Bocas del Toro: as águas cristalinas e a imensidão verde do Caribe do Panamá

Esse refúgio pé na areia na América Central, preza pela sustentabilidade, garante banhos refrescantes, possui hotéis de inspiração asiática e um agito descontraído em sua capital

Daniela Filomenodo Viagem & Gastronomia

Bocas del Toro, Panamá

A apenas 45 minutos de avião da Cidade do Panamá reside um dos mais belos – e talvez não tão conhecidos – destinos de todo o Caribe. Praias de água azul-turquesa convivem com uma imensidão verde, onde o cenário é inquestionavelmente deslumbrante e os carros dão lugar aos barcos.

Falo de Bocas del Toro, província ao norte do Panamá que faz fronteira com a Costa Rica e é voltado para as águas do mar do Caribe. A região se estende desde as montanhas de florestas nubladas do continente até cadeias de ilhas tropicais.

Alguns números nos ajudam a dar uma noção do que é este lugar: o arquipélago é formado por nove ilhas principais e outras cerca de 200 inabitadas. Os dados apontam também para 52 cayos, ou seja, pequenas ilhas rasas formadas na superfície de um arrecife de coral, e ainda milhares de ilhotas.

Enquanto gravava o CNN Viagem & Gastronomia, pude vivenciar um pouco deste pedaço do paraíso panamenho: para mim, Bocas del Toro é um presente da natureza. Esta parte do Panamá, inclusive, estava na minha lista de desejos há algum tempo e revelo que me surpreendi.

Riquezas naturais

Com tamanha diversidade de paisagens, uma das maiores riquezas de Bocas del Toro é justamente sua biodiversidade.

Aqui, os pilares da preservação e da sustentabilidade são levados a sério, seja nos hotéis requintados, numa fazenda de cacau que é modelo para a região ou ainda no primeiro parque nacional marinho do país.

Este último é chamado de Parque Nacional Marino Islas Bastimentos, o único que preserva uma amostra dos ecossistemas marinhos do mar do Caribe no território do Panamá.

Além de proteger recifes de coral, prados de ervas marinhas e praias de ninhos de tartarugas, o parque também desempenha papel na preservação das florestas insulares e na conservação da Laguna de Bastimentos, única lagoa insular de água doce das ilhas de todo o arquipélago.

Isla Colón e a capital

Transporte no arquipélago é feito através de barcos de uma ilha para a outra / CNN Viagem & Gastronomia

Com uma pegada despretensiosa, a região é um importante polo de ecoturismo no país e, por ser um destino pé na areia, também atrai desde os que procuram por calmaria à beira d’água até mochileiros e pessoas em busca de certo agito – estes últimos mais encontrados na Isla Colón, a principal ilha daqui.

É na sua extremidade que fica Bocas Town, a capital da província de Bocas del Toro. A cidade é lar do aeroporto, que possui voos diários da Cidade do Panamá ou da Costa Rica, e também abriga hotéis, bares, restaurantes e cantinhos animados, estes últimos localizados principalmente em seu centrinho – bom para ser curtido mais à noite.

Assim como todo o arquipélago, Bocas Town carrega um ar descontraído e suas casas coloridas construídas em palafitas sobre o mar garantem certo charme.

Algumas das praias mais interessantes de toda a região encontram-se aqui, como a Playa Estrella, a Playa Bluff e ainda a Isla Pájaros, pequeno afloramento rochoso no extremo norte da ilha que concentra várias espécies de aves.

E antes de arrumar as malas, vale ressaltar que o clima na província de Bocas del Toro varia de acordo com as precipitações. As chuvas podem ocorrer em maiores quantidades nos meses de julho e de dezembro a janeiro; as menores incidências ocorrem em março e do final de setembro a outubro.

Em geral, mesmo que bem quentes, a maioria dos dias é acompanhada de nuvens. A alegria é a mesma, mas quando o sol se espreita entre elas, a vontade de aproveitar os cenários naturais ao redor fica ainda mais forte.

Programas imperdíveis: entre o mar, a floresta e a cidade

Principalmente na área do arquipélago, Bocas del Toro nos reserva um misto muito bem-vindo de atividades em torno da natureza.

Uma vez aqui, consegui aproveitar bem os hotéis onde me hospedei, os quais oferecem tratamentos wellness aliados a instalações caprichadas e gastronomia apetitosa, assim como percorri várias ilhas, que guardam faixas de areia praticamente vazias.

É quase impossível fugir do circuito que visitamos, de várias ilhas e porções de areia do arquipélago.

O transporte entre as ilhas é feito por táxi aquático, embarcações de tours ou barcos privados. Os tours, inclusive, feitos por empresas locais, duram algumas horas e focam geralmente em diferentes pontos do arquipélago, em que variam nos valores por pessoa.

Praias paradisíacas

Por aqui, uma das extensões de areia que faz jus à sua fama é Cayos Zapatilla, que compreende, na verdade, duas pequenas ilhas inabitadas a leste da Isla Bastimentos, fazendo limite com o Parque Nacional Marinho. Uma coisa é certa: a cor da água é estonteante e chega a nos hipnotizar.

