Resort office: para trabalhar com conforto em ambientes de viagem

Tendência que despontou em 2020 segue atraindo turistas e auxiliando setor hoteleiro na retomada das operações, principalmente perto dos centros urbanos

(Foto: Divulgação/Portobello Resort & Safári)

Computador no colo, pé na areia, piscina logo ali, brisa fresca, roupas confortáveis. Nenhuma necessidade de preparar refeições, lavar roupas ou organizar o quarto. Suspirou? Pois essa é a realidade de resorts espalhados pelo país e que estão oferecendo estadias que unem trabalho, estudo e lazer.

De olho na retomada do setor hoteleiro, nos cuidados contra o coronavírus e no trabalho remoto, resorts melhoraram suas estruturas para receberem hóspedes que precisam trabalhar e/ou estudar, mas que, ao mesmo tempo, querem desfrutar de um ambiente acolhedor e relaxante.

Longe de casa, o “home” virou “resort office”, tendência de estadia que despontou em 2020. Dos 52 empreendimentos associados à Associação Brasileira de Resorts, entidade que fomenta e representa o segmento a nível nacional, cerca de 40% aderiram à modalidade de resort office.

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Renata Colin, empreendedora de Jundiaí (SP), e seu marido Claudemir Pereira, diretor de uma empresa de produtos sanitários, cansados de passar meses isolados em casa, de frente para as mesmas paredes, decidiram viajar em fevereiro para um resort no interior de SP durante a semana. Distante de sua residência e em meio a natureza, Claudemir pôde trabalhar à beira da piscina enquanto sua mulher e filha descansavam. “Mesmo com poucos hóspedes, com capacidade do hotel reduzida, vários deles estavam com computador trabalhando”, diz Renata.

É esse perfil de viajante que tem chamado atenção de redes hoteleiras país afora. Um tipo de hóspede que quer fugir de casa por alguns dias sem se afastar de suas responsabilidades profissionais ou escolares, primando pelos protocolos de higiene e segurança em tempos de pandemia.

Estrutura modificada
“O que percebemos é que normalmente estão próximos a centros urbanos, até porque muitas vezes a pessoa quer ir de carro e ficar próximo de seu local de trabalho caso tenha uma reunião. Houve uma leve tendência para esse perfil de empreendimento”, afirma Ana Biselli Aidar, presidente executiva da Associação.

Boa parte de grandes hotéis e resorts já possuía estruturas adaptadas à demandas corporativas e profissionais, como salas de reuniões, centro de eventos e impressoras. Porém, com as convenções canceladas, os espaços puderam ser aproveitados por clientes no dia a dia e outros passaram por alterações para recebê-los.

Na serra carioca, em Teresópolis, o Hotel Village Le Canton modificou parte de suas dependências e dinâmicas para receber hóspedes que precisam trabalhar, mas querem se divertir também em ambientes diferentes. Os espaços de eventos foram adaptados com novos protocolos de segurança, como reorganização de mesas e cadeiras com distanciamento e álcool gel. A equipe de colaboradores foi reforçada para atender novas demandas, como a contratação de uma pedagoga para auxiliar as crianças com dúvidas no home school e um suporte de TI e administrativo para os pais que optaram por fazer o home office por ali.

“Chegamos a ter hóspedes que ficaram um mês no hotel, aproveitando o contato com a natureza e a estrutura de lazer oferecida com toda a segurança sanitária necessária”, aponta Mônica Paixão, diretora geral do empreendimento.

Centro de convenções do Le Canton modificado para receber hóspedes que queiram estudar e trabalhar (Foto: Divulgação/Le Canton)

Até o final de fevereiro, o luxuoso resort Royal Palm Plaza, em Campinas (SP), cerca de 100 quilômetros da capital, oferecia programa voltado exclusivamente para esse tipo de estadia, o Viva Royal, focado em permanências longas (planos de até 30 dias) em que trabalho à distância e homeschooling poderiam ser conciliados utilizando-se toda a estrutura do local. O apartamento era montado de acordo com a finalidade e uma nutricionista era mobilizada, já que café, o almoço e o jantar estavam inclusos no pacote.

Segundo a equipe de marketing do empreendimento, o resort estuda voltar em breve com o programa, mas com alterações na composição do pacote.

Uma diferença do ano passado para esse é a volta das aulas presenciais, o que limita um pouco a presença do público específico. Mas com inconstâncias geradas pela pandemia, ainda há possibilidade das pessoas buscarem refúgios em momentos mais críticos, que contam com protocolos e infraestrutura para atendê-las.

Wi-fi reforçado
Mesmo sem alterações em suas estruturas, outros resorts se mexeram para amplificar a rede e o sinal de internet. Antes com alcance apenas em pontos específicos das propriedades, agora o wi-fi aparece firme e forte em todas as acomodações, seja nos quartos, no lobby, nas espreguiçadeiras da praia ou nas mesas da piscina.

Piscina do Casa Grande Hotel: dependências externas ganharam reforço de internet (Foto: Divulgação)

À beira da Enseada, em Guarujá (SP), o Casa Grande Hotel lançou no final de fevereiro deste ano um pacote de resort office para seus clientes. O hotel oferece estadia com pensão completa em apartamento Premium Superior Plus com serviços e estrutura à disposição. Com no mínimo de três noites, o pacote tem diárias a partir de R$ 1.166,00, que inclui duas massagens no spa e dois drinques. Para tanto, a equipe reforçou a rede de internet pelos arredores do local.

Além disso, de olho no mercado, o resort da baixada santista possui um voucher de incentivo para as empresas que quiserem motivar seus colaboradores. A modalidade conta com desconto de 21% sobre as diárias para estadias mínimas de dois dias, com hospedagem children free por acomodação.

Portobello Resort e Safári, em Mangaratiba (RJ), também incrementou sua rede de internet e viu o número de hóspedes à procura de conciliar lazer e trabalho aumentar. “Estamos com uma ocupação maior durante a semana, que antes era reduzida. Os hóspedes estão optando por reservas de domingo a quinta-feira, ao invés de ficar de sexta a domingo, como era antes da pandemia”, analisa Luiz Antonio Raposo, diretor comercial do Portobello

Após ficar paralisado durante o início da pandemia, o resort retomou as atividades no dia 6 de julho e oferece os serviços de resort office desde o segundo semestre de 2020. Para os hóspedes que queiram mais privacidade e isolamento para suas reuniões virtuais, o hotel coloca à disposição uma sala de apoio na área de eventos, sem custos adicionais.

Estrutura de lazer do Portobello Resort e Safári com detalhe para a piscina (Foto: Divulgação)

No litoral catarinense, o Costão do Santinho possui apartamentos equipados com estrutura de casa, com 1 ou 2 dormitórios, sala, cozinha, lavanderia e área externa. Os quartos estão preparados para o trabalho remoto, esbarrando no conceito de room office.

Caso os hóspedes queiram estender a fuga de casa, o complexo possui pacotes de long stay, em que podem aproveitar as dependências por 7, 15, 20 ou até 30 dias. As vantagens vão desde o sistema all-inclusive até as atividades para o resto da família.

Tendência que veio para ficar

As perdas para o setor hoteleiro no ano passado foram significativas, principalmente no início da pandemia, quando as instalações ficaram inoperantes durante cerca de três meses. Segundo estimativas prévias da Associação Brasileira de Resorts, houve queda de 30% a 40% na taxa de ocupação em comparação com 2019, reflexo também devido às restrições de capacidade e operação dos hotéis após a retomada – mais intensa a partir de julho.

Porém, segundo a presidente executiva da entidade, o público de lazer foi responsável por ajudar no aumento dos números. “Por outro lado, houve um pequeno aumento na diária média em comparação ao ano anterior por se tratar do público de lazer e não do público de eventos”, salienta.

Dadas as circunstâncias atuais da pandemia, é muito provável que boa parte de indivíduos continue trabalhando de forma remota, o que contribui com uma demanda adicional nos resorts. Com certas mudanças em 2021 em comparação com 2020, como a retomada presencial da escola das crianças, a tendência pode sofrer algumas alterações, mas manterá sua essência. “Ela vai caminhar junto com o comportamento das empresas. A gente percebe que algumas já sinalizam que continuarão com parte de seus colaboradores na modalidade de home office, o que abre possibilidade das pessoas trabalharem a distância e escolherem onde querem trabalhar. Dada essa tendência, segue sim algo que veio para ficar”, finaliza Ana Biselli.