Entre estrelados e botequins: a apetitosa diversidade gastronômica do Rio de Janeiro

Restaurantes badalados, bares já consagrados e novidades muito bem-vindas convivem lado a lado nas ruas da cidade. Com ingredientes frescos, todos têm algo em comum: a alma carioca

Daniela Filomeno no Boteco Rainha, mescla entre bar-restaurante no Leblon
Daniela Filomeno no Boteco Rainha, mescla entre bar-restaurante no Leblon CNN Viagem & Gastronomia

Daniela Filomenodo Viagem & Gastronomia

Rio de Janeiro

Quando penso no Rio de Janeiro, uma coisa é certa: voltar para a Cidade Maravilhosa é se encantar todas as vezes com suas belezas naturais, praias sedutoras e agito cultural. Tudo isso é muito bem acompanhado da alma carioca, que transforma qualquer situação em alegria e motivo de escape.

Com toda essa mistura especial, é claro que o Rio sacia a fome daqueles que querem mais. Não à toa, a cena gastronômica por lá está em constante transformação e na última década ganhou um verdadeiro boom de excelentes endereços.

Lugar vivo e dinâmico, as características da capital fluminense refletem-se na diversidade de suas cozinhas: restaurantes estrelados e botequins de “raiz”, que convivem lado a lado enquanto filas de pessoas ávidas por uma boa comida e um bom momento se formam no lado de fora – e eu sou uma delas!

Nos episódios sobre a gastronomia e a vida cultural do Rio de Janeiro para o nosso programa CNN Viagem & Gastronomia esbocei uma lista de restaurantes que queria conhecer com a ajuda de amigos. Mas adivinhe? Acabei voltando para casa com uma lista maior do que quando fui – o que frequentemente acontece em minhas viagens.

O interessante é que, em minha imersão pela gastronomia das melhores casas da cidade, pude me encontrar com diversos chefs, que compartilharam seu dia a dia e me deixaram acompanhar de perto suas habilidades no fogão. Para mim, o Rio também é isso: um bem-vindo encontro de pessoas e ideias.

Enquanto casas já tradicionais seguem ocupando seu merecido espaço, em todos os cantos da cidade pipocam novidades gastronômicas dignas de nota e de elogios. Com fome? Então embarque comigo nessa jornada por algumas das cozinhas mais badaladas do Rio de Janeiro que visitei durante as gravações.

Estrelados

Mee e Cipriani – Copacabana Palace

O Mee tem traços pan-asiáticos e serve pratos frios, com seleção de sashimis e niguiris com peixes do dia, até carne wagyu / Daniela Filomeno

Ícone da hotelaria e personagem importante do Rio, o Belmond Copacabana Palace possui dois restaurantes estrelados pelo Guia Michelin. Um deles é o Mee, cuja cozinha comandada por Cassio Hara serve uma incomparável fusão pan-asiática, com traços culinários da Tailândia, Vietnã, Camboja, Japão, Coreia, entre outros. O restaurante só abre no jantar e o menu tem desde pratos frios, com seleção de sashimis e niguiris com peixes do dia, até carne wagyu.

Mas um dos pontos altos é o omakase do chef, ou seja, o menu-degustação. Sentei no balcão do salão de cores preta e vermelha enquanto o chef preparava o que havia de melhor no dia na minha frente. É especial e muito apetitoso. Entre as delícias, bluefin, vieiras, polvo e barriga de porco são algumas das especialidades.

Outro estrelado, o Cipriani tem sotaque italiano e é comandado pelo talentoso Nello Cassese, que veio de Nápoles, sul da Itália. O ambiente elegante conta com janelões com vista para a icônica piscina do hotel, mas é dentro da cozinha que os comensais podem experimentar o outro lado da casa.

Localizada junto do vai e vem dos fogões, a “mesa do chef”, como é batizada, tem apenas seis lugares e nos recebe para uma degustação dos pratos mais exclusivos do cardápio, com um menu-degustação de dar água na boca que inclui carnes, peixes e massas das mais deliciosas. A harmonização é pensada para cada cliente e os produtos importados, nacionais e sazonais são um convite para descobrir a Itália de um jeito diferente.