É um dos cantinhos mais belos do arquipélago, quiça até “o” mais belo. Em resumo, é tudo que esperamos do Caribe: águas cristalinas frescas, palmeiras, vegetação característica que provê até algumas sombras em dias de sol e areia branquinha.

Aproveitando suas qualidades, as águas daqui são bastante procuradas também para quem curte mergulhar.

Chegamos a Cayos Zapatilla de barco, no esquema que pode ser negociado com as agências locais de visita única ou ainda programada com outras paradinhas ao longo do dia.

Outra praia que não deve ficar fora do roteiro é a Playa Estrella (Starfish Beach, em inglês). Como o nome sugere, além da água transparente, o maior atributo é justamente as estrelas-do-mar que ficam espalhadas pela areia branca e que surpreendem com sua cor laranja.

É empolgante estar entre estes animais marinhos e poder contemplá-los de perto, assim como registrar alguns cliques que ficam na memória para sempre.

Antes vazio, o local, que fica na própria Isla Colón, hoje já possui algumas barraquinhas e quiosques na faixa de areia, o que, em certos momentos, pode atrair muitos turistas de uma vez.

O trajeto até a praia pode ser feito de barco ou ainda através de ônibus até Bocas del Drago, localidade ao noroeste da ilha que fica a alguns minutos de caminhada da praia.

Os passeios imperdíveis ainda compreendem outros dois locais que têm tudo a ver com natureza e animais: me refiro a Isla Pájaros e a Baía dos Golfinhos.

O primeiro é um local que me deixou bastante emocionada, já que é como se estivéssemos testemunhando um espetáculo da natureza bem diante dos nossos olhos. A Isla Pájaros é um pequeno afloramento rochoso de pouco mais de 300 metros quadrados que é um santuário de pássaros tropicais.

Aqui voam e convivem um grande número de espécies de aves que são nativas e migratórias. O local fica ao norte da Isla Colón e é acessado apenas via barco.

Mas atenção: não há uma praia com faixa de areia e não é recomendado subir nos rochedos do afloramento. Aqui, a água azul-turquesa do mar aberto e os animais em seu habitat formam um cenário de comtemplação fantástico.

Já a Baía dos Golfinhos (Bahía de los Delfines, em espanhol) nos presenteia com o nado e o pulo dos golfinhos na maior parte do ano. É numa região específica nas águas próximas à Isla San Cristóbal, a cerca de 20 minutos de Isla Colón, que os barqueiros param as embarcações para que possamos apreciar a movimentação destes animais.

Notamos que a baía possui águas calmas e é cercada por manguezais, o que ajuda a atrair também pequenos peixes e crustáceos. Vê-los sozinhos ou em grupo por estas águas é especial, e nos faz lembrar da diversidade natural e da beleza de Bocas del Toro.

Por fim, uma das melhores maneiras de terminar o dia antes de voltar para o hotel e curtir o centrinho de Bocas Town é apreciar o pôr do sol.

Se há nuvens, os raios solares geralmente conseguem se espreitar entre elas e criar um espetáculo a céu aberto. Caso contrário, o efeito é o mesmo: de admiração.

A sensação é ainda mais encantadora se estiver no barco, em meio às águas do oceano. É maravilhoso!

Fazenda de cacau

Tomando como base os princípios de sustentabilidade e preservação deste pedaço tropical do Panamá, a visita à fazenda de cacau Green Acres Chocolate Farm nos ajuda a entender um pouco mais o que nasce destas terras e qual o caminho a ser seguido para que as maravilhas naturais ao redor permaneçam intactas.

Localizada de frente para a Baía dos Golfinhos, o passeio começa com a ida de barco até a localidade – podemos até ter sorte e avistar alguns dos golfinhos no caminho. Já de longe percebemos a existência de fartos jardins botânicos que cercam a propriedade, um dos pontos altos da visita.

Fui recebida por Gary Mitchell, presidente da fazenda e diretor da Planet Rehab, organização sem fins lucrativos dedicada a proteger ecossistemas ao redor do mundo. Entusiasmado, ele me explicou o processo de se fazer chocolate orgânico na fazenda, em que até dei uma ajudinha na secagem das sementes.

Junto de Gary, o projeto da fazenda ajudou também o entorno: cerca de sete ilhas próximas foram auxiliadas no processo de reflorestamento e nos aprendizados sobre frutas que nascem destas terras – além do cacau, a própria fazenda planta bananeiras e outras árvores cujos frutos são usados em revendas ou cosméticos.

É um trabalho lindo de se ver de perto, e que também podemos contemplar árvores de mais de 300 anos nos jardins tropicais, que continuam intactas graças ao trabalho de zero desmatamento empregado na propriedade.

