Entre campos de lavanda, fábrica da L’Occitane en Provence carrega a essência da região

Originária da região, a marca francesa, fundada em 1976 e presente em 90 países, tem no cuidado com as plantas e na valorização dos pequenos produtores suas maiores riquezas

Daniela Filomeno na fábrica da L'Occitane en Provence em Manosque, comuna na Provence
Daniela Filomeno na fábrica da L'Occitane en Provence em Manosque, comuna na Provence CNN Viagem & Gastronomia

Daniela Filomenodo Viagem & Gastronomia

Provence, França

É inevitável o encontro com cenários idílicos e pitorescos ao percorrermos as estradas que cortam a Provence. Campos de lavanda, de trigo, plantações de verbena, de ervas aromáticas e de plantas medicinais brotam dessas terras e nos colocam em contato direto com um modo de vida rural.

O tempo parece passar sem pressa nesta parte do sul da França e os princípios se condensam em um só: o cuidado com a terra e com as pessoas.

Em meio aos perfumes, aos sabores, às cores e às texturas que só a Provence tem, uma das lições mais significativas que aprendemos aqui é a relação de zelo entre o campo e os que dependem dele.

Quando visitamos a Provence percorremos, na verdade, uma região repleta de pequenas cidades que nos oferecem uma celebração em torno da boa mesa e hospedagens que nos conectam com a história e a vida local.

O sentimento de estar aqui nos remete ao interior, com a zona rural sendo o coração deste vasto território. E quem está no centro desta história são os pequenos produtores, os quais são motivados por preceitos sustentáveis e carregam o fator humano no processo – ingrediente que faz toda a diferença.

Além dos queijos, dos pães, dos embutidos e das outras delícias gastronômicas que abastecem as feiras livres da cidade de Aix-en-Provence e restaurantes locais, por exemplo, as plantas aromáticas também se destacam.

Os produtores

“Para nós, cuidar da natureza é algo essencial, que significa, por um lado, respeitar os vivos, então tentar, se possível, preservar o que já existe”, me conta o agricultor Philippe Mary durante nossa visita à sua propriedade.

Ele toca a fazenda junto de Magalie Mary, sua esposa, e a verbena nasce de suas terras. Arbusto típico da bacia do Mediterrâneo, a verbena é a mais cítrica e uma das mais aromáticas ervas da Provence.

A propriedade do casal é entremeada por bosques e florestas, num sistema que esbarra no conceito de agrofloresta. “Tentamos equilibrar os ambientes para que haja insetos, animais e plantas para que possam viver em harmonia. Tudo isso permitirá regenerar a vida e equilibrar um pouco o ambiente”, afirma Magalie.

Bastante apreciada na indústria dos cosméticos, a verbena plantada pelo casal é vendida para uma marca que também é filha destas terras. Refiro-me à L’Occitane en Provence, empresa que desenvolve produtos de beleza e fragrâncias naturais com óleos essenciais.

Sediada na comuna de Manosque, a 55 km de Aix-en-Provence, a L’Occitane en Provence tem contrato com diversos produtores locais – são 130 ao todo na França – que fornecem a matérias-primas para a empresa, a qual, ao mesmo tempo, destina uma atenção minuciosa a estes colaboradores.

“Com a L’Occitane en Provence temos uma relação privilegiada. Eles levam isso em consideração e nos pagam muito bem pelo trabalho que fazemos e, portanto, nos permite produzir uma boa verbena em Provence”, revela Philippe.

A L’Occitane en Provence

L’Occitane foi fundada em 1976 pelas mãos de Olivier Baussan com uma produção voltada aos sabonetes / CNN Viagem & Gastronomia

Desde que foi fundada em 1976, a L’Occitane en Provence tem como motor a sustentabilidade e o olhar atento à biodiversidade. O cuidado com o ingrediente, desde sua origem, é visto de perto e melhor entendido quando pisamos de fato na Provence.

Ao vagar pelas plantações daqui, sentimos aromas e atrelamos histórias. Assim, digo que a L’Occitane en Provence traduz esta terra por meio de seus produtos.

Fundador da marca, Olivier Baussan tem, desde os primórdios da empresa, a responsabilidade em olhar para as pessoas e para o meio ambiente ao redor, os quais possibilitam transformar as riquezas deste solo em cosméticos admirados pelo mundo.

“A ideia da L’Occitane no início eram as plantas. Então era para captar o que estava nas plantas e poder oferecer ao público”, relata o fundador em conversa pela sede da marca em Manosque enquanto gravava o CNN Viagem & Gastronomia.

Hoje, após quase 50 anos de história, a empresa tem em seu portfólio principal perfumes e produtos de beleza, os quais são fabricados no sul da França e vendidos em cinco continentes, em mais de 1.500 lojas próprias em 90 países.

“Tenho uma frase que gosto muito de dizer: o importante é saber oferecer às pessoas em pé o que só se encontra de joelhos. Você tem que saber ser humilde e respeitoso e, ao mesmo tempo, saber mostrar produtos, indo buscar dos mais velhos receitas antigas para poder dizer: ‘bem, aqui estamos associando o passado e o presente’. E a melhor forma de respeitar o futuro é entender o passado”, completa Baussan.

L’Occitane en Provence

Lar de cerca de 20 mil habitantes, a comuna de Manosque, a quase 35 minutos de carro de Aix-en-Provence, mantém um caráter bem provençal, principalmente em seu centrinho pacato, o qual conta com casinhas e construções que parecem ter saído de um filme.