Avenida Atlântica 1702, Copacabana – Rio de Janeiro, RJ. 

Oteque

Corte de atum bluefin servido no Oteque pelas mãos do chef Alberto Landgraf / Daniela Filomeno

Com duas estrelas Michelin e no top 50 da América Latina do The World’s 50 Best, o aspecto moderno-industrial do Oteque chama atenção de cara. A casa é comandada pelas mãos de Alberto Landgraf na gastronômica rua Conde de Irajá, em Botafogo, e sua culinária tem como base um estilo naturalista, que foca em vegetais, frutos do mar e peixes. Buscando os melhores ingredientes com técnicas modernas, os sabores naturais são bem realçados, o que se comprova no menu-degustação, cujos ingredientes podem mudar diariamente.

Para começar, Alberto me serviu um delicioso bluefin e, depois, retirou uma ostra do aquário ao nosso lado para servir da maneira mais fresca possível, assim como comi uma sardinha que, por sorte, tinha chegado naquele dia ao restaurante. Como ele mesmo me disse, seus pratos sempre trazem três elementos: textura, acidez e temperatura, imprimindo um estilo bem equilibrado. Imperdível!

Rua Conde de Irajá, 581, Botafogo, Rio de Janeiro – RJ. 

Lasai

Sobremesa da casa que leva coalhada, morango, amora e aveia / Daniela Filomeno

Dono de uma estrela Michelin e também estabelecido na Rua Conde de Irajá em um sobrado histórico, o Lasai foi o primeiro restaurante a ter uma horta própria de onde retira suas matérias-primas, antes mesmo do conceito farm to table estar na moda. Despretensiosa e delicada, a cozinha do chef Rafael Costa e Silva pode ser descrita como carioca urbana, como ele mesmo me afirmou, mas possui um requinte ímpar.

Produtos locais e do dia a dia, sem importações, seguem rigorosos ideais de sazonalidade e transformam-se em obras-primas no menu-degustação, única modalidade para experimentar os sabores da casa. Peixes como lula e robalo, assim como costelinha de porco e outras carnes, misturam-se a vegetais frescos como abobrinhas, rabanetes e beterrabas das duas hortas que o restaurante detém.

Rua Conde de Irajá, 191, Botafogo – Rio de Janeiro, RJ. 

Botecos e casas clássicas

Boteco Rainha

Daniela Filomeno toma chope e aprecia o torresmo do Boteco Rainha, carro-chefe da casa / CNN Viagem & Gastronomia

Já tido como um ícone do Rio, o Boteco Rainha é inspirado nos botecos de antigamente, aqueles que eram bar-restaurante, em que o cardápio prioriza frutos do mar. Na Dias Ferreira, no Leblon, as mesas são disputadas e o chef Pedro Artagão faz bonito com sua proposta.

Junto de uma tulipa de cerveja gelada, o Rainha é tipicamente carioca mas com um pezinho português. Experimente a punhetinha de bacalhau (sucesso nos bares da cidade e de Portugal), mas deixe espaço para o torresmo, carro-chefe da casa feito num forno que nunca apaga.

Rua Dias Ferreira, 247, loja B, Leblon – Rio de Janeiro, RJ

Jobi

Chope cremoso e gelado na tulipa junto de tiras de pães com carne e queijo, combinação simples e deliciosa do Jobi / Daniela Filomeno

Digo que o Jobi é a cara do Rio. Situado no Leblon desde 1956, é um dos endereços mais concorridos do pedaço, em que o boteco tem mesas forradas com toalhas xadrez e preserva tradições. O chope na tulipa é bem tirado e cremoso, que acompanhado de um pão francês com carne e queijo é um abraço – aquela combinação simples e deliciosa.

Empadas de frango, camarão e palmito, assim como bolinho de bacalhau também são pedidos clássicos e igualmente apetitosos. Peixes, frutos do mar, carnes variadas e tudo de melhor que um verdadeiro bar tradicional tem são algumas das várias opções do Jobi.