Um tour de duas horas é oferecido e a história da fazenda é contada em detalhes. A floresta tropical é dissecada em ensinamentos e também tem a visita à “fábrica de chocolate“, onde vemos o cacau sendo transformando em chocolate 100% orgânico – nenhum açúcar é adicionado e nenhuma manteiga de cacau é removida.

A visita custa US$ 20 por pessoa e começa às 10h, salvo às quartas-feiras.

Centrinho de Bocas Town

Caso esteja hospedado próxima ou até mesma na Isla Colón, a dica para curtir a tarde ou a noite é o centrinho de Bocas Town, capital da província. Bares, restaurantes e até casas noturnas descoladinhas se enfileiram por aqui em meio a um clima descontraído.

Se estiver com fome, vale a parada no La Buga Dive and Surf, escola de surfe e de mergulho que abriga um restaurante de frente para as águas. Durante o dia, o local fica aberto no café da manhã e no almoço. À noite, o jantar ganha um charme a mais pelas luzinhas e decoração, assim como recebe um público jovem.

Smoothies, hambúrgueres e pratos de pegada mais caseira com produtos veggie e frescos são as apostas.

Outro ponto de parada delicioso na Main Street, ou seja, na rua principal de Bocas Town, é o Buena Vista: propriedade de uma família local, é ideal para tomarmos uma cervejinha no meio do dia e beliscar nachos, quesadillas e saladas frescas. A casa fica sobre o mar e tem uma tradição na região desde 1997.

Pedaços da Indonésia no Panamá

Dado seu potencial turístico envolto de natureza e baseado nos princípios do ecoturismo, em Bocas del Toro encontramos desde hotéis mais simples na Isla Colón até propriedades sofisticadas espalhadas entre o verde.

Inclusive, é notável que por aqui grandes hotéis de luxo fazem um esforço para trazer novos tipos de turistas, daqueles que não abrem mão da sofisticação mas que, por consequência, acabam ajudando o entorno.

Nesta jornada pelo Panamá pude ficar em dois incríveis hotéis: o Bocas Bali e o La Coralina, ambos com decoração e raízes baseadas em características da Indonésia e que possuem uma pegada mais íntima, onde bem-estar e requinte são levados ao pé da letra.

Bocas Bali Luxury Water Villas

Nomeado oficialmente de Nayara Bocas Bali, o hotel foi inaugurado no ano passado e fica a apenas 15 minutos de barco de Bocas Town. A estrutura dispõe de apenas 16 bangalôs e fica numa ilha particular, a Isla Frangipani. Ou seja, há apenas o hotel em toda a extensão deste território, onde privacidade e intimidade junto do verde são os pontos altos.

Digo que é um convite para viver um refúgio. De inspiração balinesa, as vilas são construídas sobre as águas do mar, as quais possuem mais de 100 metros quadrados e podem ter piscina privativa ou ainda um piso de vidro dentro do quarto que nos possibilita espiar a vida marinha logo embaixo de nossos pés.

Interessante é que os quartos foram montados na Indonésia, desmontados e montados no Panamá novamente. Os quartos sobre o mar lembram Bora Bora, Taiti ou ainda as Maldivas, e não precisamos ir muito longe para desfrutá-los.

Sustentável, o hotel é considerado “off the grid”, ou seja, não depende exclusivamente de sistemas externos. A energia vem de placas solares, a água da chuva é purificada e um sistema de tratamento de águas residuais ecologicamente correto foi projetado para a ilha. As construções sobre a água foram feitas em áreas específicas para evitar interferir os corais.

Só para adultos, o Bocas Bali também é all-inclusive. A Elephant House é onde ocorrem os jantares, com menu com ênfase em frutos do mar, em que comemos ao lado de vigas centenárias. Já o Coral Café fica à beira da piscina e é um ambiente ao ar livre para café da manhã e almoço.

La Coralina Island House

Também uma novidade fresquinha no arquipélago que flerta com decorações da Ásia Tropical, o La Coralina fica na própria Isla Colón, mais precisamente em Paunch Beach. São oito vilas e 23 suítes que compõem o hotel, que é inclinado para práticas de wellness.

É como se estivéssemos chegado em Bali dentro do próprio Panamá: decorações e partes principais da estrutura foram trazidas do país asiático e o jardim principal reflete o estado de bem-estar em meio à natureza. Madeira, tecidos e objetos de motivos asiáticos caracterizam o astral.

Aulas de ioga, massagens, tratamentos e rituais são oferecidos no spa com um menu holístico, e o objetivo do espaço é fazer com que os hóspedes aprendam “sobre seus corpos e mergulhem em si mesmos para descobrir insights e viver uma vida melhor”.

Em um conceito de ar livre, o restaurante principal à beira-mar se baseia nos “sabores da América Latina com o encontro de receitas caribenhas” – portanto, encontramos muitos frutos do mar e peixes.

A praia inclusive, procurada por seu astral elegante e por surfistas em busca de boas ondas, ganhou um beach club próprio do hotel, o La Coralina Beach Club, que oferece jantares casuais debaixo dos coqueiros em uma clima despreocupado pé na areia.