Paulo Nou, o nome por trás do fenômeno NOU Restaurante que completa 14 anos

De guardador de carros a empreendedor de sucesso: empresário mantém há 14 anos a casa lotada, onde vende 4 mil filés à milanesa por mês. Conheça a história desse restauranter à frente do Nou, Negroni Bar, Estepe Bar, Nouzin e Nou Burguer

Fachada do NOU na rua Ferreira de Araujo, em Baixo Pinheiros
Fachada do NOU na rua Ferreira de Araujo, em Baixo Pinheiros LIGIA SKOWRONSKI

Tina Binido Viagem & Gastronomia

São Paulo

Paulo Nou tem uma história digna de enredo de filme motivacional, capaz de inspirar qualquer um. Com apetite para montar negócios de gastronomia, ele é o nome forte por trás do grupo que reúne casas sempre lotadas em São Paulo, como o restaurante NOU, hoje com três unidades, e o bar Negroni. Mais recentemente, se somaram a esse time o Nouzin, dedicado a sanduíches e brunches, e a hamburgueria NOU Burguer. E não para por aí.

Sua veia empreendedora não vem de hoje. Aos 11 anos, inquieto como todo pré-adolescente e ávido para ganhar uma graninha, começou a guardar carros em ruas próximas a uma feira livre. Simpático e educado, logo ganhou a confiança da clientela que começou a pedir que ele as acompanhasse nas compras na feira, carregando suas sacolas.

Foi então que pensou: “Não posso deixar meu posto de guardador de carro”. Juntou os amigos da rua, oferecendo a eles um “emprego” para guardar seu ponto, enquanto desempenhava a função de carregador de sacolas. Logo ficou amigo dos feirantes, que pediam sua ajuda para montar e desmontar as barracas.

Paulo Nou / Divulgação

“Essa montagem começava às 3 da manhã e percebi que essa galera estava com fome e não tinha nenhum comércio aberto. Foi então que eu tive minha primeira experiência com comida, fazendo sanduíche natural para vender para eles”, relembra.

Dos 11 aos 14 anos, Paulo se dedicou a isso, até encontrar um emprego com carteira assinada na faculdade do hospital Albert Einstein como bedel. Empreendedor nato, paralelamente começou a organizar as famosas festas de garagem dos anos 80, junto com seu irmão e alguns amigos.

Ali, teve duas grandes sacadas. A primeira foi vender os eventos para as universidades como PUC, USP e Mackenzie. A segunda é que, como as festas eram clandestinas e não tinham endereço fixo, ele usava um canhão de luz, que resplandecia nos céus do Morumbi, para orientar a chegada dos festeiros.

“Quando eu estava beirando os 18 anos, as festas haviam crescido tanto que já vendia os ingressos antecipados em lojas grandes de CD e patrocinadores de bebidas me procuravam”, diz Paulo.

E foi num encontro com um representante de uísque, onde observou um atendimento descontraído e cheio de jovens, que acendeu aquela famosa luz: ele queria trabalhar em um restaurante.

Após um processo de treinamento, foi então contratado em um restaurante. De tão apaixonado por aquela área, logo chegou a gerente. Porém nunca deixou de pensar que sua meta era ter um negócio seu, para organizar do jeito que acreditava funcionar.

Passou por muitos lugares, mas sempre com aquele olhar clínico, observando o que podia dar certo e o que não dava certo de jeito nenhum. Após passar por diversos restaurantes conceituados na época, Paulo sentiu que estava pronto para abrir o próprio negócio.

“Comecei a procurar sócios que quisessem tocar a cozinha, porque eu sempre fui muito mais a pessoa da sala, do serviço”, comenta. Foi então que, por ter estudado em escola pública a vida toda, fez o Enem, e ganhou – através do programa Prouni – bolsa integral na escola de gastronomia do Senac Santo Amaro e lá conheceu seus dois sócios, um deles ainda seu parceiro, o chef Amílcar Azevedo.

Encontrados os sócios, começou a busca por um local próximo a bairros gastronômicos como Pinheiros, Itaim Bibi e Vila Madalena. Além disso, tinha que ser de fácil acesso e com aluguel barato.

Quando encontramos o imóvel onde é hoje o NOU, na Ferreira de Araújo, ele atendia a todas essas características. Mas era uma zona depreciada, próxima ao Largo da Batata, cheia de restaurantes por quilo. Os únicos que estavam por aqui eram o Pirajá, a Bráz e o restaurante Dô. Por conta dessa localização, não conseguimos parceiros, só a Mistral nos apoiou. Todo mundo achou que eu estava louco.

Paulo Nou

 

Em pouco tempo, porém, o NOU ganhou notoriedade – foi considerado dono do melhor milanesa da cidade (a receita é exatamente a mesma desde a abertura). Começou então a atrair um público que queria comida bem feita, sem muita frescura e com preço justo.  “Na época, me lembro da mídia querer emplacar o nome de bistronomique.”

