Novo Preto Cozinha: alma baiana e cardápio que mistura Brasil, Portugal e África

"Um lugar aberto para o novo sem se esquecer do passado". Assim é a descrição do estreante Preto Cozinha, em São Paulo, que tem a sustentabilidade e a baianidade nagô como pilares

Em Pinheiros, o novo Preto abre as portas com cozinha que mistura os sabores da África e Portugal, mas com forte sotaque baiano
Em Pinheiros, o novo Preto abre as portas com cozinha que mistura os sabores da África e Portugal, mas com forte sotaque baiano Tales Hidequi

Tina Binido Viagem & Gastronomia

São Paulo

Já dizia Vinícius de Moraes em “Samba da Bênção”, que se hoje ele é “branco na poesia, ele é negro demais no coração”, e que é “melhor ser alegre que ser triste”.

O novo Preto Cozinha é assim, como a poesia do mestre. Nasceu e trouxe da Bahia memórias comestíveis, produtos artesanais e um pouco de amor nessa mesma cadência.

Idealizado por Rodrigo Freire, soteropolitano, advogado e cozinheiro, que viu em uma charmosa casa de Pinheiros a possibilidade de oferecer na capital paulista uma viagem aos seus sabores preferidos, uma comida vibrante para ser apreciada sem pressa. Nessa casinha, a famosa “loucura paulistana” fica do lado de fora.

Cada canto do imóvel foi pensado e preenchido com ideias, plantas e até por um bar-galeria de arte. Rodrigo imaginou também menus e momentos para cada espaço: cafezinhos com quitutes debaixo de uma árvore do quintal, coquetéis e petiscos nos arredores do balcão e das obras de arte, pratos afro-brasileiros e sustentáveis em todas as mesas.

“A alma são os cardápios de casa, essa mistura de Portugal e África do dia a dia, que só tem acesso quem é baiano mesmo. É o pãozinho delícia dos lanches da tarde, o frango ensopado com quiabo da mãe, a carne de sol do padrasto, a moqueca de sexta-feira da avó, o xinxim de uma tia, o pudim de tapioca de outra”, explica Rodrigo.

Feijoada do Mar do novo Preto Cozinha / Tales Hidequi

A sustentabilidade é levada a sério. Na cozinha, a regra é ter poucos ingredientes base e que devem ser usados integralmente em diversos processos, obtidos de produtores responsáveis e que, ao cabo, geram pouquíssimos resíduos.

Por exemplo, da raiz à folha, sem menosprezar o talo, tudo do coentro é porcionado a vácuo em saquinhos de fécula de mandioca para que sua vida seja prolongada.

Já o camarão seco é um capítulo à parte: pescado somente na lua nova – e se tiver tamanho maior que um dedo indicador – por uma comunidade ribeirinha de Saubara, no Recôncavo, é defumado suavemente dentro de uma oca com brasas de aroeira. Quando chega ao Preto, não é visto como proteína, mas como um precioso tempero.

Dessa mesma vizinhança vem o dendê de manufatura, que dá cor e intensidade a diversas receitas sem cair no clichê gastronômico.

Ali, o arroz caldoso de xinxim de galinha traz farofa de banana (R$ 57); a polenta com açafrão real e coco tem ossoubuco cozido longuissimamente (R$ 77); a feijoada branca é de frutos do mar (R$ 179 para compartilhar); e termine com o pudim de tapioca com pé de moleque (R$ 27) ou a cocada mole de cajá com caramelo e chuva de coco queimado com sorvete de tapioca (R$ 27).

Ambiente do Preto Cozinha / Tales Hidequi

A carta de drinques, assinada por Christopher Carijó, ganha o pancadinha (batida de coco, rum e limão siciliano acompanhada de cocada – R$ 34) e o boca de zero nove (gim, limão galego, toque de alecrim, canela e laranja servido em taça defumada – R$ 34).

Aos fins de semana, a casa abre um pouquinho mais cedo, com um brunch que inclui provocações como a Maria Bonita (um croque madame com requeijão de corte, presunto fresco, bechamel e ovo escalfado), o Zé Pequeno (queijo canastra quente e bechamel) e a Panqueca de Filme (com frutas e melaço de cana).

Rua Fradique Coutinho, 276, Pinheiros, São Paulo – SP / Horário de funcionamento: segunda, das 12h às 23h; quarta e quinta, das 12h às 23h; sexta, das 12h às 24h; domingo, das 10h às 20h. Não abre às terças-feiras.