Avenida Ataulfo de Paiva, 1166, Leblon, Rio de Janeiro, RJ

Café Lamas

Com 147 anos de história, o Café Lamas foi aberto em 1874 e foi um tradicional ponto de encontro de intelectuais, políticos, escritores e músicos em pleno Largo do Machado, no Flamengo. Uma variedade de carnes, peixes, frutos do mar e petiscos compõem o cardápio. Pratos do dia também são opções oferecidas durante a semana. Seja qual for a escolha, não esqueça da cerveja gelada de acompanhamento.

Rua Marquês de Abrantes, 18a, Flamengo, Rio de Janeiro – RJ

Cachambeer

O Cachambeer é um dos bares populares mais alegres do Rio, com pessoas com copos de cerveja na mão em torno das costelas à bafo que assam na calçada da Rua Cachambi, no Zona Norte da cidade. Propriedade do simpático Marcelo Novaes, o chope “abaixo de zero” e a costela são, inclusive, os dois itens mais famosos de botequim. Os pastéis recheados de costela e de carne, assim como filet mignon de aperitivo, também caem bem.

Rua Cachambi, 475, lojas A e B, Cachambi, Rio de Janeiro – RJ

Confeitaria Colombo

Coxinha está entre os salgados clássicos da Confeitaria, que tem ainda bombas de chocolate entre os doces / Daniela Filomeno

Entrando na seara dos clássicos, a Confeitaria Colombo fica no coração da capital, no centro, e já é como uma atração turística no Rio: fundada em 1894, é patrimônio cultural e artístico da cidade. Estar lá é como viajar no tempo e sentir um gostinho da Bella Époque com sua arquitetura com toques Art Nouveau e vitrais.

São inúmeras as opções do cardápio, desde cafés da manhã completos, sanduíches e pratos frios. Entre os salgados, a coxinha é pedida certa, assim como as empadas e folhados. A parte de confeitaria também é especial, como a éclair de brigadeiro com café.

Rua Gonçalves Dias, 32, Centro – Rio de Janeiro, RJ

Inspirações internacionais

Sult

Cogumelos “cacio e pepe” da casa, servidos com fonduta de pecorino romano / Daniela Filomeno

A moderninha e simpática casa do Sult tem mesas próximas e garrafas de vinhos espalhadas pelo ambiente. Abriu um pouco antes do início da pandemia e, de cara, arrematou burburinho e filas de espera. Nelson Soares, o chef proprietário, serve um cardápio sucinto parecido com uma trattoria italiana, a qual arranca elogios e tem influências de suas raízes nordestinas.

Entre as pedidas, os cogumelos “cacio e pepe”, grelhados com fonduta de pecorino romano, são ideais para começar e entender a casa. Burrata e carne cruda com avelãs e grana padano estão também entre as entradas; já o fregola com polvo e tutano, o milanesa de vitelo com purê de cará roxo e o filet de pirarucu fresco com risoto de tucupi e jambu destacam-se entre os principais.

Rua Fernandes Guimarães, 77, Botafogo, Rio de Janeiro – RJ

Spicy Fish

Criações especiais da casa, que levam barriga de salmão apimentado, atum com foie gras, vieiras canadenses e salmão com gema de codorna/ Daniela Filomeno

Asiático novíssimo na cena gastronômica do Rio, o Spicy Fish abriu as portas em Ipanema e já é um hotspot na cidade, o qual apresenta uma culinária saborosa com decoração inspirada numa “Ásia tropical”. Descontraído e ao mesmo tempo elegante, a casa na Rua Maria Quitéria tem até um rooftop com vista para a Praça Nossa Senhora da Paz.

Quem está à frente da cozinha é o chef Emerson Kim, que me serviu peças especiais da casa, os chamados House Specials. Entre as criações apetitosas, estão djou de salmão e gema de codorna maçaricado; niguiri de barriga de salmão apimentado maçaricado com toque de flor de sal; arroz de sushi envolto de atum com foie gras e mel de yuzu e niguiri de vieiras canadenses maçaricadas e finalizadas com mel trufado.

Rua Maria Quitéria, 99, Ipanema – Rio de Janeiro, RJ. 

