista à um espetáculo por lá. Ficamos encantados com o teatro, com a riqueza dos detalhes e a história do lugar. Pessoa com deficiência e seu acompanhante não pagam a entrada, mas para isso é necessário levar algum documento comprovatório; eu levei meu cartão DeFis e não tive problemas. Tem banheiro adaptado e individual, elevador e acessibilidade para o espetáculo.

Após passar no Teatro Nacional Cervantes e Centro Cultural Borges, paramos na Galerías Pacífico para conhecer e almoçar. Esse shopping é muito chique, com marcas famosas, uma boa praça de alimentação, elevadores e banheiro.

E como ninguém resiste a comprinhas, a Calle Florida é o lugar ideal para isso, com lojas, livrarias, bares e casas de câmbio.

Para finalizar, passamos no Obelisco para algumas fotos.

Segundo dia

Floralis Genérica, escultura metálica que abre suas pétalas e manhã e fecha ao pôr do sol / Foto: acervo pessoal

Jardim Japonês: espetacular, encantador e com uma energia positiva. Fui de carro até a Floralis Genérica, uma escultura metálica que abre suas pétalas de manhã e fecha ao pôr do sol. A acessibilidade não é das melhores; apesar de ter rampa, a mesma é de pedrinhas, dificultando a passagem da cadeira de rodas.

Museu Nacional de Bela Artes: tem o maior acervo do país, vale a visita, e está preparado para atender muito bem os cadeirantes.

Cemitério da Recoleta: um dos mais importantes e visitados cemitérios do mundo, com rica arquitetura e local onde Evita Perón está enterrada. Oferece visita guiada e a rampa de acesso está ao lado da entrada principal.

No fim do dia fomos para Porto Madero, atualmente revitalizado com muitos restaurantes. A acessibilidade não é das melhores, pois o caminho é de paralelepípedos e a cadeira não roda muito bem, mas vale a visita – aproveite para  jantar em algum dos inúmeros restaurantes que tem por lá.

Terceiro dia

Casa Rosada, em Buenos Aires, pede agendamento prévio para visitação /Foto:  acervo pessoal

Casa Rosada: sede da presidência da República Argentina em Buenos Aires. Pode ser feita uma visita guiada, mas para isso é necessário agendar com antecedência via site. Ao lado da Casa Rosada, tem um museu com material dos antigos presidentes do país com boa.

Praça de Maio: lugar bem agradável para descansar e recuperar as energias para continuar a viagem.

Catedral Metropolitana: principal igreja em Buenos Aires, possuindo rampa na lateral.

Quarto dia

Caminito: um encantador local, com as famosas fachadas coloridas e cartão-postal da cidade, onde acontece uma feirinha de artesanato aos sábados. Passamos a manhã aqui e almoçamos em um maravilhoso restaurante, o Encuentro Nativo, com um alegre show de tango, uma inesquecível carne e ótimo atendimento: me senti entre amigos. Como dica recomendo que desça do táxi em ruas paralelas, pois as ruas do Caminito são de paralelepípedos e precisei usar a calçada.

Em frente ao Estádio do Boca, em Buenos Aires  / Foto: acervo pessoal

A poucas quadras dali, está o Estádio do Boca onde fiz uma visita simples. A entrada é pela loja e lá dentro tem uma rampa para ter visão do campo, mas precisei de ajuda.

Finalizei a noite no Steak By Luiz que é um restaurante que funciona com portas fechadas. Na verdade, é mais que um jantar, é uma experiência inesquecível. Não vou contar tudo porque você precisa ir para conhecer. Em resumo, são cinco pratos com os cinco respectivos vinhos e uma aula de cada combinação, sem mencionar a gentileza da equipe e o encanto do lugar. É necessário reservar.

Quinto dia

A famosa estátua da Mafalda, personagem criada pelo cartunista argentino Quino / Foto: acervo pessoal

Meu último dia foi um domingo e aproveitei para visitar a feirinha em San Telmo, que só acontece nesse dia da semana. São vários quarteirões com barraquinhas com artesanato e antiguidades. Ali fica a estátua da Mafalda, personagem do cartunista argentino Quino (1932-2020). A acessibilidade é péssima, a rua é impossível para cadeira de rodas, carrinho de bebê e até para idosos; eu utilizei a calçada atrás das bancas e os desafios foram os buracos.

Finalizei minha viagem no Mercado de San Telmo, lá você encontra algumas variedades de comidas, frutas e artesanato. Não é muito grande, é bem cheio e tem banheiro adaptado.

Ketly Vieira

Criadora de conteúdo, formada na área financeira, há 15 anos passou a usar cadeira de rodas devido a distrofia muscular. Apaixonada por viagens, se deparou com a falta de informação sobre acessibilidade. Hoje, com sua pequena filha Amanda, visita e compartilha em seu Instagram @ketly.vieira lugares, pontos turísticos, hotéis e restaurantes para que mais pessoas em situação similar a dela possam aproveitar sem medo e com segurança.