O carro-chefe da casa: filé à milanesa. São 4 mil milanesas vendidos por mês / LIGIA SKOWRONSKI

Foi então que Paulo lançou um movimento, o de jovens envolvidos com gastronomia, que queriam abrir seus próprios negócios e fazer a diferença. Detalhe: a maioria começou a abraçar o Baixo Pinheiros, termo que Paulo diz que foi um dos que cunhou a referência ao Baixo Augusta. (E aqui cabe um parênteses: enquanto o NOU estava a plenos pulmões e ganhando fãs, Paulo ainda se dividia entre outras atividades, como árbitro de futebol profissional, porta de balada de hip hop, a Chocolate e o clube Vegas, no então Baixo Augusta).

Daí pra frente, é o que todo mundo já sabe: a Ferreira de Araújo se tornou um dos points gastronômicos mais movimentados de Pinheiros e que hoje tem cada centímetro disputado por investidores.

Um negócio que virou vários

Ambiente do Negroni Bar que vende 3 mil drinques por mês que dá nome à casa  / Divulgação

Quando viram que as mesas do NOU ficavam lotadas dia e noite, os sócios abriram o Mano – uma casa que funcionou por cinco anos na mesma rua e que tinha como premissa sanduíches e comidinhas rápidas. Porém, se Paulo era um cara empreendedor aos 11 anos, isso só iria aumentar na fase adulta.

O projeto do bar Negroni – também no Baixo Pinheiros, na rua Padre Carvalho, e que se dedica a boas pizzas e, claro, ao drinque  – nasceu quando um cliente pediu um negroni, na época em que ele ainda era funcionário. Sem ter ideia de como a bebida era preparada – na época, caipirinha era a moda –, ele perguntou para esse cliente como fazer. Depois desse “aperto”, foi estudar a história do clássico italiano, sabendo que isso no futuro daria um negócio. Antes que completasse 20 anos de idade, ele já tinha registrado o nome Negroni.

“O Negroni nasceu há seis anos, também para ser um bar de coquetelaria – aqui não tinha nenhum. Quando pensei em colocar pizzas, não contei para os meus sócios porque certamente eles não iriam concordar. Por anos, pizza-bar foi considerado algo brega. Mas se olharmos agora, quantos pizza-bares legais surgiram?”. Hoje o bar com luz baixa e jazz ao vivo às quintas feiras, vende cerca de 3 mil negronis/mês.

Pizza-bar de sucesso, o Negroni foi um dos pioneiros nesse conceito / Tina Bini

Na sequência, o NOU abriu sua segunda unidade na Rua dos Pinheiros, já na área consolidada por casas como o Le Jazz. O terceiro endereço da marca veio longe do reduto de Paulo: a Praça Vilaboim, onde ele acredita que teve um papel importante de resgate da região. E ele estava certo. Com uma varanda imensa em uma bela esquina, o restaurante está sempre lotado, seja no almoço ou no jantar.

Só para se ter uma ideia, atualmente as três casas vendem uma média de 4 mil filés à milanesa por mês. O empresário ainda abriu o Satú, voltado para cozinha brasileira, junto com Flávio Miyamura, Paulo e Amílcar. O restaurante, no entanto, acabou fechando suas portas por causa da pandemia.

Passado o susto – o NOU ganhou expertise em delivery nos últimos anos e hoje ainda é um dos braços importantes do negócio –, Paulo e Amílcar lançaram o Nouzin. Trata-se de um lugar que carrega na sua concepção um pouquinho do extinto Mano, mas que além de bons sanduíches se dedica a servir brunch o dia todo – claro, também em Baixo Pinheiros.

Fachada do Nouzin, especializado em brunch, também em Baixo Pinheiros / Divulgação

“Percebi essa crescente tendência do paulistano de procurar bons lugares para tomar café da manhã, algo que já fazia muito sucesso no mercado americano. Simplesmente fomos abraçados pelos clientes e o Nouzin vai muito bem!”, anima-se.

É no mesmo imóvel que funciona – apenas para delivery – o NOU Burguer, que nasceu na pandemia como uma forma de negócio para auxiliar o grupo.

Se engana quem pensa que os negócios de Paulo param por aí.  Ele ainda está à frente do Estepe, bar bem mais informal.

“É um projeto que nasceu há cinco anos, numa área mais escondidinha de Pinheiros, mas que é um estouro desde o primeiro dia. Ali só toca música brasileira, todos os coquetéis também têm essa pegada e o imóvel a gente transformou em uma praça. O Estepe é mesmo uma delícia de lugar, para ir sem pretensão.”

Agora é esperar pelos próximos passos de Paulo que, com certeza, não vai parar de empreender em gastronomia.