A fábrica original da L’Occitane fica aqui, no entorno da cidade, e nos reserva um mergulho pelas práticas e pela história da marca. A sede abrange fábrica, um jardim mediterrâneo e loja-museu com os cosméticos da empresa.

Para quem deseja conhecer mais sobre os processos que as plantas passam desde a colheita no campo até se transformarem em óleos essenciais e consequentemente em cremes, sabonetes e perfumes, a visita guiada à fábrica é uma boa pedida.

Somando 48 mil m² de área e empregando cerca de 800 funcionários, a fábrica é dividida em diferentes espaços, e o passeio nos leva até oficinas de produção, onde podemos checar como as fórmulas são combinadas, como os produtos são manufaturados e até como são embalados – são cerca de cinco milhões de unidades embaladas por ano.

Há também uma área onde podemos cheirar algumas fragrâncias e perfumes. Com duração de uma hora, o tour custa cerca de 5 € por pessoa em grupo – a tarifa individual sai por 6 €.

As visitas acontecem sete dias por semana de abril a outubro e de segunda a sábado de novembro a março.

Daniela Filomeno no jardim mediterrâneo da L’Occitane, que possui espécies selvagens e cultivadas / CNN Viagem & Gastronomia

Logo em frente à fábrica fica o jardim mediterrâneo, um espaço natural repleto de espécies selvagens e cultivadas que despertam nossos sentidos.

Algumas delas, como a lavanda, a verbena e as amêndoas, são usadas nos cosméticos da empresa e nos fazem relembrar o cuidado com a origem e com a matéria-prima estabelecida pela L’Occitane.

“Na verdade, quando falamos de biodiversidade sempre falamos de natureza, por um lado, e de agricultura. Quando estamos emum lugar como aqui, podemos ver que aqui é selvagem, aqui é cultivado. E, de fato, tudo funciona junto”, frisa Jean Charles Lhommet, diretor de biodiversidade e de ingredientes sustentáveis da L’Occitane.

Em consonância com o que a empresa de fato prega e realiza, ele ressalta que os produtores têm um papel intrínseco no processo.

Não se trata apenas da lavanda. É a lavanda e o conhecimento dos agricultores e uma paisagem que é magnífica porque está integrada à natureza

Jean Charles Lhommet

A lavanda, inclusive, é, por muitas vezes, referida como o “ouro azul” da Provence, tamanho impacto dos famosos campos na economia local e também no turismo. Para os que quiserem de fato visitar abastados campos de lavanda – e de quebra registrar belos cliques – a dica é dirigir até Valensole.

Distante aproximadamente 10 minutos da fábrica, a pequena comuna abriga o plateau de Valensole, que são os campos de lavanda de acesso livre e que exalam perfumes acolhedores. Todos os verões, as plantações florescem e encantam os milhões de turistas que passam por aqui.

Daniela Filomeno entre campos de lavanda da Provence, considerada o “ouro azul” da região / CNN Viagem & Gastronomia

Passado, presente e futuro

A fábrica da L’Occitane em Manosque ainda abriga uma loja-museu com todas as linhas da marca. Dispostos nas prateleiras, alguns produtos também nos narram a história da L’Occitane, como os primeiros sabonetes, cremes e cosméticos com os óleos essenciais.

Para os animados com as compras, uma boa notícia: todos os produtinhos possuem 10% de desconto em relação aos outros estabelecimentos oficiais da marca.

Daniela Filomeno na loja da fábrica da L’Occitane em Manosque / CNN Viagem & Gastronomia

Por falar em passado, do lado de fora fica a engenhoca original que Olivier Baussan usava no campo de lavanda: é um destilador a vapor que extraía o óleo essencial puro, a “alma da planta”, segundo o fundador – há até uma foto ao lado da máquina em meio à plantação para que possamos ter uma ideia de como era feito o trabalho.

“É a obsessão de nossa marca de sempre entender melhor a natureza, para trazer o melhor depois dentro de nossos produtos”, diz Nicolas Geiger, CEO da L’Occitane en Provence para as Américas.

Na visita ao jardim da fábrica, ele me contou sobre a atenção redobrada que a empresa tem com os ingredientes que saem da região.

“Todas as nossas linhas se baseiam sobre ingredientes. Porque a qualidade da matéria-prima é essencial para ter um produto de qualidade”, completa.

Para o futuro, Olivier Baussan me contou que a ideia é ampliar a concepção da fábrica para que o entorno se torne um circuito turístico. A adição de um jardim de borboletas está nos planos: além de belas, a intenção é mostrar o impacto destes insetos na polinização.

O circuito ainda pretende abranger um château próximo, um jardim medieval e ainda uma fábrica de caramelo. Mas por que caramelo?

“O caramelo é uma tradição antiga de confeiteiro, e a Provence fazia muita confeitaria, e fazia também muito caramelo. Há os berlingots (doce típico francês), massas de frutas, torrones e caramelos”, explica Baussan, que já possui uma máquina de 1968 para a produção do doce.

Seja em meio aos aromas da Provence ou até mesmo com seus doces, fato é que a região nos encanta nos mínimos detalhes, assim como o tratamento e o tato com a terra nos conecta a um modo de vida mais simples: sem pressa e com muita elegância.