Descontraídos

Clássico Beach Club

Daniela Filomeno relaxa no Clássico Beach Club, loca de encontro entre gastronomia e esportes nas areias da Barra / CNN Viagem & Gastronomia

Pé na areia, prática de kite surf, drinques e comidinhas bem feitas. Esta energia do Rio é refletida no Clássico Beach Club, com algumas unidades reservadas e descontraídas espalhadas pela cidade que reúnem esporte, entretenimento, gastronomia e arte. A primeira unidade fica na Barra da Tijuca, que possui mesas e cadeiras na areia da praia, DJ, e até cantinho “instagramável”.

O café da manhã, com avocados, omelete e tapioca, é servido até 12h. Depois, comidinhas leves e deliciosas saem da cozinha, como saladas, ceviches, salmão tartar trufado e tartar de atum com abacate. Parada ideal para um encontro casual e divertido com as amigas!

Avenida do Pepê, s/n, Posto 02, Barra da Tijuca – Rio de Janeiro – RJ. Consulte outras unidades no site. 

de Lamare Gastrobar

Outro quiosque superdescontraído, com comidas e drinques de qualidade e pé na areia é o de Lamare, em Ipanema. Em minha viagem ao Rio para gravar o CNN Viagem & Gastronomia acabei reunindo amigas da cidade para conferirmos esta novidade concorrida no Posto 8.

O cardápio é assinado pela chef consultora Lelena Cesar, em que os tiraditos de salmão ou peixe branco e os pastéis de camarão bem recheados caem bem com dos drinques refrescantes do menu.

Os pratos principais, com peixes e frutos do mar, também satisfazem e são como “vitrines do mar”, que está logo à nossa frente. Uma dica é esticar o programa em Ipanema até o pôr do sol, um dos mais lindos da vida.

Avenida Vieira Souto, 110, Posto 8, Ipanema – Rio de Janeiro,RJ

Bão Culinária Afetiva

Panceta, croqueta de porco, coxinha recheada de frango com quiabo e crock galinhada a cavalo são algumas das delícias do Bão / Daniela Filomeno

O Bão é definido por apenas um tipo de cozinha: a afetiva. Isto é o que propõe o chef Kiko Faria, que já teve passagem pelo grupo Fasano antes de dar o pontapé no restaurante próprio que mistura comida mineira com raízes italianas. O negócio nasceu como um delivery, que continua sendo o chamariz do Bão, mas a sobreloja na rua Raimundo Correa, em Copacabana, abriu espaço para uma única mesa, transformando a casa em um endereço exclusivo e seletivo para aqueles que querem ter uma refeição especial ao lado da movimentação do chef.

É como um achado na cidade, quase escondido. À mesa, panceta, croquete, ovinho de codorna e coxinha bem recheada. Para mim, é o real significado de tanto faz. Interessante é que o negócio divide espaço com outro restaurante, o Haru Sushi, casa de comida japonesa do chef Menandro Rodrigues Amaral e Almeida. Piraúna com ovas de tainha curada, atum com foie gras e manga e usuzukuri de peixes brasileiros estão entre as pedidas.

Rua Raimundo Corrêa, 10, Sobreloja, Copacabana – Rio de Janeiro, RJ

Flor do Céu

Escabeche de funcho com polvo e pasta de berinjela do Flor do Céu / Daniela Filomeno

No alto da Chácara do Céu, comunidade dentro do Parque Penhasco Dois Irmãos, no Leblon, o Flor do Céu tem vistas lindas para as águas do mar. Existente desde 2016, a proposta é oferecer refeições na varanda junto de bons sabores, em que os ingredientes são frescos da feira e vindos também de comunidades periféricas.

Aberto apenas mediante reservas e com lugares limitados, a empreitada serve menus-degustação descomplicados de cinco tempos com foco em peixes, frutos do mar, sendo duas entradas, dois pratos principais e uma sobremesa. No dia de minha visita, escabeche de funcho com polvo e pasta de berinjela foi uma das bem executadas entradas. Massas em processo de preparo também ficam à nossa vista.

Rua Aperana,200, Via Primavera S/N, Chácara do Céu – Alto Leblon, Rio de Janeiro – RJ