Gotham City da vida real: os cenários utilizados para as filmagens do novo Batman

Filmado em prédios históricos e até num clube de música eletrônica dentro de uma antiga fábrica na Inglaterra, a cidade fictícia do longa é uma junção de locais na Europa e nos Estados Unidos

Saulo Tafarelodo Viagem & Gastronomia

O homem-morcego está de volta às telonas. Lançado nos cinemas mundiais no último 4 de março, “The Batman” é um dos filmes mais esperados de 2022 e promete ser um dos longas-metragens de maior bilheteria do ano – além de um dos mais comentados. Robert Pattinson faz o papel do protagonista Bruce Wayne/Batman, assim como Zoë Kravitz divide as telonas na pele de Selina Kyle/Mulher-Gato.

Dirigido por Matt Reeves, o filme é um reboot pertencente à franquia “Batman” em que apresenta uma Gotham City corroída pela violência e corrupção, terreno fértil para as andanças do homem-morcego contra o crime. Elogiado pela fotografia e pelo foco do personagem principal nas investigações, o filme apresenta várias cenas em prédios históricos e até em um clube noturno.

Mas onde exatamente “The Batman” foi gravado? Desempenhando um papel fundamental na nova trama, a cidade fictícia de Gotham não é um único lugar: é, na verdade, a junção de diversos locais em Liverpool, Londres, Glasgow e Chicago.

De acordo com a página oficial de “The Batman” no IMDb, são cerca de 20 pontos na Europa e nos Estados Unidos que foram utilizados como cenários. Apesar disso, vale ressaltar que a maior parte do longa foi filmado dentro dos estúdios da Warner Bros., em Hertfordshire, na Inglaterra.

Filmado no começo de 2020, as gravações sofreram interrupção de seis meses por conta da pandemia, mas logo foram retomadas em setembro de 2020 e finalizadas em 2021.

Quer recriar os passos de Batman e vislumbrar a Gotham City da vida real? Conheça os principais locais que o novo “The Batman” foi filmado e monte um roteiro digno de cinema:

Liverpool

St. George’s Hall

Utilizado como cenário interior e exterior da prefeitura de Gotham City, o St. George’s Hall é um edifício neoclássico no centro da cidade inaugurado em 1854, que fica no lado oposto à estação de trem Liverpool Lime Street Station, uma das principais da cidade.

A imponente construção e ponto turístico é utilizada hoje principalmente como local de concertos e eventos, com diferentes e amplos cômodos servindo para variadas ocasiões. De acordo com a administração, o espaço tem sido um importante ponto de encontro da população de Liverpool em tempos de celebração, vigílias e comemorações.

Na cultura popular, o St. George’s Hall foi o local que sediou homenagens à John Lennon e George Harrison, integrantes dos Beatles, após suas mortes, assim como recebeu 50 mil pessoas quando Ringo Starr tocou em cima do telhado em um evento em 2008. Curiosidades: foi o primeiro edifício comercial com ar condicionado do mundo e, quando construído, tinha o maior teto abobadado e o maior órgão de concerto do mundo.

Royal Liver Building

Com quase 100 metros de altura, o Royal Liver Building é um dos marcos arquitetônicos de Liverpool, sendo um dos símbolos da cidade. Foi inaugurado em 1911 como sede de uma importante seguradora e fica no Pier Head, na ribeira do rio Mersey, que fazia parte do Patrimônio Mundial da Unesco da Cidade Mercantil Marítima de Liverpool – cuja indicação foi retirada da importante lista em 2021 por conta da constante alteração de suas docas vitorianas.

No filme, o local aparece no fundo de diversas cenas, mas é usado também na sequência da fuga de Batman da polícia. Na vida real, o local turístico tem importância histórica mas também cultural, já que é lar de exposições sobre seu passado e mostras imersivas em seus andares superiores. O 10° e o 15° andar possuem vistas de 360° de Liverpool e a torre do relógio possui um show de projeção digital. Os tíquetes regulares custam £15 (cerca de R$ 100).

County Sessions House

Fachada do County Sessions House, que já foi tribunal em Liverpool e hoje é utilizado pela Walker Art Gallery / Wikimedia Commons

Cenário do tribunal central de Gotham, o County Sessions House é um antigo tribunal de Liverpool localizado em Islington, seção da cidade com casas vitorianas e ruelas. O edifício foi construído na década de 1880 em pedra de silhar numa base de granito, com uma aparência descrita como vitoriana tardia.

Apesar de suntuoso, atualmente o interior do local é usado como escritórios e espaço de armazenamento da Walker Art Gallery, museu de belas-artes de Liverpool.

Walker Art Gallery

Visão externa da Walker Art Gallery, importante museu do circuito artístico fora de Londres / Carole Raddato/Flickr

Um dos acervos artísticos mais importantes da Inglaterra fora de Londres, a estrutura do museu foi construída no século 19 e hoje abriga uma coleção de arte britânica datada entre 1880 e 1950. Exibe obras renascentistas, obras-primas de Rembrandt, peças pré-rafaelitas de Rossetti e Millais e ainda obras impressionistas de Monet e Degas.

No novo Batman, parte do local foi utilizado para dar vida ao Hospital Geral de Gotham. Uma vez lá, as crianças também têm seu espaço: uma ampla galeria familiar é dedicada a apresentar a coleção aos pequenos com menos de oito anos. Fechado às segundas-feiras, a admissão no museu é gratuita, com exceção de exibições especiais.

Dica: de maio a agosto deste ano o local sediará uma mostra sobre os Tudors, alguns dos monarcas mais conhecidos da história inglesa. Caso não seja possível ir até Liverpool apreciar a coleção, o museu também dispõe de um tour virtual.

Londres

Printworks

O agito e o mistério dos clubes noturnos também cumprem um papel importante na trama de Batman. Entre luzes coloridas e projeções que acompanham as fortes batidas da música eletrônica, o Printworks London foi o local escolhido para dar vida ao Iceberg Lounge, fictício clube onde vilões, mafiosos, promotores de justiça e policiais de Gotham andam lado a lado num cenário de corrupção regado a drogas.

Na vida real, o Printworks é um clube noturno e uma casa de eventos que ocupa as instalações do que já foi a maior fábrica de impressão da Europa Ocidental, incluindo os jornais britânicos Daily Mail e o Evening Standard. O clube abriu as portas em 2017 e logo se tornou um destino cultural da noite londrina, onde grandes máquinas e prensas, assim como as docas e as escadas de metal, foram preservadas a fim de criar um ambiente industrial.

O local fica em Rotherhithe, distrito residencial no sudeste de Londres, e sedia festas sazonais de música eletrônica, bem como palestras e outros eventos culturais. No filme, a casa noturna é operada pelo infame Pinguim e ainda abriga um espaço mais íntimo e secreto, um “clube dentro do clube” onde apenas grandes figuras de Gotham ligadas ao crime, seja da máfia ou da promotoria, são bem-vindas.

Two Temple Place

O Two Temple Place é uma mansão neogótica do final de da década de 1890 construída para ser o escritório imobiliário do magnata William Waldorf Astor. A opulenta casa fica em Victoria Embankment, com vista para o rio Tamisa, e possui interiores adornados com mogno, mármore e vitrais, assim como uma grande escadaria de carvalho decorada com esculturas literárias e históricas. Originalmente, o local continha o maior cofre da Europa.

Na trama de Batman, o edifício aparece logo no começo do filme como a casa do prefeito Don Mitchell, que tenta se reeleger nas eleições que se aproximam. Fora das telonas, o local é conhecido por sediar eventos – como jantares corporativos, recepções de caridade, filmagens e celebrações privadas -, além de algumas mostras gratuitas.

Atualmente, é propriedade da Bulldog Trust, instituição de caridade que apoio outras organizações. Há até um livro à venda no Reino Unido que conta a história e contém fotos do local. Dica: até 24 de abril, o Two Temple Place sedia a mostra “Body Vessel Clay”, que dialoga com três gerações de artistas negras que trabalham com argila.

Glasgow e Shotts (Escócia)

Necrópole de Glasgow

Situada em uma colina a leste da Catedral de Glasgow, os primeiros corpos foram enterrados no cemitério a partir de 1832. Hoje, de acordo com informações da administração oficial, cerca de 50 mil pessoas estão enterradas e há aproximadamente 3.500 túmulos.

A Necrópole foi construída em formato de jardim vitoriano, com forte presença arquitetônica e esculturas. O local serve como cenário para as cenas finais do filme.

Fora da ficção, o cemitério oferece um tour guiado aos finais de semana que dura aproximadamente duas horas e cobre os 15 hectares de terra total do espaço. Ao lado de guias, é possível andar entre os túmulos e conhecer mais da história das pessoas e de todo o ambiente – reservas devem ser feitas pelo site oficial.

Hospital Psiquiátrico Hartwood

Parte importante da trama, o Hospital Psiquiátrico Hartwood é um local abandonado em Shotts, vila que faz parte de North Lanarkshire, próximo da cidade de Glasgow, e usado no filme como o orfanato de Gotham. Construído no final do século 19, já foi um dos maiores hospitais da Escócia e acomodava 500 pacientes em seu início, com ampliações ao longo dos anos.

Fechado na década de 1990, as instalações chegaram a ser utilizadas como parte dos estúdios de uma TV local, mas logo foram abandonadas, e incêndios e demolições ocorreram por ali. Seu prédio principal continua em pé – apesar da aparência aterrorizante – e fica em um terreno elevado com amplas vistas sobre o campo.

Com o tempo, Hartwood virou um local bastante explorado pelos “urbexers”, os “exploradores urbanos”, que vão atrás de prédios abandonados e compartilham fotos nas redes sociais. Nas telonas, o local segue o aspecto abandonado da vida real, onde vandalismo e cômodos destruídos se destacam.

Chicago

Fora da Europa, as ruas do centro de Chicago, nos Estados Unidos, foram utilizadas em cenas externas do filme, principalmente em perseguições e na ambientação do centro de Gotham. As filmagens ocorreram principalmente no chamado “Loop”, porção central de Chicago que concentra arranha-céus, teatros, lojas e parques.

As gravações ocorreram na cidade em 2020, e vídeos e fotos compartilhados por cidadãos nas redes sociais mostram as transformações que alguns locais passaram para criar uma “cara de Gotham”. Cartazes, carros de polícia estilizados, placas e jornais com o nome de Gotham dominaram ruas do destino, como é possível checar no tweet abaixo.

Interessante é notar que Chicago já foi utilizada em outros filmes do Batman, como nos dois primeiros longas-metragens do diretor Christopher Nolan, “Batman Begins” e “Batman: O Cavaleiro das Trevas”. No último e terceiro capítulo da trilogia, “Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge”, a cidade foi substituída por Pittsburgh, na Pensilvânia.