No ano que completa 15 anos de sua fundação, Inhotim inaugura novas obras

Instalações comissionadas de dois artistas brasileiros atualizam a impecável curadoria do museu, o maior a céu aberto do mundo

Obra comissionada do artista baiano Rommulo Vieira Conceição na área do Jardim Sombra e Água Fresca de Inhotim
Obra comissionada do artista baiano Rommulo Vieira Conceição na área do Jardim Sombra e Água Fresca de Inhotim Divulgação/Inhotim

Daniela Filomenodo Viagem & Gastronomia

Brumadinho

A apenas 1h30 de carro de Belo Horizonte, o maior museu a céu aberto do mundo mescla obras de arte contemporânea e natureza de maneira espetacular, combinação que torna o Instituto Inhotim um dos principais destinos culturais de Minas Gerais e do Brasil. Mais do que um museu, Inhotim é uma imersão cultural, artística, que instiga o conhecimento, atualiza o olhar e desperta as mais variadas sensações, tudo graças a possibilidade de poder interagir com algumas das 700 obras que o compõe. Por ser vasto, 140 hectares de área, o espaço abriga também bons pontos gastronômicos.

Daniela Filomeno em Inhotim (Foto: CNN Viagem&Gastronomia)

Situado em Brumadinho, entre o Cerrado e a Mata Atlântica, o museu, assim como outras instituições pelo mundo, ficou um bom tempo de portas fechadas por conta da pandemia, mas reabriu de vez em maio deste ano e tem capacidade para receber mil pessoas por dia. Agora, no ano que completa 15 anos de fundação, novas obras comissionadas – aquelas específicas, feitas especialmente a pedido do Instituto – voltam a rechear seus espaços.

Dialogando com o tema que norteia a programação do biênio 2021-2022, batizado de Território Específico – que questiona as relações do museu com o território ao redor -, duas instalações de artistas brasileiros trazem novos ares ao local. No final de agosto, a instituição inaugurou criações inéditas de Lucia Koch e Rommulo Vieira Conceição, ambos expoentes da cena contemporânea, cujas obras fincaram raízes permanentes no museu. Vamos conhecer?

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Obras que vieram para ficar

Baiano que vive há mais de 20 anos em Porto Alegre, o artista Rommulo Vieira Conceição é o responsável pela obra O espaço físico pode ser um lugar abstrato, complexo e em construção (2021), instalada na área do Jardim Sombra e Água Fresca – o maior do museu.

Colorida, ela é formada pela justaposição de arcos, grades, paredes e outros componentes, como fragmentos de arquiteturas sacras, criando quase que um labirinto de formas que dialogam também com diversas religiões. No chão ficam espalhadas algumas quartinhas, que são jarros presentes em rituais religiosos afro-brasileiros. Com a mistura de diferentes elementos, esta obra de grandes proporções nos passa uma ideia de convivência, ainda que talvez complicada, e uma construção conjunta da humanidade.

Inhotim obra comissionada PROPAGANDA Lucia Koch
PROPAGANDA, 2021, Lucia Koch. Obra instalada na península do Instituto Inhotim (Foto: divulgação/Instituto Inhotim)

Nascendo também da relação entre arte e arquitetura, a artista Lucia Koch, gaúcha radicada em São Paulo, propõe um olhar interessante e questionador para os outdoors publicitários. Chamada de PROPAGANDA (2021), a obra de Lucia não se resume a uma única peça: são, na verdade, fotografias de caixas e embalagens vazias dispostas em outdoors alugados tanto na cidade de Brumadinho quanto dentro de Inhotim. A ideia é, também, ocupar por um bom tempo lugares que seriam destinados a propagandas espalhadas pela região, como por exemplo, anúncios de grandes condomínios.

As fotografias de embalagens vazias dispostas desta forma, em grandes painéis, criam mudanças na nossa percepção de escala – na verdade, parecem imagens de interiores de pavilhões ou outras construções. Três destes outdoors ficam dentro de Inhotim, um deles, inclusive, no meio da península de um dos lagos do museu.

Acervo

Aleksandra Mir Mediterranean Heartbreak, 2007, caneta Sharpie sobre papel Fabriano 300 por 800 cm
Aleksandra Mir, Mediterranean Heartbreak, 2007, caneta Sharpie sobre papel Fabriano 300 por 800 cm (Foto: divulgação/Instituto Inhotim)

Junto das obras comissionadas, Inhotim inaugurou a mostra individual Entre Terras, da artista polonesa Aleksandra Mir. Através de uma variedade de tons de caneta que vão do preto ao cinza, Mir explora o Mar Mediterrâneo como um espaço carregado de fluxos migratórios e manifestações culturais. Ocupando um dos espaços da Galeria Praça, que fica mais no centro da propriedade, os desenhos gigantes em preto e branco ficam expostos por pelo menos um ano e são parte da série Mediterranean (2007), fruto da vivência da artista na Sicília entre 2005 e 2010.

Além das novidades, o acervo permanente de Inhotim continua exposto – e impactante! É como um oásis de arte em meio à paisagem mineira: é especial percorrer os jardins, galerias e obras ao ar livre ao lado das plantas e flores, presenteando-nos com um modelo único de apreciar os trabalhos artísticos. Não deixe de conferir o Jardim de Narciso, 500 esferas de aço inoxidável da artista Yayoi Kusama que flutuam sobre o espelho d’água do Centro Educativo Burle Marx; o Beam Drop, conjunto formado por 71 vigas em posições aleatórias do artista Chris Burden; a Galeria Adriana Varejão e a Invenção da Cor, Penetrável Magic Square, paredes coloridas de alvenaria de Hélio Oiticica que brincam com a criação de espaços e construções arquitetônicas.

Outro espaço especial é o ponto mais alto da propriedade, que guarda uma obra sem título do norte-americano Robert Irwin. Trata-se de uma escultura feita de moldes pré-fabricados de concreto, em que as paredes inclinadas formam uma estrutura octogonal com vidros amarelos no topo. Ao passar do dia a luz do sol que incide ali vai criando jogos de luz e sombra, evidenciando também toda a natureza ao redor – é como estar no centro de algo impressionante.

Ao todo, são mais de 700 instalações de cerca de 60 artistas de 38 países exibidas dentro de galerias e ao ar livre também. Aliás, são nesses espaços abertos, um dos maiores trunfos do museu, que podemos admirar, entre uma arte e outra, um jardim botânico: são oito jardins temáticos que somam mais de 4,3 mil espécies – algumas delas raras – vindas de todos os continentes; uma referência em paisagismo tropical contemporâneo. Para além de toda a sua exuberância, o espaço é importantíssimo para pesquisas, educação ambiental e conservação.

Serviço
Instituto Inhotim
Rua B, 20, Inhotim, Brumadinho, Minas Gerais.
Visitação: de quinta a sexta-feira, das 9h30 às 16h30; e aos sábados, domingos e feriados, das 9h30 às 17h30. Ingressos: R$ 22 (meia) e R$ 44 (inteira) via Sympla – entrada gratuita na última sexta-feira de cada mês, exceto feriados, mediante retirada prévia através do Sympla.