Sergi Arola, o estrelado de Madri

No topo das casas do chef, Sergi Arola Gastro é uma experiência gastronômica imperdível na cidade espanhola...

No topo das casas do chef, Sergi Arola Gastro é uma experiência gastronômica imperdível na cidade espanhola

*O restaurante está fechado temporariamente.

Muitas vezes, as pessoas julgam os restaurantes estrelados do guia Michelin como puro luxo, ostentação ou exagero. Outros deixam de ir, por achar que são lugares esnobes, cheios de formalidades ou regras, onde não é possível se divertir. Em muitos dos que já fui, o serviço é extremamente atencioso, “pode-se tudo” e você se sente em casa.

E, quando vejo um Michelin executado a máxima da reverência à boa gastronomia, entendo como uma vocação. Me emociona. É a gastronomia levada a sério. Uma filosofia, quase uma religião. Um caminho a seguir, a trilha da perfeição.

Do meu modesto conhecimento de gastronomia, com alguns poucos e bons estrelados, vi no Sergi Arola Gastro uma execução que o coloca no meu “ranking pessoal” do segundo melhor que já estive (o primeiro é o El Celler de Can Roca, que postarei em breve). Uma experiência além das expectativas, com muito sabor e felicidade. Afinal, gastronomia mexe com nossos sentidos. E, sim, nos deixa mais felizes.

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O chef tem restaurantes espalhados pelo mundo, inclusive no Brasil, em São Paulo (Arola Vintentres, no topo do Hotel Tivoli, com uma vista de tirar o fôlego). O Sergi Arola Gastro, em Madri, é a cabeça da serpente no ranking de suas casas, segundo a descrição do simpático e mais do que eficiente garçom Fran. Um simples e direto comparativo, que traduz sua essência de forma curta e direta.

Com duas estrelas no Michelin, é reconhecido por ter os pratos mais arriscados e mais criativos de Madri. É uma mistura de sabores inusitados com ingredientes tradicionais que não dá para descrever. Com um charmoso, moderno e elegante ambiente, ao som do mais gostoso jazz e blues, tem um bar de drinques no andar de baixo, um irresistível convite a um coquetel. No andar de cima, apenas 38 lugares para acomodar os entusiastas da gastronomia.

Busca pelos sabores diferentes, ingredientes de qualidade e execuções diferenciadas. O cardápio é enxuto, com dois menus degustação ou a la carte. O completo “Sergi Arola” (135 euros) com duas entradas, um peixe, uma carne, uma pré-sobremesa e sobremesa. O segundo “Descobrimento” (105 euros), tirando uma das entradas e sem a pré-sobremesa.
Como já disse aqui, este tipo de restaurante começa com couverts extensos, com diversos pratos para aumentar a percepção do conceito que o chef quer apresentar.

Para iniciar, o vermut, espuma de vermute com acentuado sabor alcoólico e caviar ao fundo, e pincho de tortillas de batatas.

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Depois, tradicional da cozinha espanhola, as tapas, apresentadas em versão mini, a começar pelas papas bravas (vale ir no Arola Vintetres só para experimentá-las), bocata calamares, biquíni (um mini sanduíche de tomate e queijo), bomba e tortita de camarões, que impressionam pelo tamanho microscópico (não menos saborosos) dos frutos do mar.

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De entrada, a molleja de terneira, que vem em dois tempos: moela grelhada em um ponto rosado, com uma crosta tostada, e cogumelos em cima de um “monte de terra”, que não dá para explicar o que é. Na descrição: especiarias e purê de berinjela. É coroado com o molho da própria carne e aceto balsâmico. Uma entrada forte, marcante e muito, mas muito saborosa.

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A sardinha, uma das entradas mais pedidas, que resistiu às constantes mudanças de cardápio, é cozida em baixa temperatura, que confere a ela uma maciez incrível, com leveza e harmonização de sabores.

Entre os peixes, escolhi o lombo de cavala – um prato forte, diferente, provocativo e inusitado. Completamente diferente dos que já comi, que deixa residual interessante na boca. Além de um molho de vinho tinto, bem exótico e interessante.

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Já o outro peixe, o rape é simples e impecável. Com tomates confitados, tinha bolinhas de purê de maçã e também caramelizadas com trufas, perfeitas. Um dos melhores peixes que já provei, com execução descomplicada e saborosa.

A carne. Ah, a carne. Aqui se vê onde as estrelas do Michelin passeiam… O escudella é um foie leve, quase uma “sopa” com feijões brancos, mas de uma mistura de sabores e cores que deixam o prato indescritivelmente saboroso. A caça (esta carne não é a minha predileta) vem com acompanhamentos que transcendem os sabores e elevam o nível do “gosto, não gosto”.

De sobremesa, o suflê de creme catalana com sorvete de caramelo não poderia ser uma combinação melhor das duas sobremesas que amo. Já o chocolate “de la vida” veio com um mousse, um creme e um crocante, todos do ingrediente, parecendo um vaso, coroado com flores comestíveis na sua decoração.

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Vale fazer a harmonização de vinhos com o menu, com escolhas inusitadas – como um jerez não-alcoólico até o delicado La Dulce Quietud, de sobremesa.

O cardápio degustado é impresso e entregue na hora, de acordo com a sua escolha. De uma atenção, que só reforça esta deliciosa experiência em Madri. Imperdível.

 

Sergi Arola